III

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Louis se levantou, cravando o olhar no cigarro que queimava ferozmente contra o cimento da rua. Encarou o menino, a expressão reflexiva cobria todo o seu rosto. Ele não tinha o que responder.

— Tenho certeza que você também. — Harry balançou a cabeça negativamente, mas não era como se fosse argumentar sobre isso. — Fala sério, se eu não vou fumar, você também não vai. — Louis arrancou o maço das mãos de Harry, abriu a pequena caixa e dedilhou os rolinhos brancos alinhados. — Menta?

— O melhor que tem.

— Meu favorito. — Suspirou. — Só um?

Harry pendia a cabeça para o lado, mal conhecia o garoto, mas seu coração apertava ao vê-lo se arruinar. Louis retirou da caixinha dois finos rolos de papel branquiços, enfiando um entre seus lábios e, em seguida, encaixando o outro entre os lábios de Harry, que cedeu.

—  Isqueiro? 

Harry retirou dos bolsos do jeans rasgado um isqueiro vermelho, que entregou nas mãos de Louis. Acendeu o seu próprio, e na ponta dos pés, acendeu o de Harry, que ria com a diferença de altura.

Uma mistura de fumaças tomou conta da rua vazia. 

— Merda... Eu sentia tanta falta disso. Eu precisava tanto, mas tanto disso. — Louis sorria, se pudesse comer o cigarro naquele instante, já estaria com talheres nas mãos. — Por que isso é tão insanamente bom? 

— Eu sei. É horrível que seja tão...

— Viciante? Eu sei. 

— Sim. Mas você não precisa disso.

— Preciso. E você também. Sabe disso.

Harry se calou. Não adiantava argumentar, sabia que Louis falava a verdade. 

Quase três da manhã e ali estavam dois estranhos, encarando um ao outro num silêncio covarde e concomitantemente confortável. As fumaças se juntavam no topo de suas cabeças. Harry havia se tornado seu cúmplice. Louis achava incrível o quanto fumar cinco minutos com alguém trazia mais intimidade do que algumas pessoas que conhecia há anos.

Louis tomou um gole da bebida gelada.

— Quer?

— Vamos com calma, um metro e meio. Um vício de cada vez. — Louis fez uma careta ao ouvir o apelido.

— Como eu nunca te vi por aqui?

— Me mudei essa semana. Digamos que eu e minha mãe estávamos passando por uma fase difícil juntos, então decidi morar com o meu pai.

  — De onde você era?

— Holmes Chapel.

— Você trocou Holmes Chapel por Doncaster? — Uma expressão de confusão amarrava seu semblante, —Devo me preocupar com o seu nível de insanidade mental?

Harry riu.

—  Eu morava lá há tempo demais. Todos sabiam tudo sobre mim e achei que talvez estivesse na hora de um recomeço. Ir pra um lugar onde ninguém soubesse do meu passado.

  — Uau. Em qual parte dessa conversa você fez a metamorfose de sorridente e gentil pra misterioso? Acho que eu me perdi.

Harry tirou o cigarro dos lábios, soltando uma longa e intensa fumaça.

— Há mais para descobrir sobre pessoas felizes demais do que sobre pessoas fechadas que aparentam esconder algo.  

Harry voltou a caminhar pela mesma rua de onde havia surgido.


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⏰ Última atualização: Nov 03, 2017 ⏰

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