Capítulo 3

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            – Tri, preciso falar com você. Posso ir até sua casa? – perguntei pelo comunicador em meu pulso.

Almocei em tempo recorde enquanto pensava numa forma de ir até o Delirium novamente. Se as acusações de Adrian estivessem corretas, precisava conversar com meu pai. Ele não poderia implementar leis abusivas como aquela em Terycen. E se eu voltasse lá, poderia conversar com as pessoas dos outros reinos e com Adrian para descobrir de onde vinham suas informações. Entretanto, eu sei que seria muito perigoso voltar ao bar em um período tão curto de tempo. Ainda mais para conversar com alguém que está ameaçando minha família.

Se eu fosse rápida, conseguiria ir até a casa da Triene – pois não fica muito longe do castelo – e voltar antes da aula de Mandarim, sem levantar suspeitas.

– O que aconteceu? – ela perguntou instantaneamente.

– Falo quando estiver aí. – respondi encerrando nossa ligação.

Juntas acharíamos uma forma de entrar em contato com Adrian. Se é que é esse mesmo o nome dele.

Percorri os corredores do castelo rapidamente procurando me manter discreta. Não gostaria de atrair atenção da nossa convidada.

– Você sabe que não posso fazer isso! – escutei meu pai esbravejar quando passei próximo ao seu escritório.

Veja bem, meu pai nunca levanta a voz. Jamais. A não ser que seja em comemoração a algum jogo. Em todos os casos ele acredita que uma voz calma e firme é a melhor forma de comunicação.

Então você deve imaginar como fiquei surpresa ao ouvi-lo se exaltar assim.

– Todos os líderes estão adotando novas medidas. Você vive no século passado onde o povo ainda precisava do consolo pós-Guerra. As coisas mudaram. Terycen deve ser governada a pulso firme.

– Não acredito que você possa me dizer como governar meu reino da melhor forma, Sibella. Terycen não é o maior e mais próspero à toa. Enquanto Terbala sofre uma grande crise econômica com a nova lei implementada, Terycen tem produzido como nunca.

– Você precisa fechar as fronteiras e fazer o que é certo! – ela disse. – A Ordem espera que todos nós nos portemos assim.

Era fácil perceber que a tranquilidade de Sibella estava por um fio, e que a do meu pai já havia desaparecido.

– Nós somos A Ordem, Sibella! Você, Jar, Judi, Haramessi, Levia, Shawn... Nós somos A Ordem. Nós temos que decidir o melhor para o mundo de forma justa! Pelo menos é esse o princípio que me foi passado e é o que tenho passado a minha filha, que governará um dia. É esse o princípio que deve mover nossas decisões.

– Jar e eu fizemos o que é certo para Terbala. As mulheres são apenas um paliativo. Medidas precisavam ser tomadas!

Fui me aproximando lentamente da porta, e encontrei aquela pequena fresta do lado esquerdo, um espaço entre a guarnição e a porta, que me dava uma visão direta da mesa do escritório.

Meu pai e Sibella estavam de pé com a mesa entre eles esbravejando um contra o outro. Nunca pensei que veria ele assim, muito menos a polida e recatada rainha Sibella.

– Este é o meu reino, Sibella. Escravizar meu povo nunca será a solução correta.

– Mas é a única solução. Não estamos falando em escravizar. Isso não existe de a nova Ordem Mundial e você sabe disso. Estamos propondo um aumento de impostos...

– Exorbitantes! – meu pai a interrompeu.

– Que traria a vocês de Terycen uma movimentação na economia. Isso estimularia o crescimento da renda.

Meu pai sorriu.

– Foi isso que aconteceu a Terbala? Quando vocês aumentaram os impostos e impediram as mulheres de trabalhar, foi isso que aconteceu? Por que, segundo os registros da embaixada nacional, nunca houve um número tão grande de imigrações de Terbala a Terycen como nos últimos três meses.

– Isso é por que você mantém o povo acomodado! Os pobres se conformam com sua vida, pois vocês facilitam que ela seja boa. Os... Os ricos estão... Incomodados com tantas facilidades. Além de não ter laboratórios ou campos em Terycen, vocês ainda mantêm os mais pobres confortavelmente estáveis. – Laboratórios? – É quase como se eles tivessem os mesmos direitos.

– Mas eles têm! – sussurrei indignada, mas eles não me ouviram.

– Sibella, eles têm. E não vou tirar isso deles por capricho dos mais ricos, de forma alguma. Faço o que é melhor para todos, seja rico ou pobre. E isso tem dado certo. – a voz de meu pai voltou ao normal. – Talvez os outros reinos devam copiar meus métodos.

– Você não sabe o erro que está cometendo. A Ordem está observando.

– Com todo o respeito, Sibella. A Ordem vai entender, mesmo que seu marido e você não concordem. Agora, se me der licença...

– Nós temos Frinik, Worr, Rodut, Oridi, Arla e Nari. E a cada dia conquistamos mais reinos como aliados. Em breve você verá que, se não ceder, acabará perdendo recursos. Vai ser bem interessante assistir as revoltas começarem entre seu povo quando verem que os medicamentos estão escassos, ou que a tecnologia está mais cara. É apenas uma questão de tempo até você se aliar a nós. É assim que o mundo funciona.

– Não o meu. – meu pai respondeu firmemente me matando de orgulho.

– Como quiser, Rei Keplan. – Sibella respondeu com seu tom polido e se dirigiu a porta.

Corri para entrar no próximo corredor do castelo e aguardei o som de passos. Respirei fundo ao notar que ela estava indo embora caminhando em direção a porta principal do castelo.

Quem quer que o tal Adrian seja e de onde quer que ele tenha conseguido suas informações, estava certo. E isso era simplesmente aterrorizante.

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