CAPÍTULO 2

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Assim que abri a porta dos fundos, Mamãe chamou:

— Krys, é você? Preciso de você aqui.

Deixei minhas mochilas ao lado da escada e segui a voz vinda da sala.

— Ah, ótimo! — Mamãe disse. — Você pode terminar de dar mamadeira para a Jessica? Preciso muito fazer xixi.

Libertei Mamãe da bebê e da mamadeira.

— Oi, Jessi! — Cantarolei, erguendo-a no ar para que ela sorrisse, mostrando suas covinhas para mim. Tão fofa. Aconcheguei-a na dobra do meu braço e inseri o bico da mamadeira em sua boquinha lambuzada, depois cruzei a sala para ir me acomodar no sofá. Apoiei Jessica nos meus joelhos dobrados. Ela mamou e agitou os bracinhos gordos, fazendo-me rir. Meu Deus, ela era uma preciosidade! Às vezes, era como se fosse minha filha.

Mamãe voltou, respirando aliviada e prendendo os cabelos com a presilha. Ao desmoronar na poltrona, ela perguntou:

— Como foi seu dia?

— Bom. — Deixei os dedinhos de Jessica agarrarem meu polegar. — E como foi o seu?

— Cansativo. Você foi ver a Bonnie Lucas? Pedi pra ela arranjar mais uns catálogos e fichas de inscrições pra você... só por garantia.

— Ah, droga! — Minha cabeça desabou no braço do sofá. — Desculpa, eu esqueci. — "Por garantia" significava para o caso de Vassar e Brown me rejeitarem, assim como fez Harvard. Essas universidades estavam bem longe do meu alcance, mas tentei explicar isso para Mamãe. Ela me obrigou a fazer a inscrição antecipada, apesar de que eu já poderia ter contado a ela qual seria o resultado, antecipado ou não.

— O prazo para fazer a inscrição nas outras universidades é dia primeiro de fevereiro, Krystal — ela disse. — Não temos muito tempo. E você não quer ir para uma universidade estadual como a Metro Urban. — Ela franziu o nariz.

— Vou lá amanhã. Pode me passar essa toalha? — Jessica estava derramando um fio de baba no peito.

Mamãe se levantou e me entregou a toalha que trazia no ombro.

— Faith vai vir neste final de semana.

— De novo? Mas a gente acabou de se livras dela.

— Krystal! — Mamãe me censurou.

— Tá, desculpa, é que... — Mordi a língua. Ela já tinha ouvido isso antes.

Se tenho que defini-la como parente, Faith era minha irmã adotiva má. Era um show de horrores ambulante. Atualmente bancava a gótica, o que era um tanto obsceno por ser logo depois do massacre de Columbine. Eu e ela nos entendíamos como dois polos magnéticos que se repelem. Neal, o meu padrasto, nos apresentou poucas semanas antes que ele e Mamãe se casassem, e naquele mesmo instante eu soube que jamais seríamos uma família unida e feliz. No máximo, eu conseguia tolerar a Faith em fins de semana alternados, mas depois que a Jessica chegou e meu quarto virou um berçário, tive que dividir um quarto com a Faith no andar de baixo. No dia do meu julgamento, o júri vai entender que a ré cometeu assassinato por motivos justificáveis. 

Não era todo mundo que conseguia esgotar minha paciência, mas Faith conseguia e sabia disso. Sabia e fazia de propósito.

Acariciei a bochecha sedosa de Jessica com os nós dos dedos, me perguntando se algum dia tive uma pele tão perfeita.

Mamãe se sentou no braço do sofá, passando os dedos pela minha franja.

— Sei o que você acha da Faith. Mas ela ainda é muito nova.

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⏰ Last updated: Sep 30, 2017 ⏰

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