Capítulo 7

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10 anos depois

A chuva batia no vidro e escorregava lavando a poeira da rua, seu barulho insistente sobre o telhado irradiava por todo o cômodo e quase não se ouvia o barulho das buzinas de carros apressados na avenida anunciado que mais uma semana estressante se iniciava. A sala de paredes azul claro tinha cheiro de tinta fresca, algumas caixas estavam empacotadas ainda, mas tudo se ajeitaria com o tempo. Marcela, ansiosa, tamborilava as unhas cumpridas pintadas de vermelho sobre a mesa de vidro coberta por papéis e um laptop. O escritório de advocacia que ela e os amigos de faculdade, e agora sócios também, Sérgio e Letícia montaram, acabava de receber um caso da área criminalista de grande comoção social, e se conseguissem ganhar a causa, seus nomes ganhariam destaque e consequentemente, atrairiam mais clientes para o lugar.

− Trouxe café pra você.

Sérgio, com seu talhe elegante, equilibrava-se entre as duas canecas que carregava em cada uma das mãos e fechar a porta envidraçada fumê. Ele passou o corpo, e depois com cuidado, usou a perna para encostá-la.

− Obrigada! − Respondeu Marcela exibindo um sorriso cansado.

Sérgio colocou o café sobre a mesa e a cumprimentou com um beijo estalado nos lábios.

− E aí, como vão as coisas? − Disse atrás da cadeira onde ela estava sentada e aproximando o rosto para analisar algumas informações expostas na tela do computador.

− Eu acredito que a gente tem chances.

− Marcela, você sabe que fomos muito audaciosos ao aceitar o caso desse cara.

Sérgio deu a volta na mesa e se acomodou na cadeira de frente para ela cruzando as pernas. Mesmo com o tempo encoberto e nuvens densas, a fraca luz diurna atravessava a janela atrás dela e iluminava o rosto dele, deixando sua tez mais clara e seus olhos azuis ainda mais vivos. Ele era um rapaz de boa família, galanteador e bem-educado, um verdadeiro príncipe encantado.

− É, eu sei. − Respondeu olhando por cima da caneca enquanto bebericava o café. − Mas eu acredito na inocência dele, quem mataria a própria esposa e ficaria no local do crime?

− Ele tinha motivos de sobra pra fazer isso, você não faz ideia do que um homem traído pode fazer.

− Pode ser, mas ainda assim, tenho minhas dúvidas. Se ele a matou, onde está a arma do crime?

− É, isso também me deixa muito perturbado. Se foi uma armadilha, como você acredita, quem armou pensou nos mínimos detalhes.

Marcela ficou pensativa durante alguns instantes, aquele caso estava tirando seu sono, nada se encaixava, mas ao mesmo tempo bastava olhar nos olhos sofridos de Antenor, um senhor na casa dos sessenta que estava sendo acusado de um crime passional, para se certificar que um homem como ele não cometeria algo tão tenebroso como aquele.

− Bom, mas apesar de tudo − Ele deslizou as mãos sobre a mesa e alcançou a dela. − eu sei que vamos conseguir. Nós vamos ganhar.

Marcela forçou um sorriso.

− A gente precisa ganhar. − Ele reforçou esperançosa apertando os dedos dele. − Disso depende o nome do nosso escritório.

− Nem me fala, até hoje meu pai não suporta a ideia de eu ter largado o escritório do Meirelles&Assunção associados, disse que foi a pior burrada da minha vida e que nossa aventura não vai durar muito. Eu não quero que ele esteja certo.

− Ele não está!

Sérgio assentiu.

− Escuta, tenho uma surpresa pra você.

Até o último suspiro(Concluído) - Sem RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora