— Pra fora, Virgem! — O treinador soprou o apito, ordenando que Afonso se retirasse da quadra.
Ele havia lançado a bola direto na cabeça do treinador e um inchaço enorme se formou na sua careca. Era péssimo em todos os esportes e já havia tentado de tudo, mas era obrigado a participar pelo treinador carrasco que o via e chamava-o sempre pelo nome do seu pai, uma rixa antiga entre eles. Pelo menos, agora, achava que seria proibido de entrar na quadra por um tempo.Sentou-se na arquibancada, debruçando seus cotovelos sobre os joelhos e depositando o queixo sobre as mãos.
— Você é péssimo. — a garota de cabelos loiros presos em um rabo de cavalo parou na sua frente. Afonso passou a mão na nunca e respirou fundo.
— Sai da minha frente. — empurrou Darla para o lado, ela estava fazendo-o perder o restante do jogo. Mas como um bumerangue ela voltou a tampar sua frente com o traseiro enorme.
— Você me persegue. Se não gosta de mim por que insiste em falar comigo? — Disse sem fazer contato visual com a garota, desviando o olhar para o jogo.— Quem disse que não gosto de você? — Darla piscou várias vezes consecutivas, talvez para parecer meiga. Tentativa inútil, se ele a via como um pedaço de alface, sem gosto e que era desnecessário comer, mas que mesmo assim tinha que engolir todos os dias.
Ele começou a imaginá-la como um alface, só que podre e velho. E percebeu o quão estranho havia sido a analogia que tinha feito.
— Me deixa sua alface. — Pensou alto demais.
— Hm? Você é tão estúpido e infantil!
— Falou o abacate maduro. — Ele protestou com o nariz torcido.
— Pague o meu dinheiro!? — A garota ergueu a mão aberta para ele, enfurecida.
— Eu vou pagar, tá? Passe lá em casa se quiser.
— Passarei lá antes de ir para o banco.
Darla era a tesoureira da turma, ela conseguia ser pior que o Seu Barriga cobrando o aluguel.
•••
O céu limpo, sem nuvens, não davam resquícios de chuva próxima. A noite estava abafada demais, a casa parecia ter diminuído, sem espaço, faltava oxigênio. O sol parecia ter esquecido de levar o seu fervor consigo e a noite se iniciou quente demais.
A conta de luz já estava vindo muito cara e a mãe de Afonso já havia encaixotado o ar-condicionado há um tempo no quartinho dos fundos.A campainha tocou, deveria ser Darla que ainda não havia ido buscar o dinheiro pela tarde como tinha prometido. Se questionou porquê ela não esperou até o dia seguinte para receber o dinheiro, talvez para se certificar que ele entregaria mesmo.
Se irritou pensando que ela achava que ele não pagaria. Até porque tinha a consciência de nunca ter atrasado as mensalidades.
Abriu a porta e ela estava parada lá fora, com um sorriso torto e usava um vestido de mangas caídas que caía muito bem nela, contornando todo seu corpo, como os quadris largos. Realmente muito bonito. Balançou a cabeça em negação reprimindo os desvaneios descabidos com a garota.
— Veio buscar o dinheiro? — Tratou de adiantar o assunto.
— Disse que viria. — A voz angelical e calma demais.
— Por que não veio a tarde? Já anoiteceu, por que não esperou até amanhã? — Interrogou-a.
— Não pude vir a tarde, mas precisava ver você. — Ela apertou os lábios.
— Me ver?
— Sim.
A garota passou para dentro, fechando a porta com o pé, e colou o corpo com o do garoto, aproximando suas bocas cada vez mais.
Ele estranhou.
Ela o beijaria? Darla Vicente o beijaria? Estava convicto que passava de mais um de seus joguinhos.
Ela não iria fazê-lo de idiota mais uma vez, ou faria?
Aliás, ele também queria isso. Queria muito. E deixou que a garota o beijasse, e retribuiu com todo fervor, com toda intensidade.O seu beijo era extremamente selvagem e explosivo e ele estava gostando, mas em vez ou outra sua consciência se perguntava o que estava acontecendo com ele.
Ele estava completamente envolvido, surpreso com a reação da garota que ele nunca imaginaria ter tal atitude.
Ela beijou seu pescoço e seu corpo estremeceu. Beijou a garota com mais intensidade, às vezes pausavam o beijo e se olhavam, os dois pareciam estarem confusos com tudo aquilo e voltavam a se beijar novamente sem trocarem nenhuma palavra.Teve certeza, iria acontecer. Perderia a virgindade com a garota que minutos atrás odiava mais do que tudo e agora não sabia explicar os sentimentos que corropiam seu corpo.
Estavam na sala, no corredor, estavam perto demais do seu quarto.
Se desajeitou esbarrando pelas coisas até chegarem e a garota trancar a porta do seu quarto bem atrás dela.
Ela se deitou em cima dela, enquanto deslizava suas mãos no seu corpo, e beijava carinhosamente seu corpo. Não havia muita iluminação, quase nada. Desceu o vestido da garota devagar, deixando-a apenas em peças íntimas. Passou a mão por seu corpo, musculoso, musculoso demais.
Procurou rapidamente o interruptor com uma das mãos para iluminar o quarto e para que pudesse ver a garota.
Deu um leve sobressalto, tirou a garota de cima dele e levantou-se da cama enquanto Darla continuava sentada.
Ela não era uma garota. Na verdade, ele já não entendia mais nada. Seu corpo era todo masculinizado. Tinha peitoral, e ombros largos, os braços fortes e as mãos enormes.
— O que foi? — Ela perguntou.
A voz de Afonso falhava e a respiração estava pesada, pressionou as têmporas se recusando à acreditar. Aquela garota complementente delicada, não era uma garota, era um homem.
Ela sorriu largamente se inclinou para perto de Afonso, ele endureceu.
Afonso deu passos para trás e ela se levantou da cama, se aproximando devagar.
Afonso berrou.
Em um sobressalto do sofá abriu os olhos, a televisão estava ligada. Percebeu que o filme que assistia já havia acabado. Estava calor e ele estava coberto por um edredom quente, o corpo todo suado e os olhos arregalados, ainda meio trêmulo.
Havia sido um sonho.
E Darla não era um homem. Ela ainda era uma garota — que ele detestava — e eles não haviam se 'pegado'.
Puxou ar dos pulmões, e suspirou aliviado.
Por dois segundos pensou que poderia ter sido real e levantou a coberta meio desconfiado.
Estranhou a si mesmo.
Estava ereto. Por Darla Vicente. Se sentiu enojado e reprimiu aquela sensação brigando com si próprio. Ele se sentia traído por ele próprio. Por ter sentido tudo que sentiu, mas se sentiu aliviado em pensar que aquele desejo havia sido involuntariamente.
Seu celular vibrou na mesa de centro da sala. A foto de Darla iluminou na tela, o nome salvo "Cavalo manco".
O som do celular foi anexado ao da campainha que não parava de tocar.Abriu a porta e a garota estava lá, dessa vez com uma camiseta laranja e um short jeans.
Ela batia os pés impacientes no chão e tinha os braços cruzados, parecia estar esperando lá fora há alguns minutos.— Por que demorou tanto pra atender essa porta?! — Darla questionou irritada.
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Metidos a Heróis
HumorO que acontece quando um grupo de adolescentes rejeitados querem se meter a super-heróis? Os amigos, Vitor, Afonso e César, são convidados para uma suposta festa a fantasia na casa de Darla; a garota com cara de anjo e sorriso maquiavélico, da qual...