Capítulo 2

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O Barman voltou do banheiro e sentou no sofá da sala ao lado da namorada que estava bem na ponta do sofá focada em pintar as pontas dos pés da bailarina do enorme quadro que estava em sua frente.

- Em que parte eu estava? - Diz o Barman se jogando no sofá, não tirando a intocável concentração de sua namorada.

- Quando Olivia aceitou fazer a tatuagem...

- Ah sim... Continuando...

Ela aceitou fazer a tatuagem. Pietro marcou com o seu tatuador oficial que fez todas as suas tatuagens. Ele tinha um horário e ela outro, não se veriam durante esse meio tempo, eles se encontrariam de noite, essa tatuagem era como um vestido de noiva que o marido não pode ver antes da hora para não dar azar.

De manhã ele fez o seu lado do círculo do equilíbrio, o Yang.

E de tarde ela foi fazer o seu também.

- Boa tarde, eu vim fazer uma tatuagem, meu namorado marcou um horário para mim!

- Seu nome deve ser Olivia... Me acompanhe por favor.

O atendente levou ela até o tatuador que faria o combinado.

Ela se surpreendeu ao vê-lo. Não era nada do que ela esperava. A sala dele era fechada mas tinha grandes janelas que davam aos clientes uma linda vista da praia.

Nas paredes tinham fotos de outros clientes, gatos fofos e alguns quadros com pinturas de cabanas rústicas.

O tatuador mais parecia um médico. Era um homem alto, negro, careca, bem forte e com uma voz de locutor de uma rádio que toca love songs.

- Boa tarde Olivia. Pietro passou aqui de manhã e me deixou encarregado de cuidar de você como uma princesa. - Disse o tatuador beijando a mão da moça.

- Muito obrigada, eu vim para fazer o Yang, a parte branca do círculo, ele representa o dia então acho que devo fazer esse...

- Ele me pediu para fazer o Yin, mas talvez eu tenha me confundido. Sente-se por favor e relaxe o braço, vou buscar o equipamento e já volto.

Ela aguardou, sentiu as prazerosas picadas da agulha e a tinta entrando em sua pele. Fez o Yang.

Talvez o destino tenha programado isso. Não foi de propósito, foi só uma pequena confusão.

Na hora do jantar, Pietro havia arrumado todo o seu apartamento. Pétalas de flores pelo chão, champanhe e velas.

Olivia realmente não entendia o porque de todos esse enfeites para uma simples tatuagem. Mas aceitou.

Ela entrou e se sentou na mesa para o jantar. Em seguida as luzes ser apagaram e ele entrou na sala. Estava com uma caixa que era verde fluorescente e era a única coisa que ela conseguia enxergar, era uma caixinha pequena e sutil.

Ele a pôs em cima da mesa. E se sentou na cadeira.

- Boa noite Olivia Donato.

- Boa noite Pietro.

- Fez o que eu mandei?

- Fiz. Está coçando e...

- É assim no começo, mas com o tempo você se acostuma. Eu quero ver!

- Está tudo escuro...

- Se vc levantar o braço e abaixar a manga do casaco vai brilhar, eu pedi ao tatuador que fizesse nossas tatuagens com tinta fluorescente.

- Eu não sabia disso!

- Levanta o braço Olivia, deixe me ver seu braço meu amor!

Olivia levantou o braço, Pietro segurou sua mão, ele suava frio como um assassino a cortar sua vítima, levantou a manga do casaco e viu a tatuagem de Olivia.

Ele viu a tatuagem.

Olhou para Olivia, segurou com muita força seu braço.

- Pietro, está me machucando! - Diz Olivia tentando puxar o braço.

- Você acha que eu sou palhaço? Eu paguei pra você fazer a tatuagem certa, e você faz isso?

- Eu não entendo, eu fiz o que você mandou... Me solta Pietro! - Olivia já estava ficando com seu braço vermelho.

- Eu não sou palhaço! - Gritou Pietro levantando Olivia pelo braço.

Ele a pegou e foi puxando-a até a porta.

- Acabou! - Gritou ele jogando-a no corredor entre os apartamentos e bateu a porta, pegando a caixa verde fluorescente, que continha o anel de compromisso, e jogando-a longe.

- O quê?

Olivia estava caída no chão do corredor, com uma marca em cada braço, uma feita por amor e outra por ódio. Mas... Ódio de quê?

Olivia não conseguia entender no que havia errado. Então ela foi beber lá no bar. Encheu a cara e quando já havia amanhecido ela foi para casa. Entre becos e ruas abertas, avenidas e vielas, ela ia se perguntando onde havia errado, tentando entender o por que de tudo isso agora. Ela sempre fez tudo o que ele queria, e fez até essa tatuagem que ela tanto não queria fazer, e no fim ainda não entendia o que havia acontecido.

Na verdade, Pietro era um babaca, ele apenas queria alguém que pudesse controlar, até mesmo marcar essa pessoa como marcavam-se os cavalos antigamente. Olivia era essa pessoa, mas por um simples deslize deixou de ser a preferida dele. A mente psicotica do cara fez ele acreditar que ela o estava desafiando, então ele teria que dar um jeito antes que ela tomasse conta da situação.

Pietro foi criado pela mãe, a mesma que ele fez questão de apresentar à Olivia, o pai... Digamos que ele foi comprar uns cigarros. Porém a mãe de Pietro era meio conturbada por ter sido abandonada com uma criança bastarda, ela tinha dinheiro, havia herdado uma boa grana do seu pai que era um grande empresário, mas ela sofria não por passar necessidades até porque ela não passava, ela sofria por ter sido iludida. E então descontava toda sua raiva no menino, sempre batendo nele por motivos tolos, apenas para fazê-lo pagar pelo erro que não cometeu. Talvez, na mente perturbada de sua mãe, ela achasse que o motivo pelo qual o pai dele abandonou a eles foi o nascimento do menino.

Ele tinha cerca de vinte e cinco tatuagens, tudo quanto é tipo de coisa, animais, palavras em árabe, árvores, monumentos famosos entre outras, e cada uma delas cobria uma cicatriz ou marca deixada pelas surras que levava de sua mãe quando pequeno.

Pietro colocou em sua cabeça que nunca mais iria apanhar de mulher alguma, nem ouvir nenhuma delas gritar ou falar mais alto que ele. Seria o dominador para não ter que ser dominado.

Porém, Olivia não era o tipo de pessoa que precisa ser dominada, ela era calma e tranquila. De família mais humilde, tinha mãe e pai, morava em um apartamento mais barato em Copacana, e quando começou a estudar em uma faculdade pública teve que comprar outro apartamento para morar sozinha, mas conheceu Pietro que fazia companhia, agora em seu apartamento, de fato morava sozinha.

- Como ela não descobriu que ele é esse babaca antes?

- Ah amor, têm caras que sabem disfarçar muito bem... Por que você gosta tanto de pintar quadros com pernas de bailarinas? - Perguntou o Barman deitado no sofá enquanto via sua namorada, agora de pé, pintando mais um quadro com certa dificuldade.

- Bailarinas precisam de suas pernas...

- Mas porque você só pintas as pernas?

- Se não fossem as pernas elas não seriam bailarinas!

- Entendo, se não fosse pela tatuagem talvez Olivia não tivesse ficado tanto tempo sofrendo...

- Vamos tomar um banho?

- Vamos. Deixa que eu lavo essas suas pernas de bailarina. - Diz o Barman pegando sua namorada e levando-a até o banheiro no colo, facilitando muito o processo, já que ela não precisaria ir mancando até lá, o atropelamento que sofreu a um ano e meio antes causou nela muitas sequelas.

- Mas o que aconteceu essa semana amor? - Perguntou a ex-bailarina e atual pintora ao seu namorado Barman enquanto tirava com certa dificuldade a blusa e a calcinha, que eram as únicas roupas que usava.

- Vamos tomar o banho e tirar essa tinta do seu rosto, depois eu termino a história! - O Barman beijou o rosto da sua amante pintora.

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