Capitulo 28 - Não morra por mim

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Observo atentamente a cada movimento mínimo sequer feito pelas mãos àsperas do pseudo-demônio de olhos azulados.

Ele me segura pelo braço, com força, como se estivesse a lutar contra um homem, alguém de sua mesma estrutura física, mesmo que meu corpo não dê qualquer sinal de relutância. Até por quê, sou absurdamente menor.
Como eu poderia me debater?

- Não olhe para mim como se eu fosse um monstro - diz sorrateiramente, arrastando cada sílaba por seu tom arrogante. Você é um monstro. Sufoco-me nas palavras enquanto ele me empurra por mais um dos corredores daquele galpão, até então desconhecido. Continuo atordoada, porque, penso que se aquele homem foi capaz do que fez com sua comparsa, dirá comigo, uma penosa vitima.
Sem ter onde cair morta, dependente da pena e de uma fortuna que ao menos me pertence. Respirando por um fio à espera do socorro -que não desejo-, de Paulo.

O rapaz, intitulado como pseudo-demônio em meu inconsciente -ou sequestrador- larga-me por um instante para enfiar um molho de chaves num cadeado, que, após aberto, dá-nos total claridade vindo de um céu límpido.
Sinto saudade do frescor do vento, do ar puro, da pequena quentura do sol a bater contra minha pele pálida.
Pisco repetidas vezes, cílios a grudarem, respiração densa.

- Hey - viro para encarar o demônio, e sem que possa me debater, amarra uma venda por sob meus olhos, incapacitando-me por completo da visão.

- Pra onde estamos indo? -grito, me debatendo contra seus braços. Não quero sair dali. Não quero ficar sozinha com aquele homem.

- Fica quieta, porra!

Sinto a dor do meu corpo ser arremessada contra uma superfície dura e gélida e estou trêmula.
Arrasto minhas mãos, mas mal posso me mover dentro daquele espaço.
O som a seguir é o derrapante de pneus arrastando-se contra o pavimento do chão. Um porta-malas.
Estou num porta-malas!

- Pra onde você tá me levando?

Espernio-me contra o pequeno espaço, com as mãos atrás de minhas costas, sem pôder me movimentar.

Faço o máximo de barulho que posso, desesperada. Ele não amarrou minha boca de volta, o que me facilita a gritar por socorro.
Depois de certo tempo, sem respostas, acabo por perceber que estou sozinha ali.
O carro parou no mesmo instante, mas sem ouvir um pio sequer, desisto.

Meu estômago faz um ronco estranho alertando a falta de alimento. Estou fraca. Gritar deixou minha garganta seca. Pigarreio, mas continuo a tossir.

Durante muitas vezes vi casos na tevê sobre sequestros, assaltos e diversos fins que eles tinham. Alguns felizes, onde pais encontravam seus filhos, maridos abraçam e beijavam suas mulheres, ou vice-versa.
Nem todos.
Houveram os casos em que fatos terminaram tragicamente. Com mortes ou feridas ou sequelas. Traumas e atendimento médico. Doenças psicológicas ou cardiológicas.
Os que passam despercebidos, ou os casos em que vimos por dias seguidos com envolvimento externo da mídia.

Será que sou um destes agora?

Obviamente não sou uma subcelebridade, ou alguém da alta sociedade, mas será que não mereço...

"CADÊ ELA?"

Aquele grito faz todo meu corpo desfalecer. Todo o cansaço, a raiva, a fome, tudo se cessa.

É a voz de Paulo! Dios Mio!

- Fique onde está e levante a camisa -o pseudo-demônio ordena. Estou com raiva por ele gritar, e com medo. Medo do que possa tentar fazer a Paulo. - Solta o dinheiro aí e não se aproxime mais ou vou atirar!

Estou nervosa com sua insistência. - Eu quero ver ela primeiro! -sua tonoridade mostra que está agitado.

- Joga a bolsa e se afasta, porra!

- Como vou saber se ela está... -sua voz está mais perto que antes e começo a chorar antes do barulho começar.

- EU MANDEI SE AFASTAR, CARALHO!

Um tiroteio se inicia do lado de fora, estou zonza e devastada e em apuros. Me debato contra aquele mínimo espaço e choro muito.

- PAULO!?

Estou absurdamente preocupada, gritando em meio ao caos, mesmo sabendo que não posso ser ouvida entre aqueles sons excruciantes.

Deus, por favor, não deixe que nada tenha acontecido a Paulo. Proteja ele, senhor. Eu imploro!

Como se fosse uma espécie de sinal divido, os tiros cessam por um breve instante. Deus é rápido. Penso.

Um barulho da porta sendo aberta me faz amolecer. O que vem a seguir são os batimentos do meu coração rápidos o suficiente para que rasguem minha pele e o vestido surrado que visto por dias.

A venda de meus olhos é retirada, e em meio a claridade, os olhos esverdeados mais dóceis do mundo ressurgem em meio a minha visão:

- Kat!

Sou tomada por uma felicidade absurda quando sinto sua pele tocar em meus braços, deslizando-se como uma pena, leve, até que desamarre as cordas que pendem em minhas mãos.

Ele me puxa contra seus braços, num abraço apertado, calmo.
Seu toque é gentil, seus dedos deslizam-se por minhas costas contornando linhas invisíveis e estou chorando. Muito.
Estou uma merda fisicamente, mas sinto-me em paz nos braços daquele garoto.

- Katrina - ele puxa meu rosto, suas mãos agarrando-se em minhas bochechas com a necessidade de olhar-me nos olhos - Ele tocou em você? Ele te fez algum mal? Me diga, por favor.

- Paulo...

- Diga, Kat! Por favor!

Fecho os olhos, aconchegando-me em seus braços. - Não! Ele não fez nada!

-Ela está bem? -guiada pelas vozes, percebo que há mais gente ali. Armados dos pés até a cabeça.
Policiais.

Me movimento minimamente para olhar para eles, mas mal me aguento em pé. - Vai ficar tudo bem, amor. Estou aqui agora. -Paulo diz, antes que possa lhe responder ele me agarra em seu colo e me puxa de dentro daquele porta malas com todo o cuidado que só meu Paulo teria.

Vendo-o agora, com seus lábios trêmulos e olhos aguaçados, tenho certeza que o amo.

KATRINA | DYBALA ✨ Onde histórias criam vida. Descubra agora