Quando pensamos em definir o nosso objetivo de vida, a razão da nossa existencia nesse planeta, a maioria de nos está provavelmente sobre algum efeito alucinógeno ou está passando pela famosa crise existencial, algo que na minha opinião mexe mais com o ser humano do que as drogas. Eu entretanto me vi forçado (claro) a pensar nessa questão, bem na hora da minha morte, irônico não ?. Por favor não precisa ficar emocionado ou especulando sobre o quão triste foi a minha morte, eu gosto de pensar que a mesma foi insignificante tal qual o resto da minha vida. Somente alertando vocês na minha história não existe jornada de herói, eu nunca gostaria de ser um para falar a verdade, a perfeição e o idealismo atras deles somente me enoja. Você vai entender meu ponto de vista eu era um mero bandido nas esquinas de Veneza, o que você deveria esperar de mim, um pequeno ladrão de carteira que vivia a base de agua e comida requentado em um apartamento caindo aos pedaços perto do canal principal, não tem princípios ou ética. Se você me conhece pessoalmente com certeza ficaria aliviada com a minha morte.
Além disso nunca fui um exemplo de beleza, eu podia ter lá meu charme, claro com as prostitutas e as desesperadas, mas felizmente eu sabia dar as risadas certas nas horas certas, isso sempre me dava uma vantagem com as pessoas. Diferentes dos heróis e o topete perfeito e os dentes brilhando, talvez soa como inveja, que seja inveja então eu pouco me importo.
Somente para esclarecer eu não sou órfão ou vítima dessa sociedade então nem se esforce em sentir empatia ou pena eu com certeza iria me aproveitar disso, eu até tenho parentes, entretanto me desvinculei de tudo e todos pelo fato que eu não me importava realmente com a vida, ou com qualquer coisa relacionada a ela, acho que isso deve ser uma doença mas isso também não me importa, eu não vejo necessidade de exercer um esforço por mera falsidade, portanto hoje a única coisa que eu possui é um nome, e convenhamos essa é a única coisa realmente importante.
Provavelmente você deve estar se perguntando, ou não, se eu já matei ? Venha me conhecer pessoalmente e lhe responderei com maior prazer.
Então voltando a minha história, seria interessante você saber que ao contrário da maioria, eu nasci no momento da minha morte.Como já disse à minha morte foi insignificante entre tanto o que veio após ela que além de me impressionar me tornou o que eu sou hoje.
Eu me lembro vago de uma voz estridente anunciando que eu tinha sido atropelado e que eu já cheguei a aquele lugar morto. Eu senti algumas pontadas é um leve choque, após alguns minutos ouvi uma gritaria mais choque e depois só me lembro de algo me amarrar apertando o meu corpo quase me espremendo e comprimindo tudo que restava da alma que um dia habitava em mim. Caso vc tenha claustrofobia não tente imaginar isso porque iria se sentir como se estivesse preso em um frasco. Após algum tempo eu acordei em um lugar escuro e gelado ao meu redor tinha duas lâmpadas que se revezaram em acender e apagar. Eu estava em uma maca escura e totalmente nu. Olhei em volta e não via parede nem portas ou se quer alguma janela. Eu fiquei sentado naquela maca olhando para a escuridão parcial. Não sei quanto tempo levou para eu tomar coragem e andar pelo recinto ou quando cheguei à conclusão que essa era a morte, e que eu não passava de um espectro de alma. Após muito tempo, pelo menos na minha concepção, eu compreendi que aquela sala sem começo ou fim era a minha eternidade.
Sem sonhos sem expectativa é sem futuro e sem necessidades biológicas, eu literalmente me via no paraíso. Qualquer outra pessoa ou alma iria cair no desespero afinal uma vida de planejamento não significavam nada no pôs morte.
Entretanto eu esperei ansiosamente uma vida toda para esse momento, eu voltei a me deitar e aguardei sorrindo afinal essa situação sempre foi o meu sonho. Eu passaria minha eternidade vegetando.Após mais alguma fração de eternidade no meu paraíso particular eu percebi que começou a surgir uma estante um sofá entre outros móveis, e isso foi o suficiente para eu me desesperar. Eu podia lidar com a solidão absoluta afinal eu cresci no desapego. Mas do nada apareciam coisas que davam personalidade aquele local livros iam aparecendo folhas uma lâmpada e muitas outras coisas começavam a preencher esse vazio que eu tanto queria. Eu entrei em pânico comecei jogar tudo para o breu cadeira e folha livros tudo que eu via, mas tudo retornava ao mesmo lugar se materializando. Eu desesperado voltei a minha maca e rolei para a posição fetal e aguardei o som das coisas aparecendo acabar.
Após minutos de agonia eu escuto um barulho alto e me viro na direção avistando uma porta aberta. Eu ignorava o quarto preenchido e organizado e ia em direção à porta que dava para um corredor e ele ligava a outra porta maior e azul. Tudo seria melhor do que aquele quarto perfeito com a decoração perfeita.
Ao abrir a porta eu selei meu destino como uma alma azul.
Ah esqueci de lhe avisar uma alma azul é uma alma que não respeita as leis do destino é as normas do tempo. Somos um tipo de seres que mantém o mundo estável. Ou pelo menos tentamos... tudo bem na maioria das vezes fracassamos miseravelmente, eu sou a alma azul Kyln e eu trago o desapego e desespero.
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Almas Azuis
Ficción GeneralAlmas azuis Quando pensamos em definir o nosso objetivo na terra a maioria de nós está provavelmente sobre efeito de alguma droga ou no momento está passando pela famosa crise existencial. Entretanto nunca chegamos a uma conclusão, talvez isso seja...