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     Eu tenho que ir. Mesmo não querendo,eu devo ir. É algo que já estava pré destinado há muito tempo atrás. Eu já tinha noção disso desde pequena. Estava pronta mentalmente. Meu pai e minha madrasta sempre me avisaram. Eu disse para mim mesma que seria até melhor ir. Mas,eu não quero.

Suspiro profundamente colocando a última muda de roupa na mala. Olho para ela pensativa. Vejo na minha escrivaninha,meu carregador,meu celular e meu fone de ouvido. Pego a minha bolsa e coloco tudo isso mais um livro que também estava na escrivaninha. Ponho a no meu ombro direito e fechando a mala em seguida.

Visualizo meu quarto por completo. Trechos de músicas na parede branca;meu cobertor xadrez cinza sobre a minha cama;meu guarda roupa dividido em cores quentes,frias e neutras;a escrivaninha branca com livros de matéria escolar e um abajur prateado em cima; o chão bege um pouco desgastado causado pelo tempo e o tapete creme do lado da minha cama. Digo baixinho:

-- Acho que vou sentir falta daqui -- falo dando um meio sorriso olhando para o tapete creme que estou pisando.

Tiro a mala de cima da cama a colocando no chão e a puxando para fora do quarto. Desço as escadas devagar com a mala vindo atrás de mim. Depois do último degrau,deparo com o meu pai e minha madrasta me esperando. Fico confusa. Meu pai percebe e abri os braços sorrindo. Olho para ele surpresa e o abraço meio tímida. Ele me aperta e diz:

-- Quando foi que você cresceu tanto? -- ele fala baixinho como se fosse só para eu escutar.

-- Nem eu sei direito -- falo no mesmo tom que ele usou.

Ele me afasta com os ombros para me olhar e pergunta:

-- Você vai ficar bem? -- ele me olha preocupado.

-- Eu me viro -- digo sorrindo com os lábios -- Sempre dou um jeito.

-- Eu sei muito bem -- ele responde rindo -- Mas,eu sou seu pai no final das contas -- ele fala pegando meu rosto com as duas mãos me olhando. Ele parecia cansado.

-- Eu também sei disso. Não se preocupe. Vai dar tudo certo -- falo tirando as mãos dele das minhas bochechas e segurando as duas juntas.

-- Okay -- ele diz sorrindo e se afastando e assim minha madrasta se aproxima. Meu sorriso se desfaz. E o dela se abre.

-- Querida,vamos sentir tanto sua falta -- diz ela me abraçando forte. Eu fico parada.

-- Imagino que sim. Mas, se preocupem com vocês -- falo dando um sorriso falso que só ela repara.

-- Pode deixar -- ela retribui o sorriso com um igual.

Me afasto deles pegando minha mala e saindo de casa. Quando chego na rua,me deparo com algumas visitas inesperadas. Sorrio instantaneamente me aproximando deles. Pergunto curiosa:

-- O que vocês fazem aqui?

Eles me notam e abrem um sorriso iluminado. Até que uma louca pula em cima de mim me agarrando e dando um abraço apertado. Olho para baixo e vejo que era a irmãzinha do Bob. Ela me olha e diz sorrindo:

-- Oi pessoa que vai embora hoje!

-- Oi. Sim,eu vou. -- falo sorrindo e olhando para a mesma.

-- Infelizmente. -- diz Bob se aproximando -- Minha vez de abraçar -- ele fala afastando a irmã de leve. Eu fico levemente envergonhada,mas o abraço do mesmo jeito.

  -- Por que vocês não beijam logo? -- me viro para ver quem disse isso e me deparo com a Jenny nos olhando tediosa -- Eu também mereço um abraço -- ela diz fazendo biquinho. Rio e abraço ela. Olho e vejo a Sally tímida esperando sua vez.

  -- Vem aqui,Sally -- rio e me aproximo dela. Ela sorri e finalmente me abraça.

  -- Boa viagem. Tomara que tudo dê certo.

  -- Espero - falo sorrindo meio triste -- Eu tenho que ir na rodoviária,ou seja, me despeço de vocês aqui.

  -- Mas,o meu shipp nem se beijou ainda! -- diz Jenny com uma cara decepcionada.

  -- Engraçadinha -- digo com um olhar fulminante em sua direção.

  -- Você não quer que a gente te largue lá? -- pergunta Bob levemente preocupado.

  -- Gentil da sua parte,mas eu tenho que tentar me virar sozinha -- respondo-o com um sorriso confiante.

  -- Então,esse é o fim? -- pergunta a irmã do Bob em um tom triste.

  -- Não, é apenas o começo -- falo sorrindo e olhando para a mesma.

  -- Que clichê. Credo! -- fala Jenny num tom enjoativo,mas não com intenção de ser arrogante e sim engraçada.

  -- Adeus -- digo entre risadas.

  -- Ou talvez, um até logo? -- fala Sally.

  -- Quem sabe -- digo imaginando na minha volta.

     Dou tchau abanando e vou em direção à rodoviária que por coincidência, não é muito longe da minha casa. Chego em 10 minutos.

     Pego a minha passagem da minha bolsa na parte exterior. Coloco minha mala no porta-malas e em seguida, entrego minha passagem.

-- Você está indo para...

-- Sim,estou. -- digo meio seca e entro no ônibus. Odeio pessoas intrometidas.

     Eu estou calma até. Mesmo que eu não vá ver ninguém por pelos menos uns três anos, eu não estou nervosa. Mas,que estou meio triste, sim estou.

     Espero que eu não conheça ninguém legal para me apegar.

     Coloco meus fones de ouvidos e tiro um casaco que tinha posto na bolsa,pondo em cima do meu colo. Acabo adormecendo.

2 and 1Onde histórias criam vida. Descubra agora