O trajeto até a empresa foi no total silêncio. Nenhuma de nós falamos nada, apenas o rádio, que passava alguma notícia, falava por nós. Ela me deixou na entrada da empresa e eu disse que falávamos-nos mais tarde.
-- Bom dia, Havena. - Acenei a cabeça carregando um pequeno sorriso correspondendo o cumprimento de Lisandra. -- Temos reunião com a patroa daqui à... - Ela olhou seu relógio de pulso antes de dar continuidade. -- ...quinze minutos.
-- Logo de manhã cedo. - Resmunguei pondo minha bolsa em cima da mesa.
-- É, logo de manhã. - Lisandra riu levemente achando graça da minha bendita expressão.
-- Sabe quem estará presente dessa vez? - Perguntei interessada, ligando o notebook a minha frente e me sentando.
-- Os patrocinadores, e sócios... - Ela pos a mão no queixo pensando sobre algo. -- E o filho da Julie.
Parei o que estava a fazer e encarei Lisandra.
-- Aquele cara? - Não pude esconder minha súbita indignação.
-- Aquele cara é o nosso chefe e filho de Julie. - Lisandra me avisou como se eu não soubesse.
-- Eu sei. - Disse meio óbvia com um leve incômodo de saber que ele daria as caras depois de tanto tempo sem aparecer na empresa nem ao menos para cumprimentar os funcionários.
Daniel... Esse era o nome dele. Verdadeiro conquistador barato, arrogante e debochado, intolerante só porque era filho da chefe podia fazer o que quisesse com tudo e todos.
Principalmente à mim...
Tivemos um casinho quando entrei na empresa. Algo meio rápido e enrolado, nada de compromisso sério, apenas sexo. O caso acabou vindo à tona depois que ele sumiu e não me deu ao menos um "Tchau! Gostei das nossas noites.", ele, literalmente, sumiu. Nem Julie sabia do paradeiro do próprio filho. Mas depois de um tempo ela acabou sabendo onde o bendito safado estava e ficou tranquila. Exatamente. Se eu fosse mãe ficaria desesperada atrás da pessoa quem gerei. Só que ser Daniel tinha suas enormes vantagens.
E hoje, ele teria a vantagem de aparecer e esfregar na minha cara aquele sorriso maldito como se não me conhecesse, como fez um mês atrás quando veio na empresa em procura de sua mãe.
Seria cômico senão tivesse acontecido comigo.
Logo comigo.
Tinha uma capacidade enorme de atrair cafajeste na minha vida. Até um ano atrás eu estava noiva. Exatamente. Noivíssima.
Aconteceram vários casos para que eu não me casasse mais.
Cinco anos atrás eu presenciei uma cena horrível, Fernando estava me traindo com uma mulher mais rechonchuda que eu. Eu sei, ele é homem e tem suas necessidades, mas ele me tinha para matar seu desejo e ele não tinha motivos para se esfregar com outra. Eu cheguei na sala dele sem avisar, eu fui a errada, mas se eu estivesse avisado que estaria indo o visitar naquela tarde, eu hoje estaria com um cara que me traía todos os dias com a vaca da Lúcia. Quando eu cheguei na sala dele, ah, meu amor, os dois ficaram brancos ao meu ver.
Flashback on
-- Porque você fez isso? - Gritei e ele se assustou com o meu tom de voz.
-- Lúcia, por favor saia, preciso conversar com a minha noiva. - Pediu que a Lúcia saísse e assim ela ia fazer se eu não tivesse dito algo.
-- Não, Lúcia. Você fica! Eu é quem vou embora. A partir de hoje não temos mais nada em comum, muito menos um casamento marcado. Amanhã mesmo você passe lá em casa para pegar suas coisas e vamos desmarcar o que marcamos para mês que vem. - Falei calma, pois eu não iria mostrar fraqueza na frente dele, eu teria que mostrar que sou forte o bastante para enfrentar essa situação sozinha. Não demonstrei em momento nenhum que eu estava abatida com aquela cena, pois quem eu queria enganar? Eu estava péssima. Me senti mais livre depois desse peso que acabei de tirar das costas que se chamava Fernando e acho que isso foi o auge para que eu tivesse em pensamento que jamais seria capaz de AMAR OUTRA VEZ.
-- Deixa eu pelo menos te levar em casa, e quando você estiver calma conversamos. - Ele propôs de um jeito cauteloso.
-- Não, a única coisa que eu quero que você faça, é sumir da minha vida de uma vez por todas. - Respondi em um tom mais alto com a voz embargada. Eu não esperava sair da minha boca uma frase dessa um dia, por causa do meu estado eu estava mais determinada a terminar com aquilo do que o normal. Ele assentiu. E eu achando que ele era o certo.
Flashback off
-- Ou? - Saí dos devaneios com Lisandra estalando os dedos na minha frente. - Ainda tá aí? - Ela perguntou retoricamente sorrindo para mim.
-- Claro! Em carne e osso. - Ri forçado.
-- Eles chegaram... - Ela deixou as palavras soltas no ar como se tivesse tendo um ataque. Quem deveria estar tendo era eu. -- Vamos? - Me perguntou e pegou seus papéis de cima da mesa.
Eu fiz o mesmo e peguei outra pasta na mesa. Me levantei, pegando caminho até a sala de reuniões com Lisandro no encalço.
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Amar Outra Vez (Parada)
RomanceSempre fazendo planos para o futuro, e sendo surpreendida pelo presente. Capa feita por @KahSilvah