OU: OS SUSTOS QUE A VIDA SENTIMENTAL DÁ
ARIEL
Monto em minha bicicleta assim que saio de casa e pedalo depressa pela rua, indo em direção ao meu trabalho. Viro em uma rua aqui e outra ali até, finalmente chegar à LIVRARIA — sim, o nome da livraria é Livraria, bastante falta de criatividade do Sr. Rocha, o meu chefe.
Tranco minha bicicleta com o cadeado no portão de grade do corredor ao lado da loja e entro no estabelecimento, balançando o sininho em cima da porta, fazendo aquele barulho insuportável que eu odeio.
— Sr. Rocha, cheguei! — grito e já vou para o meu lugar atrás do balcão onde fica o caixa.
Como toda sexta-feira, estou bastante animado e ansioso para que o dia termine, logo começo a fazer o meu trabalho pra deixar tudo preparado quando for à hora de abrir.
— Ariel — O Sr. Rocha chama, vindo da direção do corredor que leva ao fundo da loja.
— Estou separando o dinheiro — digo sem levantar a cabeça.
— Quero te apresentar o seu novo colega de trabalho.
Faz algum tempo que o meu chefe decidiu que precisávamos de mais uma pessoa pra ajudar na livraria e eu lhe dei total apoio, claro. Não é fácil ficar sozinho carregando livros pra lá e pra cá, além de contar todo dinheiro que entra e sai.
Levanto a cabeça olhando para o homem de mais ou menos 50 anos, alto e careca que sorri para mim.
— Esse é Bernardo — apresenta, estendendo a mão ao dar um passo para o lado e eu vejo o garoto que está logo atrás dele.
Pele branca quase que pálida, cabelo escuro liso caindo sobre sua testa e praticamente da mesma altura que eu...
— Nós nos conhecemos — Bernardo fala sorrindo timidamente.
— É, nós já nos conhecemos, da escola — digo, tentando forçar um sorriso.
Me sento em minha cadeira e escuto, quase que ao longe, o Sr. Rocha falando com Bernardo algo sobre seu trabalho começar na segunda-feira e, enquanto isso, eu sinto como se tivesse caído numa grande e espalhafatosa piada do destino.
26 HORAS DEPOIS
— Vocês chegaram? — falo ao telefone com Fábio, meu único amigo homem.
— Sim, Ariel. Mas que angustia é essa pra se encontrar com a gente? — pergunta e ao fundo escuto Marcela, minha amiga e namorada do Fábio, gritando algo com ele.
— Me dá isso aqui! — Andy, minha outra amiga, diz tomando o telefone da minha mão. — É o seguinte, Ariel tem um drama e quer que a gente se encontre... Ele não me contou ainda... Você sabe como ele é... Estamos indo.
Ela me entrega o telefone e força um sorriso para mim.
No dia anterior, fiquei tão abalado por descobrir que Bernardo trabalhará comigo na livraria que nem consegui ir pra faculdade; como Fábio e Marcela foram passar a semana na casa da família dele, na cidade ao lado, eu liguei pra Andy e a gente saiu de noite pra não fazer nada específico, até cheguei a falar com ela que tinha um drama rolando, mas não contei nada porque depois teria que repetir tudo de novo para Fábio e Marcela. E, o grande fato é que, Andy é muito, muito curiosa e agora tá querendo me matar por deixá-la esperando tanto — e eu mesmo tô doido pra soltar logo a bomba, mas tenho que esperar.
— Vamos logo! — Ela chama, caminhando em direção à saída da minha casa.
— Mãe, tô indo na casa da Marcela! — grito, sabendo que ela está na cozinha preparando o almoço, tipo no cômodo ao lado do meu quarto.
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O Crush Supremo [DEGUSTAÇÃO]
RomanceEm toda a sua vida Ariel já se apaixonou duas vezes, e essas duas paixões foram totalmente platônicas. Bernardo foi a primeira delas. Há algum tempo Ariel pensava que estava tudo bem com sua vida (não) amorosa, mas as coisas mudam quando Bernardo co...