Capítulo 28

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To tell me it's alright
As we soar walls, every siren is a symphony
And every tear's a waterfall

Every Teardrop is a Waterfall
Coldplay

Kate, caso você não conhecesse seu lado sombrio e maquiavélico, facilmente te enganaria, e assim como eu, te persuadiria a pensar que era uma lady inofensiva, com o sorriso inocente — uma breve pausa para analisarmos essa palavra — e a pose de uma mulher recatada. Com as pernas cruzadas uma sobre a outra e as mãos que suavemente se apoiavam sobre os joelhos, detinha o olhar focado no caminho de terra que percorríamos na imensidão da noite.

Se me contassem o que ela tinha passado, não acreditaria. A mulher era uma parede dura e resistente, mesmo recebendo constantes pressões para ser derrubada, sua base era forte e intransponível.

Meu coração parecia uma banda desordenada, mas no caso seria do tipo que é tocada por músicos desengonçados que não tem a mínima noção do que seja ritmo ou compasso.

Não tinha ideia de como seria o tal alemão, cujo único detalhe que era do meu conhecimento se restringia ao seu nome, Franz, e a sua ocupação extremamente importante e vital para o perfeito funcionamento da roleta que girava e girava.

Armas.

— Uma pergunta, por que Franz só aceitou se fosse você a estar presente?

— Ele tem suas peculiaridades e não é todo mundo que tem a permissão de se aproximar, e principalmente, de ser conhecedor do que faz.

— Algum tipo receio com algo que já possa ter acontecido?

— Sim. Já tentaram acusá-lo de fornecer armas de má qualidade e com defeitos graves, o que era mentira, todo seu equipamento passa por um controle de qualidade muito intenso e especializado, e como já havia trabalhado em uma fábrica russa que fornecia armamento para o exército, imagine como é perfeccionista por cada detalhe.

— Mas queriam o que?

— Que por causa disso ele fosse obrigado a diminuir o preço, há um motivo das pessoas ricas continuarem ricas.

— Que seria? — indaguei curiosa.

— São mão de vacas até o último fio de cabelo, capaz de acenarem com a mão fechada.

Típico.

— Só achei intrigante por você ser a exigência.

— Bem, ele tem um lema de não confiar em americanos.

— Explica muita coisa, mas geralmente alguns europeus não vão com a nossa cara, melhor — me corrigi na hora — o mundo todo tem certo ranço com a gente.

— Porque vocês ajudam bastante, convenhamos — me encarou irônica — são legais e babacas simultaneamente. Depois de todo esse tempo aqui e sendo casada com um, preciso abstrair muita coisa.

— Esse nosso sangue é uma praga mesmo — caçoei — mas o conheceu aqui?

— Não — girou o corpo e repuxou a boca — nós nos conhecemos há muito tempo atrás, quando nem pensava em vir para cá e Dylan nem pensava em existir pra mim. Fazia aulas de tiro, como as que te dei, só que num nível mais avançado em um centro profissional em Moscou, conversamos um pouco, trocamos considerações sobre os tipos de fuzis que gostávamos. Claro que percebi que nas entrelinhas tentava me dar uma cantada, mas o cortei logo e ele parou, ou tentou pelo menos.

— E você contou que o cara te dava mole?

— Contar, contar, não contei, mas ele foi muito rápido e sagaz, pegou de cara quando o conheceu, tive que rebolar pra conseguir contornar a situação desconfortável que ficou, tá pra existir bicho mais possessivo que esse abençoado que carrega um pau entre as pernas.

[RETIRADO] MR. JOHNOnde histórias criam vida. Descubra agora