࿐ Capíтυlo Inicial

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Gritos e lamúrias implorando pela morte eram ouvidas da parte mais profunda do castelo real... As consecutivas sessões de tortura não tinham fim, não enquanto os guardas daquele local não ouvissem o que queriam. Arrancavam unhas, dentes, cortavam mãos, pés, faziam o que fosse necessário para obter a confissão por eles exigida.

— Então, queres reformular o que disseste? — a voz grossa e intimidadora de um deles enchia o pesado e silencioso calabouço. Cometiam aquelas atrocidades mesmo na frente dos outros prisioneiros, serviam como exemplo e como forma de ameaça. Oferecer resistência não era boa ideia, era o aviso que lhes passavam.

— N-não... NUNCA RETIRAREI O QUE DISSE! — os pingos de suor caíam em massa pelo rosto e corpo de mais um condenado por ordem de Sua Alteza, Richard III, o pesadelo de todos os cidadãos daquele reino. O desgraçado tremia, já não sentia parte dos seus membros superiores porque já não os tinha, no entanto, a adrenalina produzida loucamente pelo seu ser permitia-o ainda ter coragem para olhar o homem rude de pé à sua frente, a lâmina inundada de sangue que o mesmo impunhava já não lhe causava mais emoção nenhuma. O prisioneiro torturado sorriu, os dentes partidos pelos sucessivos murros administrados mostraram-se. — Sua Majestade vai cair! Eles vão matá-lo! Não importa que me mate agora, isso não vai mudar nada! POR ISSO, FORÇA, MATE-ME!

Dois tiros foram disparados. Um no peito e outro na cabeça. Foram o suficiente para o calar pela eternidade.

— Levem-me esse merda daqui. — sempre era dita a mesma frase após a morte de mais um...

Mas quem eram "eles" que o coitado referiu com tanta esperança, com tanta admiração, com tanta confiança depositada?

Eram os vândalos, selvagens, desordeiros, fora da lei, enfim... Traidores. Era assim que os associados do rei os chamavam. Mas para a população, eles eram o vislumbre da luz ao final do túnel, a tocha que iluminava os seus dias, eram os seus heróis...

Os únicos que desafiaram a autoridade e o poder de El-rei e que ainda estavam vivos para contar a história. Ainda há dias os guardas falavam entre si, entre murmúrios baixos e sussurros quase mudos, que o maior parceiro de negócios de Sua Majestade tinha sido brutalmente assassinado por eles.

Por eles... Eles, um grupo de cinco elementos que se autointitula de Assombrações da Noite.

Mas seria prudente confiar tão excessivamente em cinco pessoas? Cinco pessoas iriam mudar anos e anos de escravidão e agonia? Eram cinco seres humanos contra uma nação inteira...

Não é possível...

Ou talvez fosse...

Tão incerto.

— Idiotas, acham que os vossos queridos "amigos" se preocupam convosco? — o mesmo guarda prisional riu-se alto, muito divertido. — Se é assim, então porque eles não vos vêm salvar? Eles é que vão cair, Sua Majestade não permitirá que ninguém lhe faça frente! Ainda por cima uns pirralhos!

Verdade, eles eram novos... Muito novos... Ainda tinham muito que amadurecer.

Muito que aprender.

De facto, Richard III não ia aceitar tal afronta. E ia já colocar o seu plano em prática.

Veria se aqueles rebeldes sobreviveriam àquilo.

Com sorte, morreriam.

Com azar, sobreviveriam.

Ou ao contrário?

É tudo uma questão de perspetiva, não é? Que engraçado, nem a essa pergunta podemos responder.

O futuro... Quem pode falar de futuro? Será bom? Será mau?

Ou será que aquela nação não tem futuro?

𝕽𝖊𝖇𝖊𝖑𝖉𝖊𝖘 ࿐Onde histórias criam vida. Descubra agora