Amnésia dissociativa: Esse é termo que não canso de escutar para explicar a razão pela qual não consigo lembrar de mim, é um tipo de bloqueio de memórias importantes que se manifesta quando você passa por um trauma ou estresse muito grande. Porém pelo que eu li sobre essa condição, geralmente as lembranças são recuperadas totalmente em poucos dias ou meses com tratamento intensivo e psicoterapia. Pois bem, meu primeiro flash de recordação veio apenas seis meses após o dia que mudou a minha vida. Nesses três anos consegui lembrar de poucas coisas, de muita importância é verdade, mas não consigo recuperar a vida antes daquele dia 2.
Tudo começou (ou terminou) no meu aniversário de 15 anos, não me lembro muito bem da ordem exata dos acontecimentos daquela festa, dói demais lembrar. Meu nome de registro é Caroline, ou Carol para quase todo mundo. Até aquele dia eu gostava do meu nome, achava ele comum, eu era comum, logo ele combinava comigo. Era meu primeiro ano no ensino médio, e como meu aniversário é em dezembro, fui em todas as outras festas das minhas amigas e a minha seria a última, então tinha que ser a melhor, esse era meu parâmetro de felicidade na época, uma festa mais comentada do que a das minhas amigas. Aquele dia também era importante por outro motivo, exatamente um ano atrás havia conhecido o Léo, meu primeiro amigo de verdade, que algum tempo depois tornou-se o primeiro amor, o primeiro namorado, a primeira saudade, e esse sentimento nunca esquecemos, não importa quanto tempo passe.
Enfim, chegou o grande dia, todos estavam ansiosos, convidei quase toda a escola, ou pelo menos todos que no auge da minha adolescência eram importantes por qualquer motivo fútil. A festa começou antes do planejado, minha mãe disse que não poderíamos ficar até de manhã como eu esperava, então adiantei o horário para ter mais tempo. Naquele dia acordei cedo, estava ansiosa e não consegui passar das 8. Um sonho estranho me fez levantar de vez, e como uma fuga saltei da cama, aquilo era só um sonho, nada iria acontecer, era o meu dia, todos que eu amava estariam presentes, era o dia para eu me sentir o centro das atenções.
Não deu tempo de cantar parabéns, a trilha sonora daquela noite foi diferente, sem euforia ou sorrisos, apenas sirenes de ambulâncias e gritos.
A Carol faleceu às 22:56 de 2 de dezembro de 2013.
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Estela
RomanceCacos machucam. Caroline perdeu o pai aos sete, a infância aos onze e a si mesmo aos quinze. As balas não eram de borracha, mas ainda assim serviram para apagar o passado de dor. A frente fria foi embora, mas deixou uma nuvem cinza estacionada no se...