Capítulo três

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Leticia

E então eu fui jogada céu abaixo( nossa gostei da maneira como soou isso, ok continuemos) e eu cai direto em uma  escola que não era à que eu  trabalhava. Quando me dei por mim, eu não tinha a mesma forma de quando eu morri, não era mais a forma do meu corpo que eu tinha durante a vida. Agora eu era uma garota, aparentava ter uns quinze anos. Um garoto que eu nunca vi na vida me encarava, talvez não seja eu que ele esteja olhando, mas ele parecia hipnotizado com o que via.
-Ei, como você fez isso?- Ele perguntou indo até a mim, é realmente era eu que ele observava, mas como ele conseguia me enxergar?, será que aquele anjo havia me jogado em uma realidade paralela?.
-Você consegue me ver?- eu  não quero nem imaginar ele me observando cair do céu( imagina a cena, brincadeira não imagina não)
-Você é pequena assim ou tem nanismo?
Você acredita que nem eu sei?, essa é aquela hora que o meu cérebro buga, não sei se ele é grande demais ou esse corpo que me deram é pequeno demais, talvez seja os dois. O garoto achando que eu estava brava, abaixou a cabeça e pediu desculpas. Mas gente, eu nem estava brava, será que eu estava com cara de brava?, ah fodasse, eu acabei de morrer e de ser expulsa dos céus, não tenho que estar sorrindo para todo mundo.
-Eu não consigo fazer isso
-O que?
-Puxar assunto
-É só deixar fluir- Eu não sei como eu disse aquilo. Me levantei ficando frente a frente dele, e ele era até bonito, magro e alto, os cabelos cacheados e castanhos claros e os olhos cinzentos.

-Qual seu nome?- Perguntei tentando quebrar o clima desconfortável
-Meu nome é Rafael, e o seu?
-Leticia meu nome é Leticia.- Respondi. Logo me dei conta do que eu havia vindo fazer, consegui um espaço nos céus. Mas eu não sabia nem como começar isso, talvez eu pudesse...enrolar os anjos e voltar a minha antiga vida nesse corpo, e era isso que eu ia fazer, ir para a minha casa e voltar a planejar minha nova vida. Me despedi do garoto e caminhei rumo o portão da escola. Mas logo fui interrompida por pelo anjo que me jogou aqui ( ninguém merece).
-Eu sei o que você pensa em fazer- O anjo disse na minha frente, bloqueando meu caminho.
-O que então?- Perguntei desafiadora, poxa, eles não podiam saber de tudo.
-Você quer nos enganar e não cumprir sua missão- Dito isso ele abriu suas asas e levantou vôo, me puxando consigo-Mas você não vai, você vai cumprir sua missão, e está proibida de voltar para sua antiga casa ou para sua antiga vida, a antiga Leticia morreu.
-Então eu estou proibida de tudo, por que me permitiu voltar?- Resmunguei
-Eu não permiti nada, por mim você nem teria descido novamente, e que bosta de missão é essa em- O anjo respondeu com grosseria.
sobrevoavamos  pela cidade de Leopoldina em que eu nasci e cresci, e que hoje parecia tão distante , como se ela não pertencesse a mim, só a antiga eu. O anjo desceu rumo a um bairro escuro nos arredores da cidade, tão longe de onde eu morava.
-Agora você vai caçar um lugar para ficar-Ele disse e brotou uma nota de cinquenta reais de suas mãos ( essa nota não vale nada hoje em dia, mas ok)- caso você sinta fome. Ergueu as mãos que estava a nota, oferecendo a mim. Peguei a nota e a guardei no sutiã do vestido branco em que eu estava( na verdade esse vestido veio com o meu corpo novo). O anjo levantou vôo, e sumiu das minhas vistas. E lá estava eu sozinha de novo, mas dessa vez em um bairro escuro, correndo risco de ser assaltada ou estuprada...( mas não quero pensar no pior) quero ter pensamentos positivos e atrair coisas positivos. Mas para onde eu iria?, eu não tinha dinheiro para pagar um hotel ou uma pensão, o jeito seria dormir naquelas ruas em uma caixa de geladeira. 

-Você de novo- Uma voz disse atrás de mim, eu reconhecia a voz, era do garoto que me viu cair, Rafael, me virei.

-Sim, estou perdida- Eu disse a primeira coisa que veio a minha cabeça

- Sério, quer ajuda?- Ele ofereceu

-Quero, preciso de um lugar para ficar- Eu disse, mas se eu realmente quisesse um lar, eu teria que inventar mais algumas coisa para ele não me achar estranha- Eu perdi a memoria, não sei onde moro, ou onde estou, e quem eu sou( acho que eu exagerei, mas já saiu)

-Estranho, você só se lembra do seu nome?- Ele perguntou, olhando nos meus olhos

-Sim.

-Ai, deve ser tão perigoso, uma menina anã desse jeito, essa hora da noite na rua, se quiser você pode passar a noite na minha casa- Ele disse como se pensasse em voz alta. Sorri, é, pessoas boas não estavam tão em falta assim, existia algumas, e Rafael era uma delas. 

-Obrigada, OBRIGADAA, É OBVIO QUE EU QUERO-  berrei no meio da rua

-Então vem comigo-   me ofereceu  a mão, segurei na mão dele e seguimos rumo a casa  que ficava do outro lado da rua - Só não leva as coisas que a minha mãe falar a sério, ela é louca- Ele me avisou enquanto cruzávamos o portão de ferro que separava o quintal da rua. 

- Pode deixar-  prometi. 

Adentrei a casa dele, e logo um cheiro de fumaça atingiu o meu nariz, ai meu deus, será que a mãe dele era uma drogada?. A figura de uma mulher que aparentava ter uns quarenta anos, tinha os cabelos pretos e era um pouco gordinha. Estava jogada sobre o sofá de sua casa, assim que adentramos ela olhou diretamente para Rafael que estava ao meu lado, ainda de mãos dadas a mim. 

-Ai que bom, você arranjou uma peguete, agora vê se perde essa virgindade

- Mãe, ela não é a minha peguete

-Então ela é o que?, vocês não vão transar?- A mulher realmente parecia estar interessada na vida sexual do filho. A encarei, por algumas horas, sem palavras e Rafael parecia também não ter, ele estava pensativo e com o olhar vazio.

- Ela é uma pessoa que vai passar a noite aqui

-Ela pode ficar, deis que não dê despesas- a mulher resmungou

-Ela não vai

-Eu não vou...-Foi a única coisa que eu conseguia dizer. Parte de mim queria estapear aquela mulher enquanto a outra queria perguntar o porque dela parecer  tão amargurada.

- Então pode ficar-
A mulher  voltou sua atenção a TV. Rafael me puxou para um corredor que ficava ao lado esquerdo. O corredor tinha uma séries de portas. Adentramos uma delas, era um quarto completamente bagunçado, com roupas e papéis espalhados por todo ele.
- Nossa, parece que passou um furacão aqui-  comentei
- Não tenho tempo para limpezas, passo o dia todo na escola
-Sua mãe usa drogas?-Perguntei me referindo a fumaceira que estava na sala( sorry, sou bem direta)
-Não, ela espalha essas fumaças pela casa, para afastar energias ruins.
- Ahh-  Assenti
-Você quer dormir aqui ou no sofá?-  Rafael perguntou tirando a colcha da cama.
Óbvio que eu iria dormir onde tinha menos fumaça, e seria ali mesmo.
-Aqui,não estou afim de morrer sufocada naquela fumaceira-
logo me lembrei que eu já estava morta, e se esse corpo novo que me deram morrer, não faria diferença, pois eu já sabia como era a morte. A maioria das pessoas que desejam não morrer, elas só desejam por ter medo da morte, não saber o que vem depois, mas quando você descobre, nada mais faz diferença, entre morrer e ficar vivo. A morte é só uma copia mal feita da vida( pelo menos para mim).

Missão: A procura do homem IdealOnde histórias criam vida. Descubra agora