O plano secreto de Uma.

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Gil estava deitado em seu quarto, observando absolutamente nada e ainda assim completamente distraído.
Ele enrolava seus longos cabelos loiros e ondulados nos dedos e pensava em algo não muito importante, mas seus pensamentos deslizavam de vez em quando para um certo pirata de olhos azuis, cabelos castanhos e atitude despreocupada.
Gil ouviu seu pai tropeçando na sala, provavelmente bebado. Seus irmãos haviam sumido e ele estava entediado.
Ele se sentou, encostando os pés no chão e sentindo um arrepio subindo por sua espinha. Ele levantou, andando até o banheiro e ao abrir a porta, se olhou no espelho.
Gil se sentia pessimo, nervoso e irritado, mas não sabia porque.
Ele nunca se sentia mal, ele estava sempre feliz e era sempre simpático.
Mas ultimamente não havia sido assim, porque cada vez que começava a se sentir bem, algo ruim acontecia com ele. Seja seus irmãos o batendo e o xingando, ou seu pai o dizendo que ele não era bom o suficiente, ou as pessoas lá fora que não o respeitavam, ou as pessoas que deveriam ser seus amigos.
Uma estava servindo mesas no bar da Ursula agora, muito provavelmente.
Talvez cantando alguma canção e talvez dando em cima do Harry.
E o Harry? O que fazia agora? Talvez se ajoelhando aos pés dela, talvez saqueando e roubando por ela.
Apenas o básico.
Tudo básico. Ele pensou, enquanto terminava de escovar os dentes e pentear seu cabelo. E então pôs suas botas e um gorro azul.
Saiu e desceu as escadas da casa grande de seu pai. Gaston havia conseguido ter uma das melhores casas de toda ilha, provavelmente por conta de sua enorme força e durabilidade que o permitiu literalmente passar por cima de muitos dos outros habitantes para conseguir os melhores moveis(Que na verdade não passavam de moveis descartados pelos reis e rainhas de Auradon)
Ele fez questão de forrar tudo com pele e couro dos pobres poucos animais que viviam na ilha na época em que ele foi aprisionado com os outros vilões.
Gaston estava desmaiado no sofá, seus labios meio abertos e seus enormes braços pendendo aos lados de seu corpo, com uma de suas pernas sobre o sofá enquanto a outra estava em parte caída no chão.
Usando uma calça e sem camisa, com seu abdomem musculoso e seu peitoral largo e forte a mostra. Gaston era muito peludo.
Ele tinha cabelos negros, longos e lisos, seus olhos estavam pesadamente fechados, mas eram de um azul muito escuro.
Ele tinha feições masculinas muito belas, com uma barba grossa e um pescoço muito grosso.
Seus enormes pés faziam Gil pensar como seu pai conseguia arranjar sapatos na ilha.
Gil notou as garrafas vazias jogadas ao lado do sofá.
Tão silenciosamente quanto pôde, quase que de maneira cômica, na ponta dos dedos, ele se dirigiu a porta e a abriu, ouvindo um tortuoso rangido.
Olhou para seu pai, os roncos não deixavam sombra de dúvidas de que ele não acordaria tão facilmente.
Gil saiu e fechou a porta.
Do lado de fora o céu estava nublado e o tempo estava frio.
Gil era diferente de seus irmãos, ele não gostava de calor, de sol abundante, de ficar sem camisa exibindo musculos e tomando qualquer oportunidade de demonstrar quão forte era.
E Gil era forte, sendo quase sempre o único que Uma chamava para levar e levantar coisas pesadas. Ele nunca entendeu a origem de sua força. Ele não costumava malhar sempre, ele nem mesmo vivia levantando peso como seu pai costumava cantar que fazia o tempo inteiro.
Ele e todos os seus irmãos simplesmente haviam nascido com uma tremenda força bruta. Gil podia facilmente erguer Harry e Uma, um em cada lado de seu corpo, sem nem mesmo um pingo de dificuldade.
Harry tinha uma estatura extremamente menor que a dele, mas devido a sua natureza violenta, sempre causava mais temor.
As pessoas não sentiam medo de Gil.
De acordo com Uma, isto se devia a sua "cara de imbecil" e sua falta de inteligência
Enquanto andava pelas ruas, ele observava as pessoas andando com seus bolsos provavelmente cheios de coisas furtadas e roubadas
Gil nunca tinha sido um saqueador natural
Uma gostava de clamar que isto reforçava o quão inutil ele era.
Gil não ligava muito quando ela o ofendia, ele estava acostumado, mas o que o destruia eram as vezes em que Harry concordava com ela.
Gil não sabia o motivo, mas a opinião de Harry importava para ele de forma diferente que a de seu pai ou seus irmãos ou Uma.
A opinião deles também o machucava, mas a de Harry atingia um lugar diferente nele. Mais amargo, mais seco, mais profundo e demorava mais pra curar.
Ele chegou ao bar da Ursula, ouvindo os gritos e risadas dos piratas lá dentro
Gil ponderou se deveria entrar
Entrar lá dentro significava ter que aturar todo mundo lá dentro o observando, o julgando em silêncio, alguns nem mesmo em silêncio.
Mas ficar fora significava que alguma hora ele teria que voltar pra casa e aturar seu pai e irmãos parecia ainda pior.
Ele entrou no bar, tão silenciosamente quanto pôde e logo avistou pessoas bebendo e comendo, Uma estava dançando e rindo e cantando com uma bandeija nas mãos e Harry rodopiava atras dela, com seu gancho brilhando em sua mão.
Gil revirou os olhos discretamente e se dirigiu para os fundos, ficando numa parte mais escura atrás de varias mesas.
Sentou de costas para todos numa cadeira em uma das mesas e tirou um pequeno livrinho de dentro dos bolsos
Uma e Harry diziam que ele era tão burro que nem mesmo sabia ler, mas não era verdade.
Ele sabia, de fato, ler. Seu pai nunca aprendeu, seus irmãos provavelmente nunca iriam e até mesmo o próprio Harry nunca havia se preocupado e não era bom nisso. Mas ele prestava atenção as coisas ensinadas no Dragon Hall, não que fossem muitas e não que ele conseguisse prestar muita atenção a qualquer coisa por muito tempo, mas ele se esforçava. Ele também costumava praticar, ele tinha um conhecimento básico e ele sabia juntar palavras.
Ele começou a ler uma cópia que ele tinha surrupiado de alguma das lojas da ilha, era um exemplar surrado de A bela adormecida.
De acordo com a historia, a mãe de Mal havia a muito tempo amaldiçoado uma pobre princesa a dormir eternamente apenas por não ter sido convidada a uma festa.
Malévola sempre pareceu impiedosa, sempre agiu impiedosa, mas Gil acreditava que existia algum tipo de bondade na mulher da mesma forma que havia bondade nele próprio.
Ele se sentia bondoso as vezes, ele não queria ser sempre mal, ele não via beleza em machucar todos e não confiar em ninguém.
Ele ficou encantado após conhecer o filho do inimigo mortal de seu pai, o rei Ben parecia ser tão gentil e inteligente. Ele não havia mostrado ódio e raiva nem mesmo uma vez contra nenhum deles que haviam o capturado e o ameaçado.
Ele não havia nem mesmo tentado machucar Uma após ela ter o encantado com um feitiço de amor.
Quando Uma voltou, clamando ter encontrado uma forma de vingar-se de Mal efetivamente, todos haviam fingido acreditar nela. Mas na verdade, todos a achavam uma perdedora que esteve muito próxima de salva-los e apenas desistiu da briga.
Todos a haviam visto afundar no mar, em Auradon, e pensaram que ela havia os traído e fugido.
Mas ela voltou dois dias depois, e Harry, que estava pirando completamente, a aceitou de braços abertos.
Agora tudo estava como se nada tivesse acontecido, ela não havia falado novamente sobre qual plano ela tinha em mente. Ela apenas sorria sozinha as vezes.
Gil havia aprendido a temer os sorrisos dela, mesmo que parecessem bobos.
ele terminou mais uma pagina de seu livro, quando sentiu uma mão quente tocando seu ombro.

A Vida Secreta De Gil LeGume.Onde histórias criam vida. Descubra agora