Roleta Russa

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Em algum lugar daquela pequena cidade, mais especificamente no Apartamento 604 do sexto andar de um prédio em Seattle (EUA), Tyler Stewart observava. Observava a foto de sua  ex namorada, Deborah, ex por questões do destino. A menina tinha cabelos ruivos, pareciam chamas, chamas que brilhavam refletidas nos olhos de Tyler. Chamas que agora se apagaram. Tyler olhava ora para a foto, ora para a Beretta 9000 apoiada sobre a mesa ao seu lado. A pistola apoiada a mesa, a mesa sobre o chão da sala, a sala perdida em meio a latas de tinta preta abertas e espalhadas por todo o chão e por todas as paredes. Revistas playboy  e ao mesmo tempo livros de literatura infantil espalhados por todo o local. Páginas rasgadas, como as de Tyler. Já não se podia achar o fim para nenhum livro ali, como o que Tyler tentara escrever. Nesse mesmo momento o universo exclamava: "Ah, Tyler, como pode ser com você?", ou talvez, fosse apenas o fantasma mental de Tyler vitimizando-se. Ele não entendia. Tyler na verdade não sabia o que não entendia, somente que não entendia nada. Sua mente tentava processar tudo o que acontecera, sua alma assumia uma culpa que o instinto não aceitava. Seus punhos cerrados se desfizeram e seus dedos agarraram a pistola. Tyler pensava sem querer pensar, Tyler aproveitava a emoção e a adrenalina que corriam pelas suas veias naquele momento, para fazer o que deveria, o que achava que deveria. Lembrou de sua mãe, seus irmãos, lembrou de sua falecida avó, lembrou de Deborah. Um soco espiritual no estômago. 

-A culpa não foi minha! -Tyler gritou.

 "Seria o dia de hoje, a hora que é agora e o momento em que vivo, minha vez de partir?" ele pensava. 

Tyler analisou toda a situação em sua mente mais uma das 60 vezes, largou a pistola sobre a mesa novamente e agora estava tomando um gole de seu Jack Daniel's. 

-Vamos fazer um jogo, Tyler -dissera para si mesmo e colocava a pistola na mão. O tambor da pistola totalmente carregado, mas Tyler já não a queria desse jeito. Descarregou-o até sobrar apenas uma. Tyler girou o tambor da pistola e fechou-o, transformando a localização da bala em desconhecida. Contou até três, o suor gelado escorrendo pelo canto da testa. 

-Suas talvez últimas palavras, Tyler? -ele disse ainda para si mesmo num tom sarcástico, mas com uma falha na voz, trazidas pela insegurança e pelo medo. "Que forma mais covarde de morrer." ele pensava, e repetia a mesma frase em sua mente, freneticamente. 

Um. Dois. Três.

Pensava em suas chances nessa roleta russa. Por que se sentia mais aliviado em saber que eram muitas? Não queria realmente morrer? Talvez não quisesse, mas tinha que tentar.

Quatro. Cinco. Seis.

Era algo incontrolável, a sensação era a melhor e a pior do mundo. Pela primeira vez na vida, sentia o futuro em suas mãos. Mesmo sabendo que pelo menos duas pessoas no mundo estavam tomando a mesma decisão que ele naquele momento, ele se sentia único. Pensou na forma em como essas possíveis duas pessoas estavam tentando suicídio. E pela primeira vez, a palavra "suicídio" ocorreu a sua cabeça, por vez que até agora ele só denominara tal ato como "morte premeditada por mim mesmo".

Sete. Oito. Nove. 

Será que existe algum Deus? O perdoaria? Tyler sempre ouvira sua avó dizer que suicídio era pecado sem possibilidade de perdão, já que não haveria mais oportunidade de o pedir. Não se importava, não acreditava. Tyler simplesmente não achava algo plausível. Estava decidido a arriscar sua vida ali, naquela roleta russa. Entregara sua vida nas mãos do destino.

Dez. 

Click. 

Tudo ficou preto. 

Porém, Tyler abriu os olhos. Via tudo, ainda enxergava o mundo, mundo o qual tentara se livrar exatos 36 segundos antes. Vencera a roleta russa. Parecia que o destino tinha lhe dado uma nova chance. 

Pegou seu casaco e com um estrondo fechou a porta atras de si, rumo as movimentadas ruas de Seattle. 

Uma estrela está faltandoWhere stories live. Discover now