deslealdade e outras formas de partir um coração

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Quando eu tinha sete anos, e brincava de montar Lego, eu percebi que era mais trabalhoso construir do que destruir. Analisei; eu levava horas ou até dias para fazer algo bem caprichado. Mas para destruir, era questão de minutos.

Minha Omma já falou isso para mim: que para conquistarmos as coisas ou as pessoas, é muito complicado, precisa de esforço, determinação, foco e trabalho árduo. "Nada bom na vida vem fácil, Ji Sung. E se algo vier, caia fora, não presta, não vale a pena", era o que ela me dizia.

Quando comecei jogar jogos on-line, aquela teoria dela se concretizou. Tudo que eu ganhava facilmente, nunca prestava, era ruim e não me ajudava em nada. Então eu me esforcei para conseguir com a minha persistência. E, por mais que eu perdesse quinze vezes seguidas do boss, eu nunca desistia e uma hora eu consegui. Não foi fácil, mas eu ganhei o que queria, e era muito bom. Um simples click em "Apagar conta" jogaria todo o meu trabalho no lixo, e não teria volta.

O mesmo se aplica à trabalhos escolares. Eu passava a noite em claro, jejuado e exausto fazendo aquelas pesquisas e pondo tudo no papel. E durante a minha ida à escola, veja bem, eu poderia ter jogado tudo no lixo em questões de segundos. Não literalmente , pois seria burrice. Mas eu estava com o classificador nas mãos, porque a minha mochila estava cheia. Pensei em como aquilo poderia ser em vão em questões de segundos:

1) alguém poderia me roubar
2) eu poderia tropeçar e cair na lama com o classificador e tudo, e provavelmente entraria lama e sujaria o meu trabalho.
3) uma rajada de vento o levasse
4) ele simplesmente caísse de dentro do classificador e eu não percebesse.

Não parei para pensar em mais, pois eu já estava ficando assustado naquele dia, pois seria muito ruim caso eu perdesse aquela maravilha de trabalho.

Perguntei para minha Omma se o dinheiro da loteria (cujo ganhamos fácil, só preenchendo alguns números) prestava, pois para mim sim, já que é dinheiro. "Não, pois ele muda a mente das pessoas, Ji Sung. Fora muito fácil, sem esforço algum, então eles não irão dar tanto valor, não fazer aquilo que fariam se tivessem conquistado aquela tremenda bolada com o trabalho árduo do seu dia-a-dia." Pensei no que ela queria dizer, e consegui interpretar boa parte.

Omma tinha razão. O que é conquistado facilmente, não presta. E o que foi lutado para se conquistar, pode-se facilmente perder, de ser arruinado ou destruído. Como a minha casa de Lego. Como o que eu tinha com Mark Lee.

— Puta que pariu — não censurei o palavrão pesado vindo de Huang Ren Jun, o meu amigo que estava ao meu lado e tentava demonstrar que estava mais chocado que eu.

— Filho de uma... — dessa vez eu censurei, mas foi como os meus ouvidos tivessem bloqueados e eu não conseguisse escutar mais ninguém, além dos estalos molhados dos beijos e os seus sussurros.

"Você beija muito bem"

"Vê se para de me tocar assim"

"Não, deixa pra lá. Não pare"

E risadas.

— ... Garota de programa! — voltei a escutar o resto da frase, ou talvez eu tenha escutado antes e só processado depois. Mas era o Chen Le ali, também meu amigo, do meu outro lado, vendo o mesmo que eu.

De todo modo, não havia uma só lágrima caindo dos meus olhos. Não havia, e não haveria. Aprendi a não gastar a água do meu corpo por alguém que teve a coragem de tocar em outro corpo, senão o meu.

Quisera eu pedir aos meus amigos que parassem de soltar palavrões feios e pesados. Quisera eu poder chorar, mas não podia. E mesmo que eu pudesse, não conseguiria. Não naquele momento.

Loyal;; Marksung+ChensungOnde histórias criam vida. Descubra agora