2° Carta á vida - Estudar, estudar e estudar

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2 de Janeiro de 2015.

Maldita vida,

Nossa, minha cabeça está latejando de tanto pensar. Quem disse que estudar não cansa?

Hoje o dia foi puxado pra minha inteligência. Vou detalhar um pouco pra ver se desocupo um pouco a mente...

- Bom dia, querida - Minha mãe sorriu pra mim assim que eu passei por ela na cozinha.

- Bom dia -Lhe dei um beijo na testa- Vou só pegar um yogurt e já estou de saída -Fui abrindo a geladeira e procurando meu tão querido Danoninho.

Obrigado por fazer algo tão gostoso, vida. Nessa você acertou!

- Mas já? Nem vai me dar atenção hoje? -Ela forçou uma cara de triste com bico.

- Vou estudar um pouco na casa da Camila antes de ir trabalhar, tenho simulado na faculdade -Já estava saindo da cozinha quando lembrei de pegar minha mochila.

Subi correndo as escadas que davam até meu quarto, peguei minha mochila e meu celular.

7:30hrs, chamada perdida de Henrique.

- Logo agora? -Falei comigo mesma enquanto descia as escadas rapidamente quase tropeçando nos meus próprios pés.

- Cuidado pela rua, filha. Te amo! -Ouvi minha mãe gritar antes de bater a porta atrás de mim.

- Oi amor -Fui andando apressada até o ponto enquanto falava com Henri no celular.

- Tenho que ir aí hoje? -Ele falava tão calmamente que me dava sono.

- Acho que sim, você não apareceu aqui final de semana -Fiz sinal pro ônibus.

Droga, lotado.

- Não poderei ir -Ele deu os ombros- Tenho uma confraternização do hospital pra comparecer.

Respirei fundo pra não mandar ele pra aquele lugar. Precisava me concentrar na missão de virar minhoca e passar no meio de toda essa gente parecendo sardinha enlatada nesse ônibus.

Aquela coisa de asas, ainda está de pé, vida. Por favoor.

- Você anda muito estranho -Rebati.

- Você não entende, Eu sou médico, tenho responsabilidades, não sou como você que tenho tempo, Anna Clara -Ele levantou a voz- Sou um homem ocupado, e muitas mulheres dariam tudo pra me ter como namorado, só você que...-Perdi a paciência e desliguei o cel.

Henrique era insuportável de vez em quando, de tanto puxarem seu saco, ele começou a se achar a última bolacha do pacote e isso me irritava de tal maneira.

- Minha filha é muito rebelde, menina. Faz pouco caso de estudar, só quer saber de farra e namoradinho -Parei pra prestar atenção em duas senhoras que conversavam sentadas no banco onde eu estava encostada.

- Ah, a minha acabou de se formar, eu tive que dar uma lição nela pra aprender as coisas da vida -A outra falou.

- O que você disse a ela? -A primeira moça indagou.

- A verdade. Ela dizia que se sentia muito pressionada pra estudar -A senhora balançou a cabeça negativamente.

Ela não está sozinha, pressão é meu segundo nome, vida.

- Eu disse a ela que quando ela tiver com 40 anos, trabalhando igual burro de carga, ganhando um salário mínimo, morando de aluguel e casada com um pobretão, ela vai saber o que é pressão -Ela continuou. Aquela frase me tocou muito.

Parei pra pensar em você, vida e em tudo que eu podia estar fazendo ao invés de me matando todos os dias.
Mas eu tenho que ser alguém na vida, não posso parar de estudar.

- Abre aqui, motorista -Tive que gritar assim que o ônibus parou no meu ponto mas não abria a porta de trás.

Desci as pressas assim que a porta abriu, nem vi em que momento minha identidade voou do meu bolso.

- Camila -Gritei no portão.

- Pensei que não vinha mais -Ela riu abrindo o mesmo.

- Temos 2 apostilas pra ler, não podemos parar, não quero ser uma fracassada aos 40 anos -Ri.

- Hã? -Acho que deixei ela confusa.

- Depois te explico, precisamos estudar -Entramos.

- Estudar, estudar e estudar -Ela riu.

(...)

Terminamos as duas apostilas eram 8:40hrs. E eu já precisava correr pro trabalho.

- Fui -Abri o portão e fui andando em direção a rua do escritório.

Sorte que não ficava tão longe da casa de Camila.

- Bom dia, Senhorita -O porteiro me cumprimentou- Identificação por favor.

Pra que eu tinha que mostrar a identidade toda vez que eu chegava lá? Sempre achei isso desnecessário. Mas dizem ser "normas do escritório" aff.

Foi nesse momento que percebi que perdi a droga da minha identidade.

Poxa, vida. Você não colabora comigo nunca?

Fui pra casa puta da vida, perdi um dia de trabalho e com certeza um dinheiro no fim do mês.

Droga!

- Amiga, tem uma publicação no Facebook dizendo que acharam sua identidade! -Camila falava do outro lado da linha telefônica.

- Sério? Deus é bom -Respirei aliviada- Me passa o número da pessoa

- Ok, vou mandar no Whatsapp -Desligou.

- Voltou cedo, o que houve? -Minha mãe me olhou torto.

- Perdi minha identidade Mas já achei. Vou descansar -Fui andando pro meu quarto.

- Descansar de que? Vai estudar -Ela ralhou.

- Ta -Revirei os olhos e me tranquei no quarto.

Estudar, Estudar e estudar. Será que pensam que nós jovens somos máquinas de aprender? Não aguento mais Isso, vida.

- Oi? Sou a dona da identidade que você achou -Me joguei na cama enquanto ligava para a tal pessoa.

- Olá, Anna Clara -Era uma voz masculina grave com um grande sotaque carioca.

Não pode ser, minha mãe sempre fala tão mal do Rio que tenho até medo.

- Como posso pega-la com você? -Fechei os olhos por alguns segundos.

- Então, Sou do Rio porém estou aqui no centro de Sampa, pode vir ao meu encontro?

Sampa? Ai como esse sotaque carioca me irritava.

- Posso, mas se você está no centro como achou minha a identidade? -Indaguei.

- Fui na casa de um tio e achei quando peguei o buzão, tá ligado? -Ele falava e eu só sabia revirar os olhos.

Gírias, aff.

- Ok, Onde podemos nos encontrar? -Ignorei toda sua história.

- Onde tu achar melhor, princesa

- Na Praça do Centro às 14:00hrs, tudo bem?

- Fechou.

Pronto, eu tinha um encontro com um carioca estranho. Da pra piorar, vidinha?

Agora eu preciso parar de escrever e ir estudar, Aproveitar esse tempo vago ne. Depois escrevo detalhes de como foi com o maluco lá.

Com rancor, Anna Clara.

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⏰ Última atualização: May 14, 2018 ⏰

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