A primeira vez que a vi foi no espelho da porta do meu armário. Eu havia acabado de empurrar meu equipamento de natação com o pé na prateleira inferior e estava pegando, na parte superior, meu livro de cálculo quando ela abiu seu armário no lado oposto do corredor. Ela tinha os cabelos curtos e usava um boné de beisebol.
Ótimo. Agora, eu era obrigada a atormentá-la por desrespeitar o novo código de vestimenta da escola. Mas esqueça isso, pensei. Meu voto — o único discordante em todo o Conselho Estudantil — ainda contava. Pelo menos para mim. No que me dizia respeito, as pessoas podiam vir à escola peladas se quisessem. A questão não eram as roupas.
Batemos as portas do armário em uníssono e nos viramos. Os olhos dela encontraram os meus.
— Oi — disse ela, sorrindo.
Senti um frio na barriga.
— Oi — respondi de um jeito automático. Ela era nova. Tinha que ser. Ou eu a teria notado antes.
Ela se afastou, mas não antes que eu desse uma boa olhada em sua camiseta. Dizia: Sou. E vc?
Sou o quê?
Ela olhou para trás, por cima do ombro, do jeito como se faz quando sabe que alguém está observando. Foi quando notei... havia um triângulo com as cores em arco-íris de baixo da mensagem. Meu olhos baixaram, mas a mantive no meu campo de visão, até que ela sumisse na esquina do corredor.
Transferi minha atenção para o cronograma. Literatura Britânica, Cálculo, História dos Estados Unidos e, depois do almoço, Artes e Economia. Por acaso fiquei maluca? Por que enfrentar o último semestre do ensino médio com essa carga toda? Não deveríamos festejar com os amigos, transar e vagabundear por aí até a formatura? Em algum momento, é claro, tínhamos que decidir que direção nossas vidas tomariam. Uma risada irônica deve ter escapado dos meus lábios. Como se eu pudesse decidir qualquer coisa sobre minha vida.
Percorri o corredor deserto, agarrando os livros junto ao peito. Isso é loucura, pensei. Nem sequer preciso dos créditos. Eu poderia ter escolhido apenas o turno da manhã: primeira aula às sete, aula final à uma, mas, no último instante, acrescentei Economia, então vou terminar o dia junto com todos os outros. Respirei fundo... e tossi. Quem é que precisa encher a cara antes da escola se as alucinações causadas pelos produtos de limpeza, aqui, são de graça?
A manhã passou como um borrão. Quando cambaleei rumo ao refeitório, com a cabeça girando pela quantidade de lição de casa que já havia acumulado, minha ansiedade estava nas alturas. Eu ficaria acordada até meia-noite, fácil.
— Gata! — Kai me chamou do outro lado da cafeteria. Ele correu para as portas duplas para me encontrar. Me beijar. — Estamos logo ali. — Ele apontou o polegar na direção das máquinas de venda automática e esgueirou um braço ao redor da minha cintura, conduzindo-me a reboque.
— Oi, Krystal. Ei, Kai. — Algumas pessoas nos cumprimentaram conforme contornávamos as mesas.
Assumi minha expressão típica de "oh, como estou feliz". Um sorriso engessado. O que havia de errado comigo? Eu adorava a escola. Não via a hora de voltar depois do recesso de inverno.
— Krystal, você viu a sra. Lucas? Ela estava procurando por você — disse Luna enquanto liberava um lugar ao seu lado para que eu me sentasse. — Ela pediu pra você passar no Centro de Orientação Vocacional, hoje, a qualquer hora.
Hoje, amanhã, nunca. Abrindo uma lata de Pepsi Twist que Kai colocou na minha frente, falei para Sulli, do outro lado da mesa:
— E como foi o Natal no Texas?
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Não Conte Nosso Segredo | Kryber
FanfictionVale a pena se apaixonar quando você não poderá contar a ninguém? Com o namorado dos sonhos, o cargo de Presidente do Conselho Estudantil e a chance de ir para uma universidade de Ivy League, a vida não poderia estar mais perfeita para Krystal Jung...