One of a Kind

Prólogo

  O céu está nublado, nuvens pairam preguiçosamente sobre as casas do bairro, cobrindo-as com seu cobertor acinzentado. Duas crianças estão deitadas no quintal dos fundos de uma casa rosada, de janelas brancas e jardim colorido. Elas apontam para as nuvens mostrando uma para a outra as de formatos engraçados. Banquetes de doces, veículos flutuantes e um baile de animais dançam sobre suas cabeças ao sabor do vento, o sol acompanha seus movimentos lançando seus raios quentes pelas frestas e iluminando os gramados verdinhos e bem cuidados.

  Assim que as nuvens se misturam num amontoado cinza e sem forma, um dos garotos se deita virado para o outro, que continua olhando para o céu, e fala.

— Não seria legal se pudéssemos voar e lá em cima encontrássemos todos aqueles animais feitos de nuvem? — disse ele tornando a se deitar com as costas para o chão. — Deve ser uma grande festa se eles estão sempre dançando tão alegres.

  O outro menino riu, não de deboche, mas sim de uma forma amigável.

— Seu bobo, lá em cima só existem as nuvens e os pássaros. E eu tenho certeza de que os pássaros não sabem dançar. — o menino parou por um momento, se virou para o amigo e continuou. — Já viu o tamanho dos pezinhos deles, acho que não existem sapatos pequenos o bastante para caber neles.

Ambos se olharam e começaram a rir alto, debatendo-se na grama.

— Mas seria legal poder voar. A vista deve ser linda lá de cima, todos parecendo tão pequenos quanto os pezinhos dos pássaros. — Um sorriso inocente se abriu no rosto do menino enquanto ele pensava na possibilidade de sobrevoar as casas e sentir a brisa morna do fim da tarde em seu rosto.

  Seu amigo o olhou, notou o brilho em seus olhos e segurou-lhe a mão com delicadeza.

— Eu prometo que um dia nós vamos voar bem lá no alto, entre as nuvens. Eu e você, porque você é meu melhor amigo, Max!

  Ambos se entreolharam, sorriram e Max acomodou seus dedos entre os do amigo. Eles continuaram deitados conversando por um bom tempo, era o que mais gostavam de fazer.

*

  Max e Klahan sempre foram muito amigos. Como ainda eram muito novos o seu "sempre" era bastante limitado, então dois ou três anos já equivalia a uma eternidade em suas cabeças.

  Max sempre foi muito introvertido e tímido, se isolava das outras crianças e nunca fazia amigos. Até o dia em que ele chegou à vizinhança. Seu nome era Klahan e ele era o mais falador de todos, até mesmo seu pai dizia que o garoto sempre conseguia fazer amizades com muita facilidade.

  No dia em que se conheceram, Max estava brincando sozinho com uns bonequinhos perto do escorregador do parquinho. Klahan estranhou porque todas as crianças estavam correndo para lá e para cá feito doidas, todos pareciam amigos, menos Max que estava lá sozinho. Ele se aproximou do menino, estendeu sua mão para cumprimenta-lo e começou a puxar assunto enquanto se sentava. A princípio Max se sentiu acuado, o garoto não tinha muita experiência em interagir com outras crianças, mas logo começou a se sentir confortável na presença do outro, e desse dia em diante os dois não se largaram mais.

  Max era um menino magricelo, de pele pálida, olhos azuis céu e cabelos louros. Suas sobrancelhas eram tão claras que você podia jurar que não havia nada lá, por isso muitas crianças zombavam dele.

  Klahan, por outro lado, era um garoto de pele castanha, cabelos escuros e bagunçados, sempre parecia que havia acabado de acordar de um sono agitado, olhos cor de avelã e sobrancelhas grossas. Ele também era magro, mas não tanto quanto seu amigo.

*

Os meninos eram vizinhos e naquela rua não tinham muitas crianças, por isso todos os lugares secretos e pontos de encontro eram deles. Uma rua inteira para duas crianças. Klahan morava a duas casas de Max, mas seu pai era muito reservado, então Max nunca havia visitado a casa do amigo.
Um dia, curioso, Max perguntou ao menino porque eles nunca podiam ir brincar na casa dele, e o garoto respondeu.