O Diferente - Capítulo Único.

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O Diferente

Na calada da noite, uma pessoa é expulsa. Não importa sua identidade, seu gênero e o que aconteceu para a pessoa chegar a aquele ponto, pois, agora a pessoa não tem teto, pois agora a pessoa não tem cor.
Agora, sobe as luzes coloridas de natal que enfeitam as ruas frias e vazias, a pessoa vaga, com lágrimas em sua face, pois humilhado foi, por ser colorida.
Passos e passos de tristeza e aptidão á escuridão. Um sorriso melancólico brotou de sua face, enquanto sorrisos de alegria brotavam nas janelas das casas.
O ser repudiava suas lágrimas, e odiava seus passos lentos. Mas o que se podia fazer?
O que você podia fazer? O que você pode fazer? Você pode se sentir triste sobre a pessoa, pode chorar choras dessas choradeiras.
Lamuriava de suas choras em pranto. Sozinho no nada, no nada sozinho...
Do que contar o que não há de contar? Do que contar do sozinho no nada que é contado? Até que... Em um momento, uma ideia absurda cheia de hipérboles, que dela brotava uma árvore de pensamentos mais rápidos do que a troca de luzes que o iluminavam no impressionismo absurdo do frio surdo, e mudo de sua vida. Mas por que tentar isso? Mas por quê? Então pensou: ­–Não! Não vou tentar isso!... ...Mas por que tentar não tentar... sabendo que tentará em vão... tentando não tentar? –se questionou em sua ambígua tristeza.
Pensou e pensou enquanto lágrimas involuntárias saiam de seus olhos. Seus passos continuavam os mesmos, porém agora com um destino. Destino é esse que não se sabia. Era automático. Suas lágrimas de tristeza, agora não podiam mais se confirmar. Em estado de confusão melancólica sobe luzes que perderam sua cor, estava mais que triste, e mais que feliz. Estava em afirmação. Afirmava não entrar em estado algum, nem no estado de nada, nem no estado do estado. Ele simplesmente não sentia nada, ele não sentia não sentir, ao mesmo tempo em que não sentia. Ressentiu-se sua inexistência. Felicidade? Tristeza? Quando alguma pessoa triste passava na rua e olhava para ele, via somente o nada, via a fachada de lojas que a pessoa ocupava o campo de visão. Chorava em diversão, sorria em meio a tristeza e escuridão. Pisca-pisca seus olhos escuros de importância alguma, enquanto sua família ria e esquecia o acontecimento do dia passado.
Andava e andava lentamente, até chegar a sua casa, em uma janela via a felicidade, como se ele nunca existisse, na verdade ele poderia nem realmente existir, já que sua estória é inventada, e sua alma, interpretada. Ele pode ser ela e ele na vida real. Ele pode ser o sem identidade de gênero. Mas que todos os diferentes em todos os países, em todos os estados de nosso país, em todas as casas, morrem. Morrem por dentro. Uns morrem de verdade, outros, só em metáfora. Digo eu, pecando e errando de minha ambiguidade, quando digo "todos os diferentes", julgo eu, os julgados, que são julgados pelo seu auto julgamento sobre sua sexualidade e identidade de gênero.

Sua mãe, que nunca mais olhou para seu filho do jeito que olhava antes, e que agora, nunca mais vai voltar a olha-lo, olhou-o.
O natal estava lindo, todos comemorando o nascimento de uma pessoa, e todos julgando uma pessoa. Todos orando sobre o nascimento de uma pessoa, essa tal pessoa que disse para amar o próximo como se fosse nós. Mas a palavra rejeitada e esquecida sobrevoava os olhos do julgado, sobrevoava, a tal palavra, quando o julgado tinha 7, 9, ou até 16. Essa palavra bonita que expressava felicidade e harmonia, só expressava as belezas naturais quando usada para um homem e uma mulher. Mas que para os diferentes, nojo e falta de violência,repudio, decepção.
Ser chamado de decepção é uma decepção, sei disso, pois fui julgado uma.
Os diferentes sabem. A pessoa olhava para sua mãe, essa que estava sentada no braço do sofá, com as duas pernas cruzadas. Seu vestido azul-índigo agora nada importava.
Seus três irmãos, bebendo uma cerveja, mesmo o mais novo não tendo idade para isso, riam em felicidade, sobre piadas de futebol. Enquanto que seu pai trazia, rindo, um copo para a avó da pessoa. A avó, que sempre amou seu neto, estava olhando para o piso. Logo uma lágrima caia de sua face, enquanto o pai a acordava de suas lembranças com seu neto, na qual em seus pensamentos não concordava de seu julgamento. O amava como único.
A mãe com uma cara de repudio olhava serio para o rosto de seu filho.
Seus lábios sussurrava uma palavra que nem o pensamento escutava, mas que o julgado sentia.
A palavra obscura, que não deve ser dita aqui, que nem seu pensamento iras escutar, como dita.
A palavra de seu salvador era amor. Mas a palavra de sua seguidora, que não amou direito o filho, nunca será dita por Deus, para seu filho mais obscuro, Lúcifer. Nem de Lúcifer para Deus. Talvez a palavra nem exista, de demasiada raiva.
A pessoa que caminhava as ruas triste, voltou ao seu rumo. Andando em seu caminho, feliz, pois sabia que no fundo, uma mancha, bem borrada em uma fotografia, era ele. E que essa mancha não pode ser retirada de lá. Essa mancha sempre estará lá. Sempre será odiada, por alguns. E amada, por outros. Uma mancha, que de tamanha tristeza, felicidade brotou.

Quando na escuridão, você se torna a escuridão, a luz se torna um novo destino, de sua caminhada eterna, que cada dia recebe felicidade.
A pessoa andou até o ponto de cansaço total, onde se aconchegou, no rude, frio e sujo chão de uma fachada de uma loja local. E lá, caiu em um profundo sono. E que, para sua felicidade, no dia seguinte, acordou no aconchego de um sofá, no qual nele, recebia as sinceras desculpas, de sua julgadora...

De sua mãe...


O Diferente (conto).Onde histórias criam vida. Descubra agora