O Alívio

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Confesso que não tinha me dado conta de como seria voar de avião. Afinal nunca fiz isso antes. Estou meio apavorada, e lembrar de filmes que envolviam voos não é o melhor a se fazer.

Há uma leve neblina se formando lá fora. Sim, eu estou olhando em direção a janela, e mil cenários se passam na minha mente.

Ansiedade. É o que sinto nesse momento, enquanto a comissária de bordo dá as coordenadas e o avião se prepara para decolar. Inspiro e Expiro. Sei que preciso me acalmar pelas próximas oito horas de voo. O bebê sente tudo o que estou sentindo e também está bastante agitado.

- A Sra. está se sentindo bem? Quer tomar alguma coisa?. Pergunta a aeromoça.

- Estou bem, só nunca entrei em um avião antes. Obrigada por perguntar. E aceito uma água se não for incomodo. - Falo meio rápido. Fazer o quê? Estou nervosa.

- Não é incômodo algum. - Responde ela com um sorriso, saindo pelo corredor e desaparecendo no final do mesmo.

Após receber a água e agradecer. Abro  a garrafa e bebo em pequenos goles. Revezando entre respirar.

Algum tempo depois me sinto estranha, fico com um pouco de cansaço nas costas e começo a sentir uma dor chata na barriga, que durante os próximos minutos aumenta. Me levanto e vou ao banheiro.

Me surpreendo que os lugares não estejam tão cheios. Na verdade, são poucos os que estão ocupados.

Ao sair, sinto um pouco de tontura. Não sei o que está acontecendo comigo. Durante todos esses meses não senti nada, só cansaço e dor nas costas por conta da barriga enorme. Constato que deve ser por causa da altitude. Não entendo dessas coisas.

Começo a perceber que tem algo de errado comigo. Estou com um pouco de cóloca e isso não  esta certo. Já estou ficando preocupada, pois ainda devem faltar umas quatro horas para aterrisarmos.

Olho para a aeromoça, estou com a expressão aflita e ela deve perceber isso pois vem em minha direção com as sobrancelhas franzidas.

- Está tudo bem? Precisa de alguma coisa? - Pergunta ela, preocupada.

- Na verdade não. - respondo envergonhada, como eu disse anteriormente, não gosto de incomodar ninguém. - Não estou bem. Estou sentindo dores na minha barriga que só aumentam e um pouco de cólica. Não era para acontecer isso, ainda falta um mês para nascer.

- Fique aqui que vou falar com o segundo comandante, não temos médico a bordo mas temos treinamento para emergências. - Responde ela, tentando me acalmar. Confirmo, enquanto mordo o lábio inferior para não gritar quando uma pontada me atinge. E fecho os olhos tentando respirar calmamente.

Quando abro os olhos novamente, me deparo um par de olhos castanhos preocupados olhando para mim.

- Olá Sra. Molina. Eu sou o segundo comandante, Gustavo Maldos, tenho treinamento para esse tipo de emergência e gostaria de pedir que me acompanhasses para examiná-la. - Só aceno com a cabeça, pois ainda continuo sem conseguir responder. Caminho com um pouco dificuldade, ainda me sinto estranha.

- Pode me detalhar tudo o que está sentindo? - Ele pede enquando me senta em uma poltrona confortável, na sala que deve ser para o conforto da tripulação. E passo a contar tudo o que estou sentindo. Ele sempre muito atencioso comigo, aparenta saber bem como realizar esse tipo de atendimento. O que me deixa mais relaxada. Eu o observo. Ele é alto, cabelo escuro e curto, pele morena, mais para bronzeado. Perco o olhar analítico quando a dor me atinge mais forte. Trazendo com ela um mal-estar. Me sinto suando.

- A Sra. está entrando em trabalho de parto. E preciso examiná-la para saber se conseguimos chegar em terra firme. Mas acho que não vai dar tempo, ainda temos algumas horas pela frente. - Fico chocada com a informação, não era para ser agora. Algo pode dar errado. Já começo a me culpar por não ter esperado dar a luz para poder viajar.

- E se não der tempo, o que vai acontecer com meu bebê? - Pergunto já deseperada. Eu sei que tenho que me acalmar mas não consigo. Desde que subi nesse avião a ansiedade se apossou de mim.

- Eu preciso que a Sra. respire, que se mantenha calma. Vou deixá-la com a comissária Anny e ela vai fazer o toque para saber quantos cm de dilatação e tempo nós temos. - Concordo com a cabeça sem responder. Ela me passa um roupão enorme e dar privacidade para eu retirar minhas roupas.

Depois que a chamo de volta, ela faz uma cama com uns cobertores, acredito que seja para ser mais confortável. E pede para que eu me deite. Nesse momento a preocupação não deixa que me sinta constrangida.

Ela faz o toque e quando termina me cobre. Ela sai da sala e em seguida o comandante entra.

- A senhora está com oito cm de dilatação, peço que acalme-se, pois temo que não teremos mais muito tempo. Logo teremos que dar inicio ao parto normal. - Ele para de falar e espera minha confirmação. O que ele espera que eu faça? Não vou me opor. Meu Deus, como isso pode acontecer comigo, entrar em trabalho de parto dentro do avião?. Ele ainda parece esperar. Confirmo que eu entendi.

- Então fique tranquila enquando vamos preparar tudo para quando a hora chegar.

Tantas vezes escutei que partos duravam muitas horas, que antes da mulher dar a luz, ela sofre com muitas dores, que são muitos gritos antes do alívio. Mas comigo não aconteceu nada disso. As contrações, que só agora descobri serem as pontadas que eu estava sentindo, não foram tão terríveis assim. Elas iam aumentando sim, mas estavam suportáveis, só o desconforto na minha parte íntima. Suponho eu, que seja devido a dilatação para a passagem do bebê. Do Meu Bebê.

Só agora que estou pensando, que vou finalmente ter meu filho em meus braços. Que nada mais será como antes.

Agora é a vez do comandante fazer o toque. E ele diz que está na hora. Que estou pronta. Me deixando com um misto de sensações,  mas o medo é a pior delas.

Eu pensei que já tinha passado por tudo nessa vida, mas é quando ela vem e me surpreende.

Depois de muito seguir as orientações, para empurrar e respirar e continuar empurrando, depois de lagrimas e suor derramados. Enfim o alívio e muito mais lágrimas derramadas quando pego aquele pequeno ser nos meus braços.

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