O Colidir

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Camila, 7:40 am.;

A manhã cinzenta regada pela chuva que caía do lado de fora tinha gotas pesadas. Batiam na janela como uma música de inverno que pedia mais tempo na cama. Meus olhos queriam ficar fechados, enquanto uma força maior, tentava fazer meu corpo despertar. Sorte que ainda me restava um pouco de responsabilidade. Ainda assim, desejei que o ponteiro do relógio voltasse algumas horas para que dormisse mais, quase não consegui pregar os olhos na noite anterior. 

Abracei a coberta e os travesseiros espalhados pela cama. Tentei ignorar o 'bip' do despertador do celular.

Assim começava meu primeiro dia no tão sonhado Jornal da Cidade.

Esse foi o único motivo para reagir. Levei meu corpo preguiçoso da cama até o banheiro, fazendo barulho de chinelo arrastado no chão. Apesar da preguiça, tinha uma intensa  sensação de independência crescendo dentro de mim. 

Zico me encarou com seus grandes olhos verdes.  Às vezes até esqueço que ele é um gato, ou melhor, meu "Filhino".  Miou e esfregou seus pelos em minhas pernas pedindo por comida, mesmo que seu pote estivesse cheio, ele não comeria a menos que me visse colocar grãos novos. Eu, particularmente, me sinto grata com o papel dos seres humanos na terra: servir os felinos. Rápido enchi seu pote de ração. 

O telefone tocou algumas vezes, minha boca estava cheia de creme dental, mal pude atender sem parecer falar com uma batata na boca.

— Meu benzinho, que saudades! - A voz emocionada de Rico preencheu meus ouvidos, foi reconfortante ouvi-lo. Ao fundo, os cachorros latindo de animação. Como se soubessem com quem estavam falando. Andreoli, pedia o telefone sem parar. — Diga que a casa está um vazio sem ela, diga. Me dá isso aqui. - Ele completou. Não pude evitar meus risos.

— Você está sabendo que Dante já anda com novos amigos? Ele te contou?

Meus pais, vez ou outra, tentavam me fazer sentir ciúmes dele, não apenas por ser meu melhor amigo, mas também, por terem esgotado todos os seus recursos de como-pedir-por-uma-visita-implicitamente.

— Ah! Deixa ele pai. Logo faço amizades por aqui também. Quero ver ele curioso em conhecer todos. Sem falar que estou louca para ir visitar vocês, sinto saudades todos os dias. — acrescentei. - Tenho novidades: ao que tudo indica, já poderei editar artigos da página principal do jornal na próxima semana. 

— Ui, ui, ui! É isso o que chamo de depositar confiança na estagiária. - Respondeu Andreoli animado, podia imagina-lo sacudir os ombros enquanto falava. 

Conversamos por longos minutos.

{...}

Preparei o banho morno. É sempre um martírio banhar-se em dias assim.

O mormaço preencheu o banheiro com uma neblina fina, quase imperceptível, que fez o espelho suar. Poucos minutos de uma alegria silenciosa que seria substituída pela correria e agitação das ruas.

Tomei café da manhã encarando minha coleção de post-it grudados na geladeira, cheios de lembretes do dia, e saí de casa carregando uma pequena pilha de pastas e papéis que julguei importantes.  

-

Fui alertada sobre a pressão que os veteranos conseguiam colocar na vida de um estagiário. Mas aquilo estava sendo insano. Passei as primeiras horas do dia correndo de um lado para o outro, servindo cafezinhos, buscando papéis e procurando assinaturas. Nada de sentar para editar textos, o que de fato pensei que faria.

Aprendi que meu único momento de paz seria trancada em alguma das cabines do banheiro compartilhado do setor. Sentei na privada com a tampa abaixada para mexer em meu celular, vivendo o primeiro momento de distração depois de tanta correria. Pelo menos foi o que pensei, até me deparar com o lembrete da reunião que aconteceria às cinco da tarde num local qualquer chamado Caffè Blu. Meus olhos reviraram. Não que eu seja ingrata, na verdade, sou preguiçosa. Meus planos era de chegar em casa, ligar a TV e assistir uma temporada inteira de Scream junto do meu gato.

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⏰ Última atualização: Jan 04 ⏰

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