Ah! A música! Tudo começa na intensão de expor, de mostrar que possui o controle e ser consagrado por isso. De fazer cena enquanto me deleito com o toque dele e me desconcerto com o dela. Ah! A música. Dispir o pecado. Logo cogitei expor a carne, constranger a todos com mais uma cena. Enquanto por fora estivesse o desconstruido por dentro martirizava-se o pecador. Então questiona-me: Do que tens medo? De imediato nada me vem a mente. E por um longo período de tempo enquanto todos sucumbiam a seus próprios desesperos eu estava ali, parado, neutro, sem medo, sem pudor, então me indaguei de forma tão íntima que no fundo o achei. Ah, a música. Embaixo do que faço quando estou sozinho, ao lado do que fiz e me arrependo, acima de tudo o que pareço ser. PUTO! APODRECIDO! NOJENTO! DOENTE! Nada disso me afetaria se aquela máscara estivesse no meu rosto, eles veriam o que eu quisesse que vissem e louvariam o verme dentro do pomo de ouro. O desejar dos corpos expostos. Não ousariam me apontar o dedo. Até que me fizeram amar um estranho... Ah, a música... O amor não é assim, não distribuo doses em cada esquina. Isso faço com o tesão, o prazer, o gozo que deriva do egoísmo e da auto-satisfação. O amor? O amor NÃO! E ali não tinha, não existia, não brotava. Só sufocava, me retorcia as entranhas. E então vieram as mordidas, logo após os tapas na face e por fim o despero de ser dispido unido a pontapés e outros tipos de agressões. Eu tentava me convencer de que aquilo era amor, MAS NÃO ERA! E se fosse, eu estaria disposto a passar por aquilo ou pior para protege-lo? Para defender meus sentimentos? Acho que não, talvez eu desistiria e morreria nesse momento frustrado, exposto. "- Beija aquela boca!" foi-me sujeitado o ato, então mais uma vez minhas entranhas deram um nó, como aquele que se forma na garganta, e meu corpo obedeceu. O combustível estava sendo extraído da reserva errada pois não havia um Q de desejo, de prazer. Então ali era eu, sem a máscara, cru. Nunca me senti tão desgostoso por algo que eu já fiz, por conseguir o prêmio tão fácil e de uma fonte que nunca me insitou. E por um momento... "-ASQUEROSO!" - Disse a mim mesmo. Eu sofri por algo que não queria. Sem um motivo aparente, sem um ideial. Então os tapas foram me tirando desse pesar, até que ela veio até mim. Com ar de quem queria me devorar, e eu... Eu joguei o jogo dela. Degustei cada mordida, cada mastigar, cada ingerida, cada digestão. No fim de tudo guiou-me: " - Entrega teu medo!". E eu não queria, era ele o que me protegia! O abrir das cortinas e o ligar dos holofotes. O show não iria continuar? Sim? Mas sem a minha máscara? Não vou! Não posso!
"-ENTREGA!".
E aos poucos deixei a máscara cair. Não por completo, não conseguiria. Mas estavam a mostra as minhas cicatrizes. Eu só queria correr dali, me esconder. Então o pianista começou a tocar e meu coração bateu rápido, " Dancem!". Ah... a música... E as lágrimas acataram a ordem. Aquele abraço casa, seguro e terno. A contração dos corpos. Ela não iria me julgar, não iria me analisar. Só me amar, como eu sou por dentro e por fora. Então o peito pesou como se tivessem tirado algo dele e as cicatrizes ainda doessem. Um amuleto para não desabar... A conexão com ela... A chuva não ajudou muito, porque com ela retornou a cena. O caminho de casa foi tão rápido, contei escarros por escarros, de saliva grossa e boca seca. Cheia! Amarga! E agora não me sinto eu mesmo. Meu corpo não parece meu, não parece importante. Quero sair, sair disso, sair de mim mesmo. Um banho demorado, para lavar o violar do corpo, o polir da arcada para limpar as manchas e diluir o gosto do vomito. Um amigo inanimado, chocolate quente e o silêncio, é assim que encerro minha noite com ela... A música.E agora, qual será o próximo capítulo?