— Chegou a hora do nosso encontro, pelo visto recebeu meu aviso, Keiko Sasaki.
Essas palavras, essa voz indistinguível, tudo isso foi suficiente para que todo meu corpo gelasse, quem poderia ser? É seguro olhar para trás?
— Eu sei o que está pensando, Sasaki, pode olhar, não farei nada.
Ao olhar, a única coisa que vejo é uma pessoa usando uma máscara branca, suas roupas são difíceis de ver no escuro, mas algo chama minha atenção, embora sua máscara seja branca, ela tem uma marca vermelha, a mesma marca do cartão, um relógio com foices nos seus ponteiros.— Sei que é uma pergunta meio óbvia, mas por acaso foi você que colocou o cartão na minha casa? - eu devia correr, mas apesar de sua presença fria e assustadora, eu não me sinto ameaçado.
— Sim e não. Aquilo foi meu eu de dois anos atrás, desde então eu venho esperado o dia que poderíamos nos encontrar.
— Espera, você fez isso? Mas porque?
Essa pessoa tira máscara, em meio a escuridão, duas pequenas luzes brilham, pequenas luzes verdes.
— Meu nome é Meli, você já deve ter conhecido minha mãe hoje mais cedo. - certo, isso não faz sentido nenhum para mim, mas continue lendo, isso fica mais confuso ainda - Eu estou aqui pra te ajudar com o seu poder.
— Me ajudar com meu poder? Okay, isso não faz sentido nenhum, e quem é a sua mãe? Ela não seria a tal Madame Celestia? - eu tendo me esforçar para não sair gritando pedindo ajuda - Tudo bem se eu acender a luz?
— Sim, pode acender. - eu acendo as luzes, Meli não parece ser mais velha que eu, possui cabelos ondulados e escuros, sua pele é um tom de oliva diferente, quase como se ela vivesse em uma praia, seus olhos não são verdes, são cor de âmbar, estranho. - Está certo, Madame Celestia, ou Celestia Grafi, seu real nome, é a minha mãe. Como eu disse, estou aqui para te ajudar.
— E como você sabe do meu poder e porque quer me ajudar?
— Você achou o que? Que era o único no mundo com um poder? Além de você, mais 3 pessoas tem habilidades assim. Uma delas sou eu. - Meli pisca e seus olhos começam a emitir uma luz verde. - Eu posso ver através do tempo e mandar mensagens através de mim mesma. Eu escrevi aquela mensagem e fiz meu eu passado enviar para você.
— Então foi você que colocou aquilo na minha estante? - pergunto, embora ache que não.
— Não sei do que está falando, eu apenas me fiz entregar um cartão na sua casa. - ela pisca novamente, seus olhos voltam a cor normal enquanto me encara confusa.
— Certo, e como você me encontrou? E o que são essas outras pessoas?
— Uma pergunta de cada vez. Essas pessoas são apenas pessoas com muita sorte, ou muito azar, visto que todas tem sua fonte de poder de um trauma, e geralmente ligados a algo que goste. Eu encontrei você por acaso, estou procurando a Dama da Mente, mas acabei encontrando o Mestre do Tempo.
— Olha moça, desculpa mesmo, mas isso só tá fazendo tudo mais confuso. - okay, uma maluca invadiu a minha casa. - E o que são esses nomes? Dama da Mente, Mestre do Tempo? Que nomes mais infantis.Ela se senta ao meu lado, me encara por alguns segundos como se estivesse decidindo se deve me matar ou vale a pena me ajudar como propôs.
— Keiko, minha família tem ajudado essas pessoas através das eras, é como uma lei da vida, não importa se mudamos de nome, ou de lugar, sempre iremos encontrar essas pessoas. - seu tom de voz é calmo e gentil, como se quisesse me convencer de algo. - Eu não pretendia te ajudar, já que seu poder não me ajudará em nada, mas se eu te encontrei, tem algum motivo.
Me levanto e vou até e vou até o fogão e começo a esquentar água na chaleira, fico um tempo observando o fogo bruxuleando em baixo da chaleira.
— Certo, com o que exatamente você pretende me ajudar? - eu evito olhar para ela
— Acho que é bem óbvio, pretendo te ajudar a encontrar o assassino dos seus pais, e em troca você me ajuda a encontrar a garota que falei.
— Certo, acho que não tenho muita escolha, não consegui muitos resultados sozinho, ou melhor, nenhum resultado. - a chaleira apita, eu a pego usando luvas e então despejo em duas xícaras brancas, depois colocando os sachês de chá dentro.
—Eu sei que tem muita coisa pra explicar, e eu prometo explicar assim que chegar a hora.
— Hum, precisava mesmo invadir minha casa e fazer esse mistério todo? - pergunto enquanto coloco as xícaras na bancada.
— É, desculpa quanto a isso, eu achei que não me levaria a sério se não fizesse algo chamativo. - ela pega o chá e bebe um pouco mesmo quente - Quanto máscara, tempo me lembra Cronos, achei que seria legal fazer algo assim.Começamos a conversar normalmente, seria interessante ter uma conversa assim em situações normais, ela me contou coisas sobre a sua vida para que eu confiasse nela, me disse também que tudo aquilo que sua mãe fez foi apenas encenação e que aquele brilho verde em seus olhos é inspirado nos seus olhos, foi uma conversa divertida, acho que poucas vezes falei com alguém assim, as horas foram passando.
— Você não devia ter ido embora? - pergunto assustado ao olhar para o relógio na parede.
— Não, eu vou dormir aqui agora que tenho o trabalho de te ajudar. - Meli me olha com cara de pouco caso, como se isso fosse normal. - Espero que não se importe
— Como disse? - a encaro incrédulo - E a sua mãe?
— A essa hora ela já deve estar bem longe daqui, em outra cidade, enganando trouxas. - um sorriso surge em seus lábios ao dizer isso.
Que maravilha, agora eu tenho uma colega de quarto contra a minha vontade, acho que devo ter um dom extra, o dom de atrair pessoas estranhas. Arrumo o sofá para Meli dormir, assim que termino de arrumar ouço o barulho de algo caindo na minha cama, vou até lá olhar, ela está deitada da minha cama, tento chamá-la, mas já está dormindo.
Me sento no sofá, ligo meus fones, "Heavenly Blue" , começo a pensar na longa conversa que tivemos, em nenhum momento ela pareceu mentir para mim, espero não me arrepender disso no futuro, aos poucos o sono chega, não consigo mais manter os olhos abertos e acabo dormindo.Acordo no dia seguinte com Jeanne e Meli me encarando.
— Quem é ela? - ambas perguntam ao mesmo tempo, o mesmo tom autoritário e ao mesmo tempo furioso.
Eu começo a explicar, apresento uma para a outra e digo que Meli é uma prima distante que veio me visitar, obviamente Jeanne não parece acreditar nenhum pouco nisso, apenas ergue a sobrancelha incrédula, porém muda de postura em seguida.
— É um prazer conhecer você, Meli. - seu tom é extremamente seco, mesmo assim ela força um sorriso.
— Igualmente, Jeanne. - Meli também usa o mesmo tom áspero, porém não sorri.Deixo as duas conversando, parece que estão tentando se matar através das palavras, e vou lavar o rosto. Volto depois de trocar de roupa, acabei dormindo com a mesma, me sento na bancada e tomo café, não sei o que houve enquanto fui no banheiro, mas as duas conversam agora como se fossem melhores amigas, mulheres são estranhas.
Termino de tomar café e saio para trabalhar, as duas me seguem, apesar de poder viver com o fundo de garantia dos meus pais e o dinheiro da venda da casa, não acho que isso seja certo, por isso trabalho num emprego de meio-período na loja de conveniência no fim da rua, 4 dias por semana.***
Algumas horas depois meu expediente termina, as duas ficaram o dia todo me olhando trabalhar e cochichando algo, não há nada pior que duas garotas cochichando e olhando para você, parece que estão te julgando, ou fazendo piadas.
Ao entrarmos em casa, Meli me chama até o quarto, dizendo que precisa da minha ajuda.
— Keiko, você devia contar para essa garota sobre os seus poderes. - seu tom é sério e seu olhar firme. - Vocês se conhecem a tanto tempo, se ela vai estar sempre por perto de nós, ela precisa saber.
— Não, não tem necessidade disso. - várias vezes eu já pensei nisso, mas sempre me parece estúpido.
— Você precisa, ou você pode perder uma preciosa amiga por não confiar nela. - aquele olhar penetrante é suficiente para me convencer.
Voltamos para a sala, Jeanne está sentada perto da bancada tomando suco, eu me sento do outro lado, ficando de frente para ela.— Que foi? Aconteceu algo? Você está me olhando estranho.
Minhas mãos estão frias, as palavras me fogem, minha visão está ficando bagunçada, por poucos segundos eu tenho um relance do dia em que conheci Jeanne, respiro fundo, tudo ao meu redor parece desacelerar.
— Jeanne, eu tenho algo para te contar. Eu posso viajar no tempo.
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Melodia Distante: Volume 1
FantasyEste é o primeiro volume de outros volumes que virão. Keiko é um colegial que sempre foi inseguro e distante das pessoas, com exceção de poucos amigos, sua maior paixão é a música, a qual sempre fez parte de sua vida. Mas sua vida acaba mudando ao...