... 12 ...

89 42 76
                                    


Alex


Olho pela janela e desejo chegar em casa o mais rápido possível. Assim como na ida, escolho fazer silêncio também na volta. Minha cabeça está um turbilhão de emoções e a maioria delas eu não consigo identificar.

Sinto um aperto no coração ao lembrar-se do Pai, não sou hipócrita para não levar em consideração tudo o que ele havia feito para mim, tudo o que eu me tornei por sua causa, todos os demônios interiores que tenho por causa de seus ensinamentos e suas práticas, mas, por outro lado, ele foi o único elo paterno e materno que eu havia tido. Ou, pelo menos, o elo a qual eu me lembrava.

E isso fez toda a diferença ao vê-lo paralisado naquela mesa, incapaz da prática de qualquer mal a qualquer ser humano. Ali ele era apenas mais uma pessoa que se foi, uma pessoa que deveria ser lembrada por alguém que ficou para trás. E, feliz ou infelizmente, esse alguém sou eu.

As autoridades preferiram deixar o caso em segredo. Não seria divulgado a sua morte nos principais veículos, visto que o Pai levou sua fama internacionalmente, para não ressuscitar magoas ou qualquer uma daquelas coisas que ocorreram quando eu e ele fomos pegos a alguns anos atrás.

Respiro profundamente e elevo a mão a cabeça fechando os olhos em consequência.

– Sei que a pergunta é inconsequente, mas você está bem?

Olho para o doutor e dou um sorriso frouxo.

– Estou bem, só um pouco cansada.

Ele balança a cabeça e aceita a desculpa esfarrapada facilmente. Não estou a fim de começar uma nova terapia ali na frente dos agentes. Eles fazem o tipo calado, mas isso não significa que eles não ouvem o que eu digo.

Chegamos rápido ao prédio, quando desço da suv preta não me despeço dos agentes. Geralmente dou uma de educada, mas neste exato momento tudo o que eu desejo é colocar os meus pés em casa e tomar um bom banho. Não preciso olhar para trás para saber que o doutor está vindo ao meu encalço com apenas certa distância.

– Não precisa vir. - Digo sem olhar para ele. - Eu estou bem, só estou cansada.

– Você tem certeza disso? - Ele insiste e para.

Também paro, me detestando por isso, e viro-me para olhar para ele.

– Eu entendo todos os motivos, doutor. Todos eles estão pesando nesse exato momento em minhas costas, mas não é necessário fingir e eu sei que ele não merecia nem um pingo se quer de compaixão, mas eu... mas eu...

O doutor Sidney se aproxima deixando um longo espaço ainda entre nós.

– Mas você sente compaixão, você está sentindo falta, Alex, isso te torna humana. Nada mais e isso é aceitável, não importa o que ele foi, para você ele foi tudo mesmo com os erros dele.

– Você acha que eu sou culpada por isso? Por sentir pena ou compaixão. Saudade?

– Não, de jeito nenhum. Como eu falei, isso só te torna humana. Diz que você é capaz de perdoar, mas agora você precisa perdoar a si mesma porque ele você já perdoou.

– Espero que o perdão venha com o tempo, assim como foi com ele.

– Sim, virá, só basta você tentar.

Dou um sorriso de leve repuxando o canto interno dos meus lábios, mas rapidamente o desfaço.

– Obrigada.

O COPIADOROnde histórias criam vida. Descubra agora