Problemas na família

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-Harry Gancho e Gil LeGume, poderiam me dizer novamente o que faziam lá em cima?
Uma usava seu sorriso mais provocante e desconsertante.
Harry parecia aguentar corajosamente, mas Gil estava derretendo completamente em constrangimento.
Era a quinta vez que Uma havia os perguntado a mesma coisa com o mesmo tom, ela provavelmente nunca deixaria isso morrer.
Uma servia as mesas e Harry apenas tentava se distrair com a TV. Haviam duas ou três bruxas rindo e conversando ao fundo e alguns mal encarados bebendo numa mesa próxima.
Gil precisava voltar pra casa, eram sete da noite e seu pai ja estaria acordado o procurando.
Ele se levantou e se dirigiu a porta mas foi parado por Uma que parecia ter seguido todos os seus passos e estava agora parada entre ele e a porta.
-Escuta aqui, peixinho, eu sei o que você sente pelo Harry. Não adianta negar e na verdade, porque você não disse nada?
Gil congelou no lugar e apenas conseguiu gaguejar - O-o que?
Uma revirou os olhos -Gil, volta pra terra, voce e o Harry. Você gosta dele, né?
Gil sentiu um aperto em seu coração.
Ela sabia
Ele estava apavorado e apenas conseguiu dizer
-É?
Uma sorriu
-Sim, é. Deixa pra lá. Só espero você cedo amanhã.
-É? -ele ainda estava preso carregando as informações
Ela parou de sorrir
-GIL, ACORDA.
-T-ta.. Não precisa gritar.
E ele saiu do bar da Ursula, nem sequer notando Harry o observando de seu lugar.

Gil andou pelas ruas perigosas da ilha, figuras encapuzadas nos becos escuros segurando facas e prontas para te sequestrar, talvez fazer até pior.
Ele chegou a sua casa em dois ou três minutos, não era longe.
De fora já dava pra ver as luzes ligadas, tudo fechado . Ele entrou usando uma chave reserva que havia levado com ele.
Andou pela sala de estar, notando as garrafas ainda jogadas no chão e a porta do banheiro estava aberta.
Ele chegou a porta, notando uma figura alta de costas, tinha costas largas e braços imensos, um corpo extremamente musculoso, coxas cheias de pelos que mais pareciam troncos de árvores. E estava nu.
Ele se virou, era Gaston, que provavelmente havia acordado e depois de vomitar horrores, tinha tomado um banho e estava de ressaca, a julgar pelas olheiras e feições irritadas em seu rosto esculpido por anjos.
Gaston estava na faixa dos quarenta anos, mas parecia um guerreiro nórdico.
Versado em varios tipos de armas, os primeiros anos na ilha haviam sido um pesadelo para o caçador.
Gil sempre sentiu que nunca seria como seu pai, havia puxado muito a sua mãe, dava pra ver em quase todas as suas características. Desde seus cabelos loiros até seus olhos azuis e seu rosto delicado.
Era o mais baixo de seus irmãos.
-O que está olhando, moleque?
Gil percebeu que havia ficado parado olhando sem nem sequer piscar para o homem gigante a sua frente por todo seu tempo de reflexão.
-Nada, pa.. papai, desculpa.
Eu estava no bar da Ursula, c-com a Uma e o H-harry..
-Da pra parar de ga-gaguejar, seu imbecil, você vai pra aquela espelunca servir de pau mandado pra aquela vagabunda enquanto deveria estar fazendo algo útil. -Gaston agora estava gritando, seus dentes brancos unidos ao seu olhar feroz em seu rosto fizeram Gil se arrepender subitamente de ter saído do bar.
Ele fez menção de ir para seu quarto, mas sentiu seu pescoço completamente coberto por algo e em seguida a parede fria contra sua cabeça e suas costas.
Gaston havia o prensado na parede e estava esmagando seu pescoço.
Gil recobrou os sentidos e tentou gritar.
Era inutil, ele tentou fugir, mas não conseguia mover seu pai de cima dele.
O peso era assombroso.
-Você acha que eu quero você? Eu nunca quis ter você. Eu nunca quis nenhum de seus irmãos, nem a você. Mas ao menos eles servem para algo. - Ele socou o estomago do mais novo com tanta força que Gil sentiu sua visão escurecer.
O ar parecia ter desaparecido do mundo por alguns instantes e Gil ficou sem força.
Suas mãos caíram das mãos de Gaston até os braços dele.
Gil sentiu um cheiro muito forte de álcool
Ele entendeu
Gaston não estava de ressaca, ele tinha estado de ressaca e então,  tinha bebido o resto das garrafas que ainda estavam pela metade.
A visão de Gil ficava cada vez mais escura e Gaston acertou mais três socos em seu estomado e rosto, partindo seus lábios.
Ele começou a apertar os seus dedos enormes contra o pescoço do garoto, que começou a sufocar. Gil juntou o que restava de força e acertou um soco no mais velho, que apenas se enfureceu mais e bateu sua cabeça contra a parede.
Gil ouviu um barulho horrível
Tudo ficou escuro.

Gil acordou, com gosto de sangue em sua boca.
Um zumbido agudo em sua cabeça que doía escruciantemente e seus membros estavam sem força alguma.
Seu pescoço pulsava e latejava e sua garganta estava seca e aspera, doia.
Ele permaneceu lá, sem saber onde estava e o que havia acontecido, pelo que pareceram horas.
Então ele subitamente veio a si.
Seu pai havia o atacado pela primeira vez em meses e parecia que tinha guardado toda a sua fúria nesses meses.
Gil tentou se levantar e ver ao redor, no começo era tudo escuro e embassado, mas logo ele podia ver a sala de estar.
Ele estava no chão, ele olhou para as janelas, estava muito escuro ainda.
Ele se levantou, se apoiando contra as paredes e mancou em direção ao banheiro a sua frente.
Ligou a luz e a visão era aterradora. Seus cabelos estavam molhados com o que parecia ser seu próprio suor, manhados e emarranhados com sangue.
Sua boca estava sangrando.
Ele tirou sua camisa e o resto de suas roupas, revelando sua pele dourada.
Um abdomem definido e forte agora estava cheio com manchas grandes e roxas em varios tons diferentes.
Seu pescoço tinha marcas de dedos e suas pernas tremiam.
Ele entrou nos boxes e ligou o chuveiro, agua fria caiu pelo seu corpo e lavou seus machucados.
Ele não aguentou e caiu sentado no piso.
Gil tentou fazer o máximo de silêncio possível, mas não conseguiu parar as lagrimas e o fluxo de soluços.

A Vida Secreta De Gil LeGume.Onde histórias criam vida. Descubra agora