Depois do ocorrido, passaram-se cinco dias, e como de costume, via o céu ganhar novas cores na "morte" do sol. Coincidentemente, o horário que sempre encontrava o jardineiro, nada. Assumo que estava começando a ficar preocupado de ele ter contado para alguém e estragado tudo, geralmente, meus dias eram monótonos e regados de tédio, então, aquilo não me impressionava, nem um pouco
_Maria?_retruquei ao ouvir a porta fechar atrás de mim, alguem acabara de entrar sem bater_Olá, Froy, está deitado. A essa hora?_com as roupas muito bem dobradas em mãos, a moça abriu o closet, separando-as por cor_normalmente está pendurado na janela, olhando o sol
_É, estaria, na verdade até parei, e olhei. Mas algumas coisas precisam de um tempo, me entende? Minha mente está cheia, de outras coisas
_Você está pensando demais, isso me assusta_com um meio sorriso, a moça se aproximou, tocando meu cabelo, negando com a cabeça_estou lá em baixo. Qualquer coisa, é só gritar!
Antes que te respondesse, Maria saiu do quarto, batendo a porta, imediatamente, a tranquei e levantei da cama, cambaleando até as cortinas, afastando-as. Para que tivesse uma ampla visão do jardim, era a centésima vez que estava ali, debruçado no mármore, com os olhos atentos, sem piscar, de pupilas dilatadas, fitando os arredores do jardim, que tão bem conhecia. Não sei de onde aquela paranóia vinha, mas o fato de não o encontrar, só atiçava meus pensamentos, despertando minha curiosidade "e se meu pai tivesse o demitido?", "talvez Rosie tivesse descoberto" "e se..."
"Para de pensar, Froy, está bom!" Sentei na borda da cama e liguei o rádio, encarando a parede oposta à mim,batucando com o pé no carpete, fechando meus olhos. A tão desejada paz mental estava presente, tão presente que acabei dormindo. Não que fosse uma hora apropriada, ou que acabasse com toda minha paranóia, eu simplesmente apaguei, minutos, talvez horas se passaram e um barulho alto, vindo da área externa da minha casa me despertou. Apesar do susto, levantei com certa pressa, era o carro do papai!
Correndo, desci a escada que cortava a sala, abrindo a porta da frente, e assumo que o que vi, me surpreendeu, era a última coisa que esperava ver hoje!_papai?_franzi a testa, me aproximando do seu carro, me escorando em uma das portas, a fechada_você, saindo para pescar com ele? Não sabia que eram amigos!
_pois é!_ele riu, olhando o rapaz ao seu lado, que carregava o balde e algumas varas_eu e Andrew tivemos uma conversa hoje, pela manhã e vi que temos alguns pontos em comum, decidi fazer um convite!
_Ah, que ótimo, você... amigo do Andrew_encarei o rapaz, fuzilando-o com meu olhar, em seguida, desviando um sorriso fraco (o que implicitava meu desespero) para meu pai, chutando algumas pedrinhas do jardim cruzando os braços
_Não é demais, filho? Vocês podem ser amigos também!_ele me olhou, em seguida, o Andrew, sorribdo sugestivo, só esperando uma resposta de algum de nós dois
_Nós já nos conhecemos, Sean, melhor do que imagina, não é, Froy?
_É, talvez sim, só conversamos uma vez, quando a Rosie deixou ele aqui de babá, como se eu precisasse_aquele momento, meu coração quase saiu pela bouca. Por pouco, Andrew traria à tona o que, atualmente era meu maior segredo, acabando com nossa "amizade" e alguns outros vínculos
Os meus complexos só se fortaleceram, depois de ter presenciado a breve conversa, não saí da cola de nenhum dos dois, vez por outra, rindo quando falavam do time de futebol rival, já que torciam para o mesmo, coincidentemente, mesmo me sentindo meio deslocado. Mas, em contrapartida, o tempo passou rápido, e logo, o jardineiro recolheu suas sacolas e foi embora no trator do papai, estranho, aquela proximidade me inquietava!
_Papai_chamei sua atenção enquanto nos dirigíamos para casa, segurando em seu braço e deitando em seu ombro, como sempre fazia_Vocês conversaram lá?
_Está muito preocupado com isso, Froy!_ele riu, enquanto partia em direção ao barzinho que havia na sala, ligando o som retrô que mais parecia um objeto de decoração, bebendo rum, de pernas cruzadas no sofá_claro que nos falamos, até porque, saímos a tarde toda para pescar
_Que seja, vou voltar lá pra cima, Maria deve estar lá no quarto_antes que saísse da sala, me dirigi em sua direção e beijei sua bochecha, apesar do mal cheiro do rum, fazendo careta devido àquilo_eu te amo, papai
Roendo as unhas de nervosismo, de uma forma literal, subi para o quarto, me jogando esparramado na cama, tendo aquela overdose de pensamentos costumeira, apesar de odiar aquela sensação terrível continuei ali por um bom tempo, encarando as paredes, em silêncio. Mas não um silêncio interno, meus pensamentos tomaram conta de mim, de fato "e se me descobrissem, o que fariam?"
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One For The Road
Fanfic"Eu previ isso desde o início O chocalho agitado As rachaduras nas persianas pretas (...) Eu pensei que estava escuro lá fora"