Música 1: Canção do Alvorecer

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Se eu soubesse a música, apenas naquele dia, eu poderia voltar, poderia ter sido diferente, não teria sido assim. Todos os dias após aquele incidente eu penso nisso.
Ah, desculpe. Meu nome é Keiko, Keiko Sasaki. Sou um colegial no último ano, sim, apesar do nome eu sou um garoto, meus pais eram fãs de uma cantora e planejavam dar esse nome para sua filha, infelizmente os exames de  ultrassom estavam erradas, e assim eu acabei com esse nome.
Você quer mesmo saber a minha história? Certo, vou te contar.

Tudo começou dois anos atrás eu estava no metrô voltando para casa, usando meu fones branco por cima da minha touca preta, ouvindo minha música favorita, "Heavenly Blue", ela sempre me ajuda a ficar calmo, e isso era algo que eu precisava muito naquele momento.

Meu cabelos pretos sempre estavam soltos chegando até o ombro, um pouco arrepiados na ponta, apesar de eu gostar dele assim, isso sempre rendia piadas, principalmente pelo meu nome, com isso, um garoto estúpido achou que seria legal tentar grudar chiclete nele. Pro azar dele eu acabei sentindo e por puro reflexo eu acabei o socando, para o meu azar ele era maior que eu e revidou acertando meu nariz, fazendo com que meu casaco favorito ficasse manchado de sangue, um belo casaco azul, sujo de sangue, certamente não era meu dia.

 — Keiko? KEIKO! - chamava uma garota de cabelos rosa. Jeanne, minha melhor amiga desde os oito anos, costuma ser um pouco barulhenta e mandona. - Dá pra tirar esses fones e me ouvir? É desagradável tentar falar com você usando eles o tempo todo.
—   Desculpe, mas ainda estou com raiva... - respondo ajeitando os fones.
—   Eu não ligo, tire esses fones de uma vez! - e então começa a puxar os fones.
—  Certo, para de puxar, vai acabar estragando, já tirei, satisfeita?

—  Ainda não, que tal sorrir um pouco?

  — Não abusa da sorte, veja estamos chegando na nossa estação - começo a me aproximar  das portas enquanto o condutor anuncia a próxima estação.

  — Você podia me visitar, você passa muito tempo fechado no seu quarto... Eu ... - nesse momento o metrô para e nós dois começamos a sair junto com a multidão.

Enquanto subo as escadas, um calafrio passa pela minha espinha,e os pelos do meu braço começam a formigar, meu corpo todo trava de repente e eu sinto como se algo estivesse sendo arrancado de mim, por um segundo minha mente começa a ficar vazia e minha visão embaçada,enquanto a música aos poucos dá seus acordes finais.
  — Anda logo garoto, está atrapalhando a passagem! - diz um homem de terno esbarrando em mim, me fazendo recuperar a consciência.
— Ah, de-desculpe... - então saio e fico esperando Jeanne longe da multidão. 

Apesar de esperar por apenas alguns segundos, foi como se houvesse passado horas, que sensação foi aquela?  Deve ser apenas resultado de todo esse estresse, preciso voltar para casa logo.
  — Jeanne, você acha que eu devia cortar meu cabelo? - pergunto enquanto tiro um caderno e uma caneta da mochila.
— Ah, não sei, desde que te conheço seu cabelo sempre foi assim. Para que são esse caderno e caneta?

— Isso? Eu estou pensando quais músicas devem tocar no aniversário do meu pai, todos anos eu sempre escolho as mesmas músicas, mas acho que é bom colocar algumas músicas novas.

— É daqui a três dia certo? Acho que você não precisa pensar muito, tanto você quanto seu pai gostam de música, logo é difícil  uma música não agradar vocês dois.

  — Tem razão.Hum? Melhor andarmos mais rápido, acho que vai chover. - digo enquanto sinto pequenas gotas acertarem meu rosto. -  Não quero ficar resfriado com esse nariz quebrado.

   — A culpa foi sua, era só ter desviado. - fala enquanto acelera o passo.
   — Não foi culpa minha...  

Melodia Distante: Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora