Prólogo

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OU: O PREFÁCIO SENTIMENTAL DE ARIEL

ARIEL


É incrível a forma como permitimos nos enganar quando estamos começando a entender nossa própria sexualidade.

Quatro anos atrás entrei com o pé direito no ensino médio, com a certeza de que os estudos tirariam da minha cabeça todos aqueles pensamentos confusos sobre talvez estar me sentindo atraído por garotos. O que aconteceu, na verdade, foi que eu me apaixonei.

Bernardo Vieira não tinha nada em comum comigo: sempre fora quieto, mal conversava durante as aulas (e, quando o fazia, era quase sempre com os garotos do fundão), fã de videogames e parecia ter uma extensa coleção de camisas com estampa de bandas de rock.

Eu era o garoto escandaloso, conversando com todo mundo, me envolvendo nas aulas dos professores e só era visto calado quando estava com a cara enfiada em algum livro de romance sobre anjos se apaixonando.

Bernardo era amigo de uma das minhas amigas, se conheciam de outros tempos quando moraram na mesma rua e acabaram se encontrando na escola anos depois de a família dela ter se mudado para outro bairro.

Não lembro qual foi à primeira interação que eu e Bernardo tivemos, mas lembro das vezes em que acabamos juntos em trabalhos de dupla, quando o agreguei nos meus trabalhos de grupo e, uma vez quando estava chovendo durante a aula, minhas duas amigas mais próximas haviam faltado, nós ficamos conversando depois que terminamos uma atividade de Língua Portuguesa. Nesse dia, eu até fiz aquele truque de adivinhar quantos segundos depois do raio o trovão vinha, Bernardo ficou impressionado com a minha esperteza.

Lembro, exatamente, do momento em que percebi que gostava dele. Foi perto do fim do primeiro ano, a sala toda estava conversando porque a professora estava demorando a chegar e nós apresentaríamos um trabalho em grupo. Bernardo chegou atrasado, estava usando uma camisa polo vermelha e segurava nas alças de sua mochila. Até aquele instante, eu estava angustiado, pensando que ele não viria e teríamos problema na apresentação. Mas então ele chegou, fazendo meu coração começar a bater forte.

Jamais reparei tanto nos detalhes do seu rosto como naquele dia. Não precisei raciocinar muito para entender que minha aflição não tinha relação com o trabalho e sim com a probabilidade de ficar um dia sem vê-lo.

Nunca contei para ele, obviamente. Eu nem mesmo tinha coragem de contar para minhas amigas sobre possivelmente ser gay, imagina contar para um garoto que eu gostava dele?

Mas, o tempo em que eu vivi apaixonado escondido, foi o mais dramático da minha vida. E, quando ele decidiu se mudar para o turno da tarde no meio do segundo ano, me afundei em uma piscina de músicas tristes e uma experiência digna da Bella Swan em Lua Nova!

Esquecer Bernardo não foi fácil, mas aconteceu. Ou talvez eu só tenha desviado os sentimentos para outra pessoa.

O nome dele era Otávio.

Uns sete anos mais velho que eu. Minhas amigas já o conheciam, mas nosso primeiro contato aconteceu em uma noite aleatória que aceitei sair com elas e ir assistir os garotos da nossa cidade fazer manobras em seus skates.

Otávio nunca havia me visto, mas me tratou como um amigo de longa data. Passamos horas conversando, falando sobre séries, filmes e a melhor série literária infanto-juvenil já escrita: Percy Jackson.

Enquanto minhas amigas se envolviam em seus próprios dramas românticos, mas de forma pública, eu inventava desculpas para sair e encontrar Otávio.

Também nunca tive coragem de contar para ele sobre meus sentimentos, mas quando ele foi embora do país com a família, não sofri. Naquele momento, eu já havia aprendido que paixões não declaradas, têm moradia em lares solitários.

Um ano depois veio a formatura, depois o tempo continuou seguindo, comecei a trabalhar em uma livraria — um verdadeiro trabalho dos sonhos para apaixonados por livros —, entrei na faculdade, uma das minhas amigas se mudou para um apartamento com o namorado, a outra entendeu que nasceu apenas para se divertir e eu resolvi parar de pensar nas minhas antigas paixões.

Nunca mais me apaixonei depois disso, apenas tive encontros casuais e acontecimentos constrangedores. E eu estive bem com isso...

Até agora.

O Crush Supremo [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora