No canto mais inóspito do universo, além das bilhões de galáxias, passando entre trilhões de estrelas e planeta, no canto mais vazio e escuro. Tão grande é sua escuridão que, mesmo que nasça uma estrela, não conseguiria ilumina-lo completamente. O vazio que percorre o vácuo era quase absoluto, sufocando ainda mais o lugar.
Perdida, perambulando esse lugar, flutuando para mais longe da beleza dos outros espaços do universo, uma bolha pairava, como se uma boca invisível a estivesse soprando, afundando-a para mais fundo ainda dessa grande massa negra.
Tão pequena era essa bolha, com movimentos tão suaves. Parecia ter sido criada pelos lábios doces de algum ser belo e misterioso, cujo o único sussurro pudesse rasgar o espaço de forma perfeita a ponto de criar um outro completamente novo. Mas o que será que essa bolha, tão frágil, estaria fazendo em um lugar tão obscuro?
Anos se passaram, milhões de anos luz de distância da liberdade, e a bolha continuava com seu gélido destino, vazia, prestes a estourar a cada rotação que dava. Mas tudo acabou. O destino dela já estivera delineado desde o primeiro centímetro que percorreu na escuridão.
Sem motivo ou aviso, um brilho azul imenso cortou o interior da bolha, iluminando uma grande distância como uma estrela bebê que acabara de nascer. Conforme o brilho voltava para dentro da bolha, ela se esticava, aumentando seu tamanho, parecendo um grande meteoro transparente e, mesmo depois do brilho azul extinguir-se, a escuridão não foi total. A bolha refletia alguns feixes azuis e o silêncio que corria pelo local foi morto, assassinado por um rugido amedrontador.
Um ser gigantesco, causador da súbita mudança de tamanho da bolha, se enrolava em si, esticando-se em "seu novo lar". Tinha um corpo comprido, escamas visíveis, em formato de espeto, tomavam conta de seu corpo, a barbatana dorsal, em formato de onda por toda a sua costa, tinham espinhos tão grandes que poderiam furar a bolha num piscar de olhos, tinha um grande chifre, como uma espada de pedra, no centro de sua cabeça e dentes tão grandes e afiados quanto às escamas em seu corpo: era Aulin, o Dragão da água.
Por um momento, Aulin encarou seu reflexo, quase invisível, na lisa parede da bolha, em silêncio. Seu olhar amedrontador falava mais que o rugido que escapa por entre seus dentes. Por fim, esticando-se por toda a bolha, o Dragão azul fechou os olhos, sonolento, e dormiu.
Por anos ficou assim. Sem um movimento, sem dar sinal do seu despertar. Sua respiração gelada fazia a bolha encher-se e murchar-se como um grande pulmão redondo.
Seus olhos abriram subitamente na mesma hora que um brilho opaco, mais uma vez, cortou o interior da bolha. Um Dragão marrom, cabeça semi-circular, com algumas frestas para os olhos miúdos, asas imensas e musculosas(com uma grossa camada de rochas cobrindo-as), com alguns sulcos dourados passeando pelo seu corpo e com três chifres saindo de seu queixo. Sian, o Dragão da pedra despertou Aulin de seu sono.
-Como ousa me despertar? --Rosnou Aulin com a voz ainda sonolenta, mas deixando claro sua raiva-- Quem você pensa que é?
A escuridão não permitia que um enxergasse o outro. Estavam cegos, tendo como retina o véu do vasto e escuro espaço.
-Por que deveria responder? --Rosnou, Sian, levantando as asas para amedrontar o anfitrião--
Nada falaram por longos minutos, apenas encararam o escuro.
A bolha estava apertada para os dois e ambos perceberam isso. O silêncio, agora, voltou a perambular pela bolha. Nem a forte respiração dos dragões conseguia sufoca-lo, pois era comandado pela tensão do que estava prestes a acontecer.
Um som molhado invadiu o lugar. Aulin desferiu jatos de água com a boca que acertaram, em cheio, Sian.
A bolha era mais resistente do que aparentava. Nem com o baque do Dragão da pedra ela cedeu. Continuou firme. Sian se levantou, empurrando Aulin com as asas. Se fossem asas comuns, teriam sido destruídas pelas escamas espinhosa, mas essas asas eram revestidas com rochas resistentes, sendo usada mais como escudo do quê como um meio de transporte.
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Contos Fantásticos
Short StoryUm mundo sendo criado; um lugar onde existem quatro sóis e quatro luas, criando um portal quando formam um eclipse, solar e lunar, e libertando várias criaturas medonhas; um mundo partido ao meio, onde as metades se orbitam e uma vez por século se c...