Capítulo Dois

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"Capoeira (...)

É aceitar o desafio

Com vontade de lutar

A capoeira

É um barco pequenino

Solto nas ondas do mar..."

UMA VEZ - Mestre Tony Vargas

Cício vestiu a camiseta e a calça branca, prendendo cuidadosamente a corda na cintura com um nó. Vestir-se para jogar capoeira era uma espécie de ritual para ele, algo que fazia com total atenção e respeito.

Aliás, tudo o que envolvia a capoeira despertava dentro dele uma postura diferente, um simples treino no quintal de casa tinha significado profundo de aprendizado e contato com seu mais íntimo e verdadeiro eu.

A capoeira tinha aquela magia. Era muito mais do que um esporte, uma luta. Era uma filosofia de vida, que lhe fora apresentada quando tinha apenas quinze anos de idade e passou a fazer parte da sua própria essência.

Ele não seria capaz de descrever o encantamento que sentiu na primeira vez que participou de uma roda de capoeira. Foi nas margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, há quatro anos.

Havia saído para passear de bicicleta e visualizou uma reunião de pessoas em roda, tocando uma música envolvente em instrumentos musicais diferentes, que ele nunca tinha visto antes.

A curiosidade o invadiu e o garoto se aproximou lentamente, com medo de que sua presença pudesse estragar o momento mágico que estava sendo vivido ali.

A maioria das pessoas estava usando roupas claras, largas. Estavam organizados em um círculo e no centro, dois integrantes executavam uma espécie de luta, mas que, em função da música, assemelhava-se a uma dança.

O resto do mundo desapareceu para Cício e ele assistiu a tudo com verdadeiro deslumbre. As pessoas que se aproximavam do centro - sempre de duas em duas - se agachavam uma em frente a outra e realizavam um cumprimento respeitoso com as mãos.

Em seguida, iniciava uma sequência de golpes com braços e pernas, giros e cambalhotas. Era tudo incrível e o rapaz ficou maravilhado.

Assim que a apresentação acabou, todos se cumprimentaram e abraçaram, rindo e conversando como velhos amigos.

Cício quis ser amigo deles. Desejou se tornar um deles e participar daquele universo mágico e encantador. Foi quando ele conheceu seu mestre, aquele que seria seu mentor para a vida inteira: mestre Sombra.

Ele era um homem alto, com pernas longas que pareciam combinar com o oficio que escolhera e davam a impressão que era ainda maior. Seu sorriso era contagiante e seu olhar dava a sensação de que devia ter a habilidade sobrenatural de enxergar a alma das pessoas.

Cício começou a treinar com mestre Sombra todas as semanas, por dois anos seguidos. Depois disso, ele recebeu do mestre a autorização para ensinar o ofício da capoeira para outras pessoas. Essa era uma das partes mais prazerosas, para Cício.

Ele iniciou um projeto de capoeira em algumas comunidades carentes e favelas do Rio, dando aulas gratuitas para crianças e adolescentes. Mestre Sombra o acompanhou no início, mas logo o deixou caminhar com suas próprias pernas.

Apesar disso, Cício continuou treinando com o mestre semanalmente e participava de todos os eventos de batizados ou rodas de capoeira que conseguia.

Naquela tarde, haveria uma roda no Parque dos Patins, que ficava às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, o mesmo local que Cício tivera sua primeira experiência com a capoeira.

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