Estou a olhar para o meu reflexo no espelho, e a perguntar-me porque é que estou a fazer isto a mim mesma. Porque é que estou a perder a cabeça por um pequeno erro? Penteio o meu cabelo, imaginando aquilo que as pessoas pensam quando passam por mim. Será que pareço bem? Não, claro que não pareço. É como se nunca tivesse existido.
Um longo suspiro sai por entre os meus lábios rosados, mostrando o meu cansaço. Estou sozinha, completamente sozinha, mas mesmo assim,suspiro na esperança de que alguém perceba como estou. E como é que eu estou afinal? Estou perdida. Quanto mais tento, menos resulta, e uma voz dentro de mim grita para que eu desista. Mas não posso, não agora.
O meu cabelo levemente ondulado cai pelos meus ombros; os meus lábios cor de cereja tremem, mas é algo a que acabei por me habituar; os meus olhos misturados em tons de verde e castanho-avelã, perderam á bastante, demasiado tempo o seu brilho. Brilho esse que ele levou consigo, tal como levou o meu coração. Ele levou-me consigo e não me deixa esquecer isso.
O meu telemóvel vibra sobre o pequeno móvel de madeira junto do meu espelho, despertando-me dos meus pensamentos. O ecrã ilumina-se, e as letras aparecem, avisando-me de que tenho uma nova mensagem.
De – Faith
Estou á tua espera. Queres o costume?
Para – Faith
Sim, por favor. Estou aí dentro de cinco minutos.
Ajeito a mala no meu ombro e olho uma última vez para o meu reflexo, confirmando se tenho tudo aquilo de que preciso. Tenho os meus típicos converse brancos, umas calças de ganga ligeiramente rasgadas ao nível do joelho, uma camisola cinzenta simples, e um casaco preto. Os meus olhos arregalam-se quando encontro as minhas velhas marcas nos pulsos. Puxo apressadamente as mangas para baixo e agarro-as com as pontas dos dedos. Ninguém pode saber. Ninguém pode saber.
“Então, sempre vens comigo amanhã?” A voz da Faith interrompe os meus pensamentos enquanto olho para o grande parque pela janela.
A Faith é uma rapariga bastante amável. Tem dezoito anos como eu e está no primeiro ano da faculdade de direito. Desde pequena que sonha em ser juíza ou advogada, mesmo em pequena lembro-me de a ver defender todos aqueles que podia, mesmo que isso implicasse prejudicar-se a si mesma. É algo que adoro nela como minha melhor amiga. Ela tem cabelo ruivo também ligeiramente ondulado, e os seus olhos são bastante verdes, quase como que uma jóia acabada de ser polida.
“Onde?” Franzo a testa.
“Francamente…” Ela carranca. “Ouviste algo daquilo que acabei de te dizer?”
“Talvez…” Murmuro enquanto brinco com a palhinha da minha bebida.
“Continuando…” Ela sorri para mim. “Queria saber se sempre vinhas dar uma volta comigo amanhã, já que é fim-de-semana. Queria mesmo que conhecesses o Ryan, ele é adorável.” O brilho nos seus olhos aumenta assim que ela se refere a Ryan, o namorado. Tenho ouvido falar dele nas últimas semanas, mas pensei que, como anteriormente, fosse algo de passagem. Pelos vistos enganei-me. “Ele vai levar um amigo e-“
“Oh.” Interrompo-a enquanto reviro os olhos. “Já sei do que se trata. É outra das tuas tentativas para me fazeres sair. Um encontro duplo? A sério, Faith? Este já é o… quinto este mês? Vá lá.” Dou outro golo na minha bebida enquanto a observo a preparar uma resposta para me dar.
“Desculpa.” Ela murmura e por leves momentos sorrio e preparo para aceitar as suas desculpas, mas ela tem algo mais a dizer. “Desculpa se te quero ver feliz.” Vai começar. “Não suporto ver-te assim. E tu sabes o quão horrível isso é, mas mesmo assim não fazes nada para mudar! Estou farta de tudo isto. Passaram-se quase dois anos, Vicky… Vais insistir em sofrer por ele? Ou vais dar-te a oportunidade de seres feliz?” Ela ergue a sobrancelha enquanto o seu olhar ardente no meu parece queimar-me por completo enquanto eu não aceitar. Suspiro e deixo a minha cabeça cair para trás.
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Jar of Hearts [hs]
Fanfiction‘Who do you think you are? runnin’ ’round leaving scars collecting a jar of hearts tearing love apart’ -Christina Perri