Capítulo I - 10 Anos Depois

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 Mesmo depois de dez anos, Max não conseguia se esquecer do seu melhor amigo. Ainda guardava uma tristeza dentro de si, algo que pesava em seu peito e trancava com correntes e cadeados todas as portas de entrada para o seu coração. O menino não se livrara da sensação de que se deixasse mais alguém se aproximar dele, essa pessoa espalharia os cacos de seu coração remendado tornando impossível monta-lo outra vez.

  Em dez anos ele não havia feito mais nenhuma amizade, todos que tentavam logo eram repelidos por sua indiferença. Para que se esforçar? Para depois ver alguém tomar seu coração e fugir sem deixar rastros, somente destroços?

  Não entenda mal, Max não destratava ninguém. Ao contrário, respondia a todos que puxavam assunto com ele, porém de uma forma que matava a conversa na primeira frase. Ele não fazia por mal, já havia se tornado uma atitude mecânica. Sua cabeça estava condicionada a pensar daquela forma.

  Depois de tanto tempo de amargura, sua timidez havia triplicado de intensidade e a aparência fofa de criança dado lugar a de um adolescente alto, triste e fechado. Suas roupas agora eram quase como um uniforme. Max sempre usava um moletom preto, calça jeans e um par de tênis pretos surrados.
  Ele não gostava de se preocupar muito com o que iria vestir dia após dia já que não precisava impressionar ninguém.

*

  O sol jogava seus raios mornos da manhã por entre os espaços da persiana, os pássaros sacudiam o orvalho de suas asas e cantavam saudando mais um dia que nascia. Max ainda não estava pronto para acordar, ele olhou para o despertador em seu criado mudo, resmungou e cobriu sua cabeça com o travesseiro.

  Toda manhã era a mesma coisa, o garoto se sentava em sua cama, coçava os olhos de forma preguiçosa enquanto bocejava e depois olhava para um porta retrato no criado mudo com a foto de Klahan e ele quando pequenos. Junto com a foto, imprensado contra o vido emoldurado, estava um pedaço da carta que ele havia recibo dez anos atrás.

"Eu te amo muito, amigo! Não fique triste porque família é para sempre, esteja onde estiver, e quem ama nunca nos abandona. Até breve".

— Mentiroso.

Max abaixou o porta retrato fazendo um barulho oco contra a madeira do móvel.

 O jovem se levantou, vestiu seus jeans, calçou um par de meias grossas, seus tênis surrados e o moletom de praxe. Foi ao banheiro, escovou os dentes se olhando no espelho e odiando o que via refletido nele. Max desceu a tempo de ver sua mãe se despedindo de pai com um beijo.

— Até mais, querido. Tenha um bom dia de trabalho! — disse animada.

A Sra. Bordeux fechou a porta com delicadeza e se virou para trás, viu Max descendo as escadas, carrancudo como sempre, e seguindo para a cozinha. O menino se servia de uma jarra de suco de laranja quando a mãe entrou no cômodo.

— Odeio quando faz tanto sol, prefiro os dias nublados. — disse ele puxando uma torrada para coloca-la na torradeira.

— Ora vamos, hoje nem está quente! Você precisa tomar um sol, está tão pálido. Por que não vai andando para a escola hoje, é só a algumas quadras daqui. Aposto que um exercício lhe faria bem.

— Não sei, estou com tanta preguiça que quase não levantei da cama hoje, acho melhor ir de ônibus mesmo.

  A TV ao fundo exibia o noticiário da manhã, a chamada dizia "Vampiros? No meu bairro? É mais provável do que se imagina".

— Eu queria ser um vampiro, ia ser tão mais fácil. Não ter mais que ver o sol, comer pouco, voar por ai como um morcego. — disse o menino enquanto olhava para a televisão.

One of a KindOnde histórias criam vida. Descubra agora