Já faziam três dias que o menino tinha ido lá em casa para cobrar a dívida do Eduardo, hoje já é sexta, e não faço ideia de como minha mãe vai conseguir esse dinheiro. Mas sinceramente, não estou nem um pouco preocupada, sei que ninguém machucaria a gente e sim ele.
- Vamo pra casa, amiga? – Carina me pergunta, me tirando dos pensamentos
- Vamo sim – Falo e pego minha bolsa. – Tchau, meninas!
Me despeço das meninas que chegaram para o turno da noite aqui da loja.
- Amiga, vamo passar na Americanas? Queria comprar uns doces – Carina fala com cara de cachorro sem dono e dou risada concordando com a cabeça.
Passamos na Americanas, aproveitei pra comprar umas coisinhas pra mim, precisava de uns itens de higiene. Mas cai na tentação e comprei alguns chocolates e finis, estava pensando em tirar a noite amanhã pra relaxar em casa, assistir um filme, talvez. Não demoramos muito por lá e fomos logo pegar o ônibus pra o morro.
Ao chegar no morro, avistamos os meninos na entrada, nos aproximamos pra Carina falar com o PD, avisto de longe o PD, e mais três caras. Logo que viram a gente se aproximando, ficaram observando. Senti dois olhares em cima de mim, logo reconheci um dos donos do olhar. Terror, tava encostado no poste, me observava na cara de pau. Vim "conhecer" ele recentemente, quando a Carina me mostrou, me informando que ele era o mais novo chefe daqui. Ele é bonito, não posso negar. É alto, cabelo preto, corpo um pouco robusto e musculoso, tem a pele preta de tom claro, aparentemente com algumas tatuagens pelo corpo. O desgraçado é bonito, não vou negar.
- Boa noite! – Falo juntamente com Carina e todos respondem ao mesmo tempo.
- Qual foi, Carina? Não vai apresentar a amiga não? – o outro cara que me observava fala e o encaro, fechando a cara – Com todo respeito, claro! – Ele diz dando um sorrisinho safado
Ele também é bonito, alto, corpo estilo do Terror, pele negra retinta, algumas tatuagens também, e o que me impressionou foram seus olhos verdes, bem bonitos. Apesar do desgraçado ser bonito, tô fora de me envolver com esses caras.
- Essa é a Yasmin, e não é pra teu papo não, DG. Se liga! – Carina fala e ele ri se fazendo de ofendido.
- Quer carona? – PD pergunta pra Carina, nem reparei, mas ele estava em cima de uma moto, trezentas, preta.
- Não precisa, vou subir com a Yasmin – Ela diz já se afastando pra gente seguir caminho.
- DG leva ela, pow. Sobe aí – Ele diz ligando a moto, enquanto o DG subia em outra trezentas, porém vermelha.
Carina me olha esperando minha aprovação. Acabo aceitando só pelo cansaço, já que ainda tenho aula hoje.
Subo na moto do tal do DG, e ele logo arranca com a moto, ele me pede pra explicar o caminho e assim faço. Logo estamos na frente da minha casa.
-Tu que é filha do Eduardo? – Ele pergunta me olhando de cima a baixo
- Infelizmente – digo sem um pingo de animação.
Ele me olha meio sem graça e dá um leve sorrisinho.
- Me passa teu insta ai, pow. – ele fala me entregando celular com o Instagram aberto, olho pra ele desconfiada – Sem maldade, só pra nois bater um papo, tu parece gente fina – ele diz se defendendo. Acabo abaixando a guarda e pego o celular, começo a me seguir no celular dele e entrego o celular de volta.
- Obrigada pela carona – agradeço sincera
- Tá cansadona, né? – ele pergunta
- Demais, e ainda tenho que ir pra escola – Falo destrancando a porta de casa.
- Posso te levar lá, também tenho aula – ele diz
- Nunca te vi lá – Falo desconfiada com esse papo dele
- Vou começar uma aula de box lá, daqueles projetos que tem lá pra galera da comunidade – ele fala. Me recordo de ter ouvido algo sobre isso mesmo.
- Então eu aceito sim, só porque hoje tô cansadona – falo me rendendo ao cansaço
- Já é, conta 20 que eu chego aqui – ele diz e sai rapidamente com a moto.
Entro rapidamente em casa para me arrumar, vai que esse doido chega antes dos 20 minutos.
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Graças a Deus já é a última aula do dia, não tava aguentando mais, ainda bem que é meu último ano. Estava só esperando a professora entregar a minha avaliação para eu ir pra casa.
- Yasmin Santos – a professora me chama, vou até sua mesa pegar minha avaliação. – Tudo bem com você, minha querida? Seu desempenho caiu muito, você sempre se saía tão bem na minha matéria.
- Não tô tendo muito tempo pra estudar, professora. Tô trabalhando o dia todo lá na zona sul, quando chego aqui, já tô cansadona, só tô vindo pra não ficar com peso na consciência.
Ela me olha meio triste, mas compreensiva. Pego minha avaliação e saio da sala. Ao sair no portão da escola, vejo que DG estava na moto, aparentemente esperando alguém. Ao me ver ele se ajeita na moto.
- Bora, preta! – Ele fala e faz um gesto para eu subir na moto. Vou em sua direção e subo na moto. – Vamo comer algo, tô com mó fome.
- Vai pagar pra mim? – brinco com ele e ele permanece sério
- Claro, eu que te chamei pra ir – ele diz e sai com a moto.
Chegamos rapidamente na moça que vende cachorro quente, próximo da minha casa.
- E ai, tia! Pega dois dogão completo ai, pra comer aqui. – Ele pede e a gente se senta numa mesinha do lado de fora, a noite tava fresca e agradável. – Tu tem frescura pra comer?
- Que nada, tenho não. – Falo – E eu vou pagar o meu.
- Quero só ver – Ele fala rindo
Dou risada também e ele fica me observando, acabo ficando um pouco sem graça e resolvo puxar assunto
- Me fala um pouco de tu – falo enquanto observava o mesmo
- Tu quer saber o que? – ele pergunta
- Sei lá, teu nome, tua idade, o que gosta de fazer, como entrou nessa vida, essas coisas – Digo e apoio meus cotovelos na mesa, me aproximando dele e o encarando.
- Meu nome é Diego, tenho 22 anos, eu gosto de praticar esporte, jogar bola, vôlei de areia, box e afins – Ele diz e para um pouco, aparentemente pensando – Entrei nessa vida com 17 anos, quando minha mãe foi demitida e não tínhamos dinheiro pra alimentar meus irmãos mais novos, então a única saída que eu achei foi essa. – Ele diz meio desapontado.
- A realidade é complicada – Digo, sem ter muito o que comentar
- É mesmo, preta. – ele diz – Agora conta de tu
- Me chamo Yasmin, tenho 18 anos... – sou interrompida por ele
- Caô que tu tem 18 – ele diz surpreso começa a rir
- Por que a surpresa? – falo sorrindo, achando graça da situação
- Com um corpão desse ai, pow. – ele diz e fecho a cara e ele ri – Não, pow. É porque tu é bem batalhadora, sempre te vejo indo pra o trabalho e chegando, vejo teu pique.
Dou um sorriso tímido e somos interrompidos com a mulher entregando o nosso pedido. Comemos e conversamos um pouco mais, assim que terminamos, a mulher trouxe a conta, quando fui pagar, ele entregou o dinheiro a mulher e me puxou pra moto.
- Que pilantra você – digo e ele ri. Logo ele me deixa em casa, ele se despede, agradeço pela carona e pelo lanche, ele sorri e vai embora.
Ao entrar, vou logo tomar um banho para ir deitar, pelo jeito estou sozinha em casa, pego o celular para ligar para minha mãe, mas vejo sua mensagem:
"Trouxe seu pai no postinho para tomar um medicamento, não precisa esperar a gente chegar."- Mãe <3
Respondo ela e vou me deitar. Sinto que amanhã o dia vai ser longo.
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Realidade Na Favela
Roman d'amour+18| Não, essa não é como aquelas histórias em que a patricinha vai até a comunidade e se apaixona por um bandido. Essa é a história da Yasmin, uma jovem de 18 anos, nascida e criada em uma das maiores favelas do Brasil, a famosa Rocinha, no Rio de...