Continuação de um dia desastroso

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'' Eu estou morrendo e tentando, mas acredite, eu estou bem. Mas eu estou mentindo,  estou tão longe de estar bem''


O professor prossegue com a matéria, mas a mente de Tyler viaja para longe. Sua testa guarda segredos e objetos tão obscuros que fazem a caixa de Pandora parecerem não violentos. Uma ilha repleta de leões loucos, com sangue escorrendo entre os dentes. Mais adiante, uma ilha inteira de pássaros que não voam, todos eles parados, em cima da areia, olhando em direção ao mar.

O sinal toca, indicando que está na hora do intervalo. Tyler levanta e vai em direção ao refeitório, pega sua comida e senta sozinho em uma mesa afastada de todas as outras. Ele olha para o prato de comida e se esforça ao máximo para comer, mas o apetite do garoto não é o mesmo há meses. Ele consegue comer metade do prato, o que já é um progresso, e logo em seguida levanta para devolver a bandeja ao lugar, quando de repente seu olhar vai em direção à porta do banheiro, e lá está ele, novamente. O garoto de cabelos vermelhos está encarando Tyler, e Tyler o encara de volta. Ele vai em direção ao banheiro, mas o garoto some novamente.

O sinal toca para que todos os alunos voltem para a sala de aula. Ty entra na sala e fica rabiscando algumas poesias na folha de trás do seu caderno. A professora de matemática entra, e Tyler permanece lá, perdido em seu próprio universo. As horas passam, a mente do jovem cria inúmeros cenários diferentes, até que, o sinal toca pela ultima vez, para que os alunos possam ir para casa.

O alívio toma conta de Tyler, já que a escola é uma completa tortura. Ele vai em direção ao seu armário, e se desespera ao vê-lo aberto. Quando chega perto do armário, percebe que há algo faltando: seu mp3 player. O desespero e a vontade de morrer dominam o garoto. Roubaram seu melhor amigo, roubaram sua distração, roubaram o destilador de emoções e pensamentos suicidas, roubaram sua vontade de viver...

Ainda perplexo e sem acreditar, ele caminha de volta para sua casa, cabisbaixo mais do que nunca. Tyler nunca havia se sentido tão sozinho e sem rumo quanto agora. Sua dor era tão grande que não conseguia chorar, apenas beliscar seu braço com elásticos, como forma de punição. Alguns garotos da sua sala o encaram e riem sem parar dele, chamam Tyler de louco, bipolar, suicida e etc.

Chegando em casa, Tyler encontra sua mãe e seu irmão Zack sentados na sala, assistindo à um filme de ação. Ele rapidamente corre em direção ao seu quarto, morrendo de medo que sua mãe perceba os machucados feitos em seus braços pelos elásticos, ou seus olhos inchados de tanto chorar. Sentado em sua cama que agora se encontra arrumada, Ty encara sem parar o retrato de seu avô paterno, que morreu quando ele tinha apenas 9 anos.

Zack entra no quarto sem avisar, e pega Tyler encarando o retrato do vovô.

- Hey cara, por que está encarando o retrato do vovô?- Zack pergunta, achando aquilo muito estranho.

- Não sei, eu só... eu sinto falta dele – diz Tyler, com um olhar de partir o coração de qualquer um.

- Sei bem como é, eu também sinto falta dele...

- Eu gostaria de ter passado mais tempo com ele- diz Tyler

- Digo o mesmo- concorda Zack

- Mas mudando de assunto, aconteceu algo com você, irmão? Você não tem sido você durante esses meses, parece estar sempre cansado- diz Zack, com um olhar preocupado.

- Eu estou bem, juro. Acho que estou nervoso por causa das provas escolares, sabe? – diz Tyler

'' NÃO ACREDITE EM MIM, EU ESTOU TÃO LONGE DE ESTAR BEM''- ele grita sem parar, internamente.

- Tudo bem então, irmão. Vou voltar pra sala para terminar de ver meu filme. Se precisar de algo é só gritar- diz Zack.

E naquela madrugada Tyler realmente gritou, pela primeira vez. Um grito de agonia e desespero ecoando do alçapão tomou conta da família Joseph naquela madrugada...

the trapdoorOnde histórias criam vida. Descubra agora