Capítulo 1

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Era 15 de maio de 1975.
Uma quinta-feira típica. Um dia como outro qualquer, nada de extraordinário ou mesmo remotamente interessante sobre ele.
Mas seria o dia que mudaria minha vida para sempre.
Eu tinha chegado um pouco mais cedo do que o habitual naquela manhã é feito algumas tarefas antes da escola. Eu não tinha que fazer as tarefas, mas eu estava acostumada a fazer por mim mesma e havia outras coisas que eu queria terminar depois.  Tomei um rápido café da manhã com torradas e um copo de suco de laranja, em seguida, carreguei minha pequena mochila. Não era realmente uma mochila, mais parecia com uma bolsa de pano folgada com cordas que eu podia carregar nos meus ombros e usar nas minhas costas para fácil transporte. Parecia pequena, mas conseguia carregar bastante coisa.
Naquela manhã, ela iria guardar minha carteira com a minha permissão de motorista e quatro dólares. Eu não tinha idade suficiente para ter uma licença oficial ainda; eu tinha acabado de fazer 15 anos, três meses antes. A bolsa também carregava meus óculos de leitura, uma escova de cabelo, gloss com sabores de maçã, dois absorventes, uma caixa de anticoncepcional e dois livros didáticos : geometria avançada e química. Eu tinha terminado meu dever de casa na noite anterior, dobrado as folhas de caderno no meio e enfiado entre as páginas dos meus livros. Todo o resto que eu precisava para minhas aulas eu mantinha em meu armário na escola.
Eu usava uma calça jeans de cintura baixa, boca de sino, com um cinto de macramé, um top florido camponês e sandálias. Eu tinha a mesma jóia que usava todos os dias : brincos de argola de prata e um feltro marrom como uma gargantilha que tinha um sinal de paz pendurado. Embora fosse o sul da Flórida, em maio, a manhã ainda poderia ficar um pouco fria, então eu usava um poncho vermelho e branco que Delia tinha tricotado.
Naquela manhã, meu padrasto, Vince, tinha me levado ao ponto de ônibus. Eu poderia ter andado, mas era longe, então eu pegava carona com Vince sempre que podia. Ele poderia me levar todo o caminho para a escola, mas teria que dirigir em outra direção para fazer isso, e eu não tinha algum problema em andar de ônibus.
Eu poderia ter pedido uma carona a Matthew, mas algo estava errado com ele. Matthew estava no último ano e eu estava lhe dando aulas particulares, e nós nos tornamos próximos. Não éramos um casal, mas eu sabia que ele estava interessado. Eu também estava ficando mais próxima de sua família. Na verdade, eu passava mais tempo com eles do que com a minha. Menos de uma semana atrás, ele me deu um beijo de boa noite na minha varanda. Mas agora ele estava me dizendo que não precisava da minha ajuda com as aulas particulares e não tinha tempo para ser meu amigo. Antes, ele oferecia-me carona até a escola. Não mais, eu acho. Mas como eu disse, eu não tenho problemas com o ônibus.
— A gente se vê mais tarde, garota. — disse Vince quando pulei da van vacilante.
— Até mais tarde, Vince.
Aquele dia foi um dia normal na escola. Fui poupada do constrangimento de esbarrar com Matthew. Nós não tínhamos as mesmas aulas e não saíamos com o mesmo grupo. Mas, ainda assim, teria sido legal perguntar-lhe a razão por trás do fim abrupto da nossa amizade. Eu estava mais curiosa do que magoada. Quer dizer, tinha sido apenas um simples beijo de boa noite.
Eu tinha acabado toda a minha lição de casa no momento que a aula terminou, o que significava que eu poderia me permitir ir à biblioteca pública depois da escola. Se eu tivesse lição de casa, teria ido direto para casa ou para Smitty's. Mas nos dias que eu não tinha lição de casa, eu gostava de ir para a biblioteca pública e mergulhar nos livros. Eu ia para lá desde a escola primária, e tinha feito amizade com todos que ali trabalhavam. Eu só precisava pegar um ônibus diferente da escola. Nós não deveríamos trocar de ônibus sem uma permissão assinada a cada vez, mas todos os motoristas do ônibus me conheciam, e Delia tinha dado sua aprovação no início do ano. Eu fazia tantas vezes que eles tinham parado de pedir a permissão
— Oi Gin, nenhuma lição de casa hoje, eu vejo. — Sra. Rogers, a bibliotecária, disse enquanto eu caminhava através das portas. Eu apenas sorri e acenei para ela enquanto me dirigia para o catálogo de livros. Por muito tempo, eu tinha pensado em procurar alguns livros sobre John Wilkes Booth. Estávamos estudando o assassinato do presidente Lincoln na escola, e eu já tinha devorado os livros da biblioteca da escola. Eu queria ver se a biblioteca local tinha mais para oferecer sobre o assunto. Eu estava com sorte.
Às cinco horas era hora de começar a arrumar as coisas, então eu levei meus três livros para a recepção para fechar a conta
— Precisa fazer uma ligação? — perguntou a Sra. Rogers
— Sim, por favor. — eu respondi. Elas costumavam me deixar usá-lo para chamar Delia ou Vince para uma carona até em casa.
Vince deveria estar atrasado com seu cronograma de entrega porque não estava de volta ao armazém. Deixei uma mensagem dizendo que eu precisava de uma carona da biblioteca para casa, mas que eu iria tentar chamar Delia também. O que eu fiz, mas não houve nenhuma resposta de onde ela trabalhava. Isso poderia significar algumas coisas: ela tinha ido embora, ou estava conversando com um cliente e não queria atender ao telefone, ou talvez ela estivesse no quarto dos fundos e não o ouviu. Oh, bem, isso tinha acontecido antes. Não é grande coisa.
— Você vai ficar bem, Ginny? — perguntou a Sra. Rogers. — Eu não quero fechar e sair, se você não tiver uma carona. Eu ficaria feliz em levá-la para casa.
Ela era doce. Oferecia a cada vez que eu não tinha uma carona para casa
imediatamente.
— Ah, não tem problema, Sra. Rogers. Eu vou a pé até a loja de conveniência e beber algo. Vince sabe que tem que passar por lá se a biblioteca estiver fechada.
E foi isso que eu fiz. Como tinha feito uma centena de vezes no passado. Eu comprei um refrigerante e me sentei com as costas contra a entrada. Eu bebi meu refrigerante e estava tão absorvida em um dos meus livros que quase não notei quando uma moto barulhenta parou.
Não foi até a pessoa que a conduzia a desligar e começar a caminhar em
direção a mim que percebi que alguém estava falando comigo. Eu ouvi uma risada, em seguida:
— Deve ser um bom livro, esse que você tem o seu rosto enterrado. Eu te fiz uma pergunta sobre o que você está lendo desde que estacionei a minha moto e você nem sequer me ouviu.
Olhei para cima. Ele parecia um típico motoqueiro. Altura média. Moreno, cabelo desgrenhado que apenas tocava o colarinho. Ele usava calça jeans, botas e uma camiseta branca sob uma jaqueta de couro. Ele sorriu, e
eu respondi com um sorriso sincero.
— História. Lincoln. — isso foi tudo o que eu disse. Eu não era de flertar e
acho que ele não precisava de mais do que isso. Eu imediatamente olhei de volta para o livro que eu tinha encostado aos joelhos.
Essa resposta pareceu convencer, porque ele não disse mais nada
enquanto abria a porta e ia para dentro.
Ele saiu alguns minutos depois com uma Coca-Cola. Agachou-se ao meu
lado e olhou para o livro que eu estava lendo à medida que bebia seu
refrigerante. Sem qualquer aviso, começou a me envolver em uma conversa sobre Abraham Lincoln e mais especificamente sobre Booth. Eu achei o que ele estava falando interessante, então fechei meu livro e virei para dar-lhe toda a
minha atenção. Ele era bonito e parecia ser um cara agradável - nada parecido com o que eu esperava da aparência de um homem em uma moto.
Depois de alguns minutos de discussão sobre John Wilkes Booth a
conversa ficou pessoal, mas não de uma forma perturbadora. Ele perguntou quantos anos eu tinha e pareceu realmente chocado quando eu disse que tinha quinze. Ele me perguntou o que eu estava cursando, onde estudei, os meus hobbies, coisas assim. Ele parecia realmente interessado e até brincou:  
— Bem, acho que eu vou ter que voltar em três anos, se eu quiser levá-la em um encontro de verdade ou algo assim.
Oh, meu Deus. Ele estava flertando comigo. Eu tinha garotos na escola
flertando comigo o tempo todo. Eles diziam coisas como:
— Gin, como é que você não está lá fora torcendo? Você é tão bonita quanto as líderes de torcida. —
eles estavam sempre oferecendo para me dar uma carona para casa ou
perguntando se eu queria sair depois da escola.
O garoto que eu tinha dado aulas, Matthew, parecia interessado
também. Pelo menos até alguns dias atrás. Ele era um veterano popular e estrela da nossa escola e running back. Ele ganhou o apelido de Rocket Man. Ele era bonito e doce e reprovando em duas matérias. Eu estava dando aula para ele de inglês e matemática. A verdade era que eu gostava de garotos, e Matthew foi crescendo para mim. Eu gostei do beijo que nós compartilhamos. Mas eu não estava interessada em um namorado sério, especialmente aquele que iria embora para a faculdade no outono. Eu tinha muito a realizar antes que pudesse me envolver em um relacionamento.
Mas este era um homem flertando comigo, não um garoto. E eu percebi
que fiquei mais do que um pouco lisonjeada por ele estar tendo interesse por mim.
Infelizmente, eu não sabia como flertar de volta, então reabri meu livro e
apenas fingi manter a leitura enquanto ele falava.
Depois que ele terminou seu refrigerante, perguntou: — Então, o que
você está fazendo sentada na frente da loja de conveniência? Você está
esperando alguém?
— Sim, meu padrasto virá me pegar. Ele deve estar aqui em um minuto.
Ele levantou-se e olhou em volta. — Bem, eu posso te dar uma carona
para casa. Onde você mora?
— Ah, não, está tudo bem. Eu não gostaria que ele aparecesse e não me
encontrasse aqui. Ele se preocuparia.
Na verdade, isso não era verdade. Se Vince não me visse aqui assumiria
que Delia me pegou, e apenas iria para casa.
— Você pode ligar ou algo assim para que ele saiba que você vai pegar
uma carona? — antes que eu pudesse responder, ele disse: — Você já andou em uma moto antes? Você vai gostar. Eu sou um motorista seguro. Eu vou bem devagar e deixar você usar meu capacete.
Mais uma vez não respondi, apenas olhei para ele.
Ele riu, em seguida, disse: — Não é como se eu pudesse fazer algo para
prejudicá-la enquanto você está na parte da trás da minha moto. Sério, é apenas uma carona para casa. Se você não quiser que eu saiba onde você mora, posso deixá-la em uma esquina perto da sua casa. Vamos lá. Faça o dia de um cara velho.
  — Por que não? — pensei, enquanto tentava adivinhar mentalmente sua
idade. Ele era mais velho do que eu, mas não acho que ele era velho. Fechei o livro e me levantei.
— Bem, acho que está tudo bem. Eu vivo fora de Davie Boulevard, a oeste da I-95. É fora do seu caminho?
— Sem problemas.
Ele jogou sua Coca-Cola em uma lata de lixo, virou para mim e segurou
minha mochila aberta enquanto eu guardava meu livro da biblioteca. Ele fez alguns comentários sobre como minha mochila, provavelmente, era mais pesada do que eu. Ele caminhou em direção à sua moto e pegou seu capacete, que estava pendurado no guidão, e me deu. Coloquei minha mochila nas costas, peguei o capacete dele e coloquei. Ficou solto, então ele apertou a alça embaixo do meu queixo.
Ele jogou a perna por cima da moto, montou, em seguida, se levantou. Eu
percebi que ele estava de pé para tornar mais fácil subir atrás dele, o que eu fiz sem nenhum problema. Ele ligou o motor e eu senti um pouco de emoção por estar na garupa de uma moto com um cara mais velho. Eu não era do tipo que se importava, mas por um segundo ou dois, realmente esperava que alguém que me conhecia pudesse ver. Quão profético o pensamento pareceu muito mais tarde. Eu gritei para ele me deixar no Smitty’s Bar e perguntei se ele sabia onde ficava em Davie Boulevard. Ele acenou com a cabeça que sim.
Eu acho que foi o momento em que fui oficialmente sequestrada.
Nós seguimos na direção que eu tinha dito a ele. Em um sinal vermelho,
ele virou e perguntou se eu estava gostando do passeio. Eu balancei a cabeça que sim e ele disse muito alto que ia pegar uma rota diferente para me dar um passeio mais longo. Mas para eu não me preocupar, que ele me levaria com segurança ao Smitty. Eu não me preocupei. Nem mesmo por um segundo. Eu estava me divertindo muito.
Não foi até que estávamos na State Road 84, em direção ao oeste e ele
perdeu a curva à direita para US 441 que senti minha primeira agitação de medo. Foi então que eu percebi que nem sabia o nome dele, e que, com toda a conversa fiada e perguntas que ele tinha feito para mim no 7-Eleven, ele nunca sequer perguntou o meu. O que de repente me pareceu muito estranho.
Eu inclinei para que minha boca ficasse perto da sua orelha e gritei:
— Ei, esse é realmente o caminho mais longo. Eu tenho que estar em casa em breve, ou meus pais ficarão preocupados.
Ele nem confirmou que me ouviu.
Eu me inclinei para trás contra o encosto na moto. Não entre em pânico, não entre em pânico, não entre em pânico. Minha mochila ainda estava nas minhas costas, e podia sentir os livros da biblioteca pressionando contra mim através do tecido fino. Foi então que notei sua jaqueta, pela primeira vez.
Era um crânio com um sorriso sinistro e que parecia ter algum tipo de chifres. Uma mulher nua, de alguma maneira elegantemente coberta, estava envolta sedutoramente por toda a parte superior do crânio. Ela tinha o cabelo castanho escuro com franja e grandes olhos castanhos. Olhei mais de perto e vi que ela estava usando uma gargantilha marrom com o símbolo de paz. Eu levantei minha mão para o meu pescoço. Parecia com o meu. Antes que eu pudesse considerar a estranha coincidência olhei mais para baixo. Para meu horror, eu notei o nome gravado sob o desenho mórbido.
Satan’s Army.

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