Capítulo 1 sem título

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Impassível o tempo passou, e como não passaria...A primavera com seu ar sereno adentra a estação novamente, e eu floresço radiante, enfim floresço por conseguinte, revejo tantas coisas que permaneceram em outras estações. Reviso algumas teorias que manti fixas por algum tempo, verdades que eu criei, e validei como absolutas. O ultimo relacionamento sério que eu tive-diga-se de passagem- há oito meses atrás foi um relacionamento abusivo onde após o termino- bem abrupto- eu ressignifiquei muitas atitudes, depois de um tempo quando consegui olhar para trás e disercnir. A questão é que cristalizei uma visão muito cíclica de tudo que passou. Após a culpa, ainda que sem muito fundamento,que massacrou ao por um ponto final naquele relacionamento, consegui racionalizar a luz do equilíbrio emocional cheguei a seguinte conclusão, na maior parte do tempo não havia sido feliz com ele, pois eu não tinha a liberdade de ser quem era, em mínimos detalhes. O culpei por tanta coisa que passou, mas na época eu me sujeitava, calava minha voz em muitas situações, sem nem saber ao certo porquê. Não era fácil ir embora, mas quando fui, a principio me culpei miseravelmente, depois entendi que eu estava apenas pondo meu amor próprio em primeiro lugar. Com o passar do tempo criei dele certo asco, e intitulei como maior erro da minha vida-sem exageros- principalmente ao saber que menos de dois meses depois ele estava namorando outra, um outro compromisso, um relacionamento oficial e publico e apenas um mês e meio após o termino. Ok as vidas seguem, óbvio que seguem, mas eu me questionava, como poderia ser tão rápido assim? Ainda mais porque todos diziam que ela era a minha cara- até ele mesmo disse- numa outra circunstância quando ainda não a namorava- e aquela época doloroso foi admitir que realmente a sua nova namorada realmente se parecia comigo, os traços do rosto, a cor da pele, cabelo, altura e até mesmo o gosto pelos ambientes os quais freqüento. Qual a probabilidade estática disso acontecer? Bem, matemática nunca foi lá o meu forte, mas sei bem o quão isso absurdamente surreal, até inicial do nome é a mesma.Concluí que havia sido mais um peça no tabuleiro emocional de um homem que não sabe ficar só,haja vista que o mesmo também começou a me namorar exatamente no mesmo período de tempo que ficou solteiro depois que terminamos, um mês e pouco. Quando o conheci achei estranho ele se apaixonar novamente tão fácil em pouco tempo para quem havia rompido um relacionamento de cinco anos, o qual o gerou em um filho, no entanto pensei " tudo bem, essas coisas acontecem, ás vezes a gente encontra o amor quando menos espera" pensamento ingênuo de quem não sabia aonde estava pisando.

  O fato é que passado uns três meses após o fim, quando eu já havia o encontrado com sua nova namorada num desses ambientes que sempre freqüento- e ela também, cumprimentamos por mera formalidade, apenas um oi seco e frio. Nesse tempo passei a o enxergar como um erro que cometi, alguém que não merecia sequer qualquer consideração. Indiferença era a palavra chave, pouco me importava o que sucederia de sua vida, se o namoro ia bem, se havia lido minha carta, o porque não respondeu, se ia enfim formar na faculdade, concluir o tcc, eu não queria mais saber de nada que dissesse respeito a ele e por muito tempo afirmei, se pudesse apagaria tudo, exatamente tudo o que vivemos e não deixaria nenhum vestígio para contar história, pois toda vez que me lembrava de tudo que vivemos, as únicas memórias que me vinham a tona eram sempre as mesmas. Portas batidas. Dedo na cara. Gritaria, confusão, choro, manipulação emocional,discussões infindas. Lembrar, sempre tinha um gosto cinza e amargo.

Na minha história, apesar de admitir e saber bem todos meus erros, ele irremediavelmente, era o vilão,afinal eu havia pedido perdão por tudo, e fora algo sincero, numa carta que nunca foi respondida, quiçá sequer lida. Na época eu o disse que sentia necessidade de um pedido de perdão por todas as magoas que numa mala densa carregava comigo, mas isso não era e nunca fora de sua natureza,não compactuava com suas ideologias, e sim das minhas, então mais ainda eu o culpava e desse ciclo não saía, havia sempre uma magoa guardada numa gaveta qualquer no subsolo do meu coração, por mais que não admitisse. E Não havia no mundo que me fizesse pensar que esse relacionamento tinha sido um grande erro- até porque não havia mesmo ninguém em minha vida, ou quase ninguém que pensasse o contrario disso, ainda mais os amigos que sabiam exatamente como havia sido traumático o desfecho num dia tão especial para mim- meu aniversário- carreguei sentimentos extenuantes comigo durante uns três meses, depois jurei indiferença e de fato eu tinha sim, certa indiferença a ele, sua vida não me interessava e não tinha sequer curiosidade de saber qualquer coisa a seu respeito.

No entanto o outono passou, o inverno me trouxe experiências singulares as quais sou imensamente grata, tanta coisa acontece em oito meses, que é impossível dizer que sou a mesma, ainda que esse seja um dos mais altos clichês, é real. A Letícia magoada, ferida, cheia de magoas, dores, cicatrizes não existe mais, a Letícia que dizia não se importar mas no fundo sempre restava aquela magoazinha escondida no cantinho da gaveta, em algum lugar muito remoto e distante, para ninguém ver. Mas o mundo, o meu se abriu tanto, e florescendo está de tal forma que não me cabe todos esses sentimentos e isso não uma autojuda barata ou espiritualidade vendida em facebook,em alta por aí. Ainda tenho cicatrizes, e sei que sempre as vou ter. Isso me compõe e faz parte de quem sou, não anulo toda toxidade que foi esse relacionamento, o controle, a manipulação e os erros mútuos, sigo alertando muitas mulheres que se encontram na mesma situação, não porque sei de alguma coisa, mas de mulher pra mulher que já passou por isso, a gente se entende e se fortalece, seguindo juntas nessa luta. Meu processo de cura foi realmente gradual, diligente. Tive aquele 'boom' para repensar algumas concernentes a isso, quando tive um pequeno episodio de crise de labirintite. Não estava em casa, passava o mês fora. E levantei sobressaltada com tudo ao meu redor girando- como eu odeio essa sensação- e automaticamente me lembrei da última vez que tive uma crise dessas, cerca de um ano atrás. E me surpreendi ao ter a primeira lembrança boa depois de todo esse tempo. Ele segurava minha mão e me falava para respirar fundo, largou os afazeres e sentou ao meu lado no chão de seu quarto, eu agoniada sem saber o que estava acontecendo só queria que tudo parasse de girar, e ele me abraçava. Acordei no outro dia Antonita por essa lembrança ter invadido a fresta e passado em meio a tantas lembranças ruins quando se tratava dele. Foi então que comecei paulatinamente a repensar tudo e conclui que tudo bem, algumas coisas simplesmente acontece, não que isso o isente da responsabilidade de tudo que vivemos, do atos abusivos, mas entendi que não tinha porque o culpar por ter escolhido tentar de novo em pouco tempo, quem sou eu para julgar o tempo do outro? Longe daquela ótica imparcial de mulher ferida, machucada eu compreendi que não me cabia formular nenhuma teoria a seu respeito, não era pertinente a mim emitir algum julgamento pelas escolhas que decidira fazer após nosso termino. Compreendi que simplesmente acontece e é mais comum que se pensa procurar num novo amor traços do anterior, sejam físicos ou na personalidade e isso não invalida nenhum amor nem outro, ainda que também não me interesse mais julgar se foi amor ou não- questão a qual me debati arduamente para encontrar uma resposta, mas hoje sou livre de algumas conclusões que não mudariam absolutamente nada.

Oito meses, primavera outra vez- estação a qual me apaixonei- e nunca me senti tão fértil a florir em diversas áreas de minha vida, ouso dizer que o perdão genuíno e um olhar de um outro primas fora um facilitador para essa minha nova estação. É preciso mergulhar em si, desbravar outros mundos, se conhecer mais, seja por arte, terapia, meditação ou o que quer que seja, só não da para constamente alimentar monstros emocionais que vivem de migalhas de um passado remoído, porque sinceramente a gente pode ir além, muito além. Há tantas galáxias que anseiam serem exploradas, por que insistir em se fazer refém de um passado que castigou, a perspectiva da jornada de cura e libertação pode ser tão ampla, vibrante após desmistificar o gosto amargo e cinza que é lembrar.

Impassivel o tempo passou- e como não passariaWhere stories live. Discover now