Com o passar do tempo, Asini notou algo estranho em seu corpo, seu ventre parecia crescer a cada dia. Então, condor explicou o que aquilo significava: que ela esperava um filho. Um herdeiro de Tanagor.
Os meses passaram tão rápidos que Asini praticamente não notara. Sentia-se maravilhada pelo fato de carregar um bebê. O amor pelo filho era algo sublime. Indescritível. No nono mês, então, eis que era chegada a hora do parto.
Asini urrava de dor. Deitada sobre uma pedra, muitos animais a cercavam, todos com semblantes preocupados. Hanoai chegou sobrevoando e pousou ao seu lado, assumindo a forma de homem.
Suas mãos queriam esmagar as rochas. O ventre exercia uma força sobre-humana e o único momento de alívio era entre uma contração e outra. Os minutos pareciam horas, o sofrimento parecia eterno. Hanoai dava-lhe todo apoio e encorajamento, enxugava a fronte da mulher e segurava sua mão.
Contudo, o alívio veio em seguida. A criança nasceu radiante e vigorosa, seu choro ecoou pela mata e os animais vibraram de alegria.
Asini, emocionada ao ver o filho, chorou. Suas lágrimas se desprenderam do rosto e encontraram o solo. E naquele lugar nasceu um rio, que passou a se chamar o Rio da Vida. Essas mesmas águas escorreram por toda Tanagor, dando vida eterna ao mundo. E por onde se formou o rio, as pedras que eram banhadas em seu caminho, tornaram-se homens e mulheres com a mesma sabedoria de Asini. E desta forma, Tanagor foi povoada.
Hanoai ficou muito feliz e se comprometeu a ensinar tudo o que sabia àquele povo.
XXX
Anos passaram e o povo de Tanagor seguia progredindo, criando seus povoados, aldeias, e mais tarde as gloriosas cidades tribais. Ergueram templos em homenagem a grande deusa Asini e ao criador do mundo, Hanoai.
Thaonai era o nome da criança, filho de Asini e o deus condor. Era um garoto estimado por todos, sendo criado ao lado do povo. Era um menino bonito, de pele branca e de cabelos dourados. Seu olhar profundo era dono de um brilho único, sobretudo, encantador.
No dia de seu nascimento, recebera a visita do irmão mais próximo de seu pai, o deus coiote Akba, o mais jovem dos Adaox e que sempre buscava conselhos com Hanoai, pois pretendia criar um mundo.
O menino recebeu inúmeros presentes de seu tio Akba. Porém, o maior de todos os presentes foi o pai quem lhe dera.
Em honra ao filho, Hanoai o presentearia com o Sol, quando atingisse a maior idade, onde Thaonai cuidaria de Tanagor para sempre, vigiando o mundo no Trono de Fogo.
E foi exatamente assim que aconteceu: a criança cresceu e tornou-se homem e neste dia receberia de seu pai o Trono de Fogo. O filho do deus era bom e justo, exemplar. Herdou do pai a sabedoria e paixão pelo mundo. O povo o estimava mais que tudo, até mesmo mais que o próprio condor. E assim é que deveria ser, estava predestinado.
Um dia, de surpresa, Hanoai, sob a forma de condor, veio buscar o filho e o convidou para subir em suas costas, para juntos sobrevoarem os céus do mundo, como fizeram muitas vezes quando ele ainda era menino.
Juntos, voaram alto, pai e filho. Thaonai sentiu toda aquela nostalgia de quando era apenas um garotinho. Sentia o vento fresco contra o corpo. Acariciou as penas do pai e o abraçou no pescoço, dizendo o quanto o amava.
— Eu também o amo muito meu filho — , com lágrimas nos olhos.
Acima das montanhas, apreciavam as belezas da natureza. Voaram próximos do rio da vida e puderam ver os peixes coloridos abaixo da água. Gaivotas, águias, gaviões e falcões se juntavam e iam embora.
Entretanto, este dia tão feliz estava destinado a ser carregado de uma profunda tristeza. O deus condor partiria de Tanagor e levaria Asini consigo.
Esta era a natureza dos Adaox, pois chegaria um tempo em que eles haveriam de partir. Voltariam para o mundo onde todos os irmãos deuses viviam, seguiriam para Kowalawa, deixando como herança o mundo criado para seus filhos.
— Mas, por que, meu pai? Por que ir embora? — a tristeza invadindo o coração de Thaonai.
— Porque esta é a nossa natureza. Não fomos feitos para viver presos em um mundo, como se fosse uma gaiola. Nós viajamos pelo multiverso, protegendo-o e descobrindo os mistérios. Cuidando de outros mundos e planos que nossos antepassados deixaram para trás.
— E eu ficarei sozinho para sempre?
— É claro que não meu filho. Você nunca ficará desamparado.
Thaonai permaneceu em silêncio, meditando como seria o mundo depois da partida de seu pai. Temeu aquela grande responsabilidade, e em nenhum momento desejou se afastar do destino que o esperava.
XXX
A dor que a mãe sentia por deixar o filho era cortante. Thaonai, também emocionado, chorava como criança. Toda Tanagor sentia a angústia daquela partida.
Porém, Hanoai prometeu que voltaria um dia e relembrou os deveres do filho para com o mundo. Deveria vigiar Tanagor do Trono de Fogo, pois de lá nada fugiria de seus olhos e ouvidos.
Sem mais o que dizer, os deuses deixaram Tanagor paratrás. De agora em diante, Thaonai seria o supremo deste mundo.
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A Invasão de Tanagor
FantasyOs Filhos do Sol, semi-deuses, são os heróis de Tanagor. Cada um possui dons especiais e são reconhecidos e adorados por todo o mundo. Até que um dia, Tanagor é surpreendida por seres malignos, um Espectro Opressor e um Espírito de Vingança. Eles...