Capítulo um - Um novo começo

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          — Como se sente? — Doutor Isaac pergunta.
         Ele está sentado no seu sofá de couro, no seu consultório com paredes azuis e está com um caderno e uma caneta na mão. Seus cabelos grisalhos estão bem penteados e ele me olha como se me entendesse.
          — Eu me sinto bem. Agora que Paul está comigo, tudo está bem. — Digo.
          — Mas você estava discretamente obcecada em engravidar novamente. Isso mostra que ainda não superou o que aconteceu. — Ele endireita os óculos.
           — Eu percebo que preciso seguir em frente. Eu não posso continuar lamentando. — Olho para as minhas mãos.
          — Você sabe que eu sou psicólogo, conheço você e posso dizer que você está mentindo, senhorita Watson!
          Suspiro. — Tudo bem. Eu menti. A verdade é que eu enganei Paul. A gente transou. Ainda é difícil aceitar aquilo. — Digo envergonhada.
         Ele aponta alguma coisa no seu caderno e olha para mim. — Como se sente por ter feito isso? Engravidar de propósito sem que ele soubesse.
        — Eu não sinto nada. Estou perfeitamente bem. — Entrelaço as minhas mãos.
        — Você acha que isso é certo? Enganar ele? — Ele me olha atentamente.
         — Sim. Eu preciso preencher esse vazio. Outro bebê pode mudar a minha situação. Pode curar o meu sofrimento. Eu fiz isso por um bom motivo.
            — Se ele não quiser ser pai tão cedo? Você disse que ambos têm apenas 18 anos. O que acontece se ele recusar a paternidade?
           Suspiro. — O mais importante é o que eu sinto. Se ele não quiser, eu posso fazer tudo sozinha, mas eu preciso disso. Ninguém entende!
           Ele escreve novamente no caderno. — Você acha que ter outro bebê é a solução para superar a perda de um? — Pergunta cautelosamente.
         Olho para o teto. — Sim. É a única solução para mim. É a única que eu consigo encontrar.
         — Já tentou um relacionamento com alguém depois do incidente?
         — Não. Eu só comecei com Paul. Eu quero que ele seja o pai. — Respondo. Detesto isso, mas Bratt e Liam dizem que tem de ser.
            — O que acontece quando está rodeada de pessoas? Seus amigos, família, como se sente?
           — Bem. Eu esqueço da dor por alguns instantes, mas quando estou sozinha é outra coisa. E eu quero mudar isso. Eu quero poder sorrir até quando estou só, fazer tudo com alegria. Como antes.
          — Entendo. — Ele escreve mais alguma coisa no seu caderno. Eu vejo a hora no relógio no meu pulso. Preciso que isso termine logo.

            Saio do consultório do doutor Isaac e vejo Bratt mexendo no celular. Ele olha para mim quando me vê. Espero que não me pergunte o que o doutor disse.
           — Como correu?
           — O mesmo de sempre. — Digo. — É melhor eu parar de vir aqui. Senão os nossos pais vão descobrir.
          — Você precisa, Jole!
          — Você também! Muito mais do que eu. Você ficou um mês sem falar com ninguém quando... Ela se foi. — Digo.
          — Eu não preciso de um psicólogo.
         — Você quis matar Liam!
         — Antes. Estava bêbado. Já passou. Nenhum psicólogo vai me ajudar. Nada nem ninguém vai me ajudar. Estou bem e estou acostumado com isso. Me deixe!
          — Vê o que está dizendo? Bratt, isso não pode ficar assim. Você nem implica mais comigo. Antes a gente brigava por um biscoito, para comer a última fatia de piza, pelo controle da TV e agora você está nem aí. Eu quero o meu irmão de volta!
          — Você não vai ter. Sinto muito. — Ele abre a porta do carro para mim. — Vamos embora.
          Eu entro e coloco o cinto de segurança. Bratt faz o mesmo e começa a dirigir. Meu celular vibra, mas não atendo. Não é boa ideia conversar com Liam quando Bratt está aqui ao meu lado.
          — Eu sei que é Liam, pode atender. — Ele diz. Mesmo assim não atendo.
        — É melhor não.
        — Está bem. Você vai sair com Paul outra vez?
        — Não hoje. Agora você virou irmão super protetor?
        — Eu sou protetor quando não quero que você se machuque. Infelizmente, errei na minha vez.
          — Vamos esquecer aquele assunto. Eu só quero ir para casa.

Perfeitamente quebradosOnde histórias criam vida. Descubra agora