Casa

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Nada nessa vida é de graça. O que muda é o valor que cada um pode pagar pelas coisas, e eu sempre odiei fazer compras por isso, por querer levar mais do que cabe no meu carrinho. Se você coloca dois refrigerantes de 3 litros em uma sacola, tenha certeza que ela vai estourar e te deixar na mão no meio do caminho. É assim que me sinto com o mundo, sempre tentando aumentar o peso nas minhas costas para as outras pessoas não estourarem suas sacolas antes de chegarem em casa, mas nem sempre foi assim.
Há pouco tempo me mudei para a maior cidade do país e isso não é legal. Parece que quanto mais gente fica em algum lugar, mais esse lugar fica vazio, e por isso chamo essa cidade de fantasma, ninguém sabe da existência do outro e mesmo assim preferem ficar em grupo do que sozinhos, vai entender.
Três anos atrás aconteceu algo que me fez mudar de casa, de nome, de escola, de vida. Sabe no primeiro dia de aula, quando a professora pede para você contar o que aconteceu nas férias? Então, eu morri nas férias. Vou tentar explicar tudo, pelo menos tudo que eu consigo explicar. Essa história não tem só um lado. Essa história é um quebra-cabeças, cheio de coisas que não se encaixam e de momentos que eu não lembro muito bem.
De vez em quando eu não sei mais quem sou. Acho que todos passamos por essa fase em algum momento da vida, e se reconhecer parece fácil, mas não é. O espelho mente, e ainda não inventaram algum objeto que possa refletir quem você é de verdade. Cascas são jogadas no lixo todos os dias, o que fica intacto é o que está por dentro, não dá para maquiar alma.

EstelaOnde histórias criam vida. Descubra agora