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Alex


Passo as mãos pelos cabelos molhados e deixo que a água quente escorra pelo meu corpo tirando todas as impurezas acumuladas pelos dias difíceis. Não fecho os olhos temerosa pela imagem por trás das minhas pálpebras. A imagem de uma jovem dançarina de cabaré do século XVIII que insiste há dias em aparecer.

Minhas pernas tremem quando me abaixo até o chão e deixo que a água quente bata forte nas minhas costas para aliviar a dor. Olho para frente do boxe, para o piso branco, mas não o vejo. Eu quero chorar, gritar, bater, mas tudo o que eu faço é ficar parada admirando o nada. Imóvel.

Sinto um enorme caroço na garganta que não desce e um desejo desenfreado de desaparecer, fugir de tudo. Deixar tudo para trás, mas estou presa a todo esse reino de soberba e mesquinharia como sempre estive. Não consigo me livrar.

– Alex? Você está bem? - Volto ao piso branco quando ouço o doutor Sidney bater à porta. Sua voz é grave e ele usa aquele mesmo tom de preocupação que tem usado há dias.

Pisco lentamente e suspiro desistindo de toda luta interna, passo as mãos pelos cabelos tirando-os do meu rosto e olho para a porta de madeira através do vidro molhado do boxe. Levanto e desligo o chuveiro, pego a toalha e me enrolo nela, enrolando uma segunda em meus cabelos longos. Saio do boxe com cuidado e vou até a pia e olho para o espelho embaçado.

– Estou bem, obrigada. - Respondo baixo e só sei que ele me escutou quando responde tão baixo quanto.

– Tudo bem. – O doutor faz uma curta pausa. - Preciso ir, mas deixo alguém para lhe fazer companhia.

Aproximo-me da porta, tocando a madeira maciça com alguns dedos.

– Não sei se quero visitas, doutor. Não sei se posso.

– Eu disse algo parecido, mas esta visita se recusa a deixá-la e pela audácia, imagino que você faça ideia de quem seja.

Suspiro mais uma vez, faz tempo que não vejo o Ben. A última vez em que o vi foi antes de toda essa bagunça começar e durante todo esse período, o tempo de confinamento com os policiais e os dias estressantes de visita a cena de crime cheia da influência mental dos detetives, eu o desejei. Desejei vê-lo, desejei sua presença, seu sorriso, suas piadas sem graças, seus carinhos, mas hoje? Hoje, não.

Sua imagem vem a minha mente, como se eu me obriga-se a aceitá-lo e tudo o que sinto é um completo vazio, totalmente diferente do que eu vinha sentindo ao seu lado tantos dias atrás.

– Não sei dizer se estou qualificada mentalmente para receber a visita dele hoje, doutor.

– Alex, venha para fora. – Ele hesita, mas prossegue. - Vamos conversar. Estou preocupado com você. Há dias que você não come direito e que está sem ânimo. Posso imaginar o que você está sentindo, as imagens, a sensação e as dúvidas. Eu as compreendo. Não é necessário que você passe por isso sozinha. De novo. Você deseja que eu fique?

– Não é necessário, como falei: Estou bem e deixe que lido com ele.

– Tudo bem, mas, mesmo assim, faço questão de lhe aguardar.

Não respondo e ponho-me a pentear os cabelos, escovar os dentes e vesto minhas roupas. Toda a rotina faço com tamanha lentidão, adiando ambos os encontros. Estou quieta, o silêncio alivia minha mente, mas não a ponto de me calar totalmente.

Abro a porta e os vejo, ambos sentados no meu sofá dividindo uma conversa. Eles olham em minha direção, Ben põe um sorriso fraco nos lábios, um sorriso inseguro comparado aos que eu estou acostumada a admirar.

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