Um hotel na Paulista

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Meu carro estava próximo ao elevador, privilégio de diretoria, eu sabia que estava assustando a garota a arrastando assim, mas eu precisava me movimentar para pensar. Pedi que entrasse no carro e assim que ela colocou o sinto eu acelerei e me dirigi a saída do prédio, quando me coloquei na avenida, não sabia para onde ir.

Sim eu poderia ir para a minha casa, mas ainda estava lúcida, eu não conhecia a garota. entrei a primeira direita e dei de cara com um hotel, alguns clientes da empresa se hospedavam ali quando vinham a cidade, então quando me apresentei e solicitei um quarto não tive problemas para conseguir uma boa suíte, eu só precisava conversar então nem prestei atenção ao quarto escolhido.

Uma vez no quarto, me apossei da mesa, abri computador, liguei para o escritório estabeleci conexão com Alice e comecei a trabalhar, peguei o telefone e liguei para a Maura uma amiga minha médica pedi que viesse me ver urgente no hotel e trouxesse kits de exame, ela chegaria em quinze minutos, assim disse. Andrea estava calada, diria até que assustada, mas eu estava deixando a Bárbara prática agir.

******

Quinze minutos depois Maura entra no quarto, preocupada me abraça me dá um beijo rápido nos lábios como sempre faz quando me vê, começa a me inspecionar como se pudesse identificar o que havia de errado comigo. Eu a acalmei, afastado ela e os toques dela para que pudesse me ouvir.

-- Maura, calma, eu estou bem, parece que o problema é minha filha.

-- Sério? Você está grávida, eu não trouxe kit gravidez. Me olhou arrasada. Ai eu ri, consegui me descontrair por um segundo.

-- Andrea, vem aqui por favor. Maura, esta é a minha filha.

Nunca vi Maura tão pálida, os olhos arregalados, confusos e indagadores.

-- Como assim, da ultima vez que te vi você não tinha nem um pet, e agora uma filha deste tamanho. Você poderia adotar uma mais nova não? Ela brincava mesmo quando estava séria e assustada.

-- Na verdade eu já fui adotada. Disse Andrea meio sem jeito.

-- Mau, a história é um pouco longa, o resumo é este, ela é minha filha, eu a tive quando estava na faculdade e ela foi adotada. Agora ela voltou, precisa de minha ajuda para um transplante de medula, e eu preciso que você faça os exames.

-- Não é tão simples assim Barbie, preciso entender direito o caso dela. Você tem seus exames garota? Assumia a doutora.

-- Tenho, mas estão com a minha mãe. - Ela olha pra mim. - Como eu disse ela está vindo com eles, acabei de dar o endereço para ela. E ela está vindo furiosa.

Era evidente o medo que eu via nos olhos da garota, de repente temi pela minha segurança também.

-- Furiosa ou armada nem ligo, eu só preciso dos exames. Me ajuda estes são os últimos atualizados neh? Se estamos falando de medula é coisa séria. O que você tem?

Eu gostava da doutora tomando as rédias, deixei as duas conversando e voltei para o meu trabalho, eu queria me inteirar mas me dei conta que para fazer o que a garota pedia, precisava antes adiantar alguns trabalhos.

A conversa no quarto transcorria normalmente, parecia que Maura fazia um interrogatório detalhado, penso que se não fosse médica poderia ser polícial. Foquei nos meus relatórios as horas corriam e parece que nós duas estavamos tendo êxito em nossos afazeres.

Conhecia Maura a uns cinco anos, ela não era minha namorada era mais uma amizade colorida, uma pessoa com quem conversar sobre tudo, mas sem o stress do relacionamento, eu não tinha tempo para isso e ela menos ainda, ela praticamente morava no hospital e eu no escritório e exatamente por isso nos dávamos tão bem.

Não sei precisar quanto tempo se passou, ela saiu do quarto sorriu para mim, pegou o telefone interno e pediu o almoço para três, só então me dei conta que já passava um pouco da hora do almoço. Eu esqueço de comer quando focada. Sorri para ela e voltei para as minhas planilhas, ela voltou para a paciente.

Pouco tempo depois, ouço batidas na porta, levanto para receber o almoço pego algum dinheiro na carteira e abro a porta com o meu sorriso educado, que morre aos poucos quando encaro a mulher a minha frente.

Ela estava usando uma calça social preta de cintura baixa um cinto fino que evidenciava suas curvas, uma camisa de seda rosa, e nos braços um blazer curto dobrado, os olhos intensos e negros, olhos que eu jamais esqueceria e reconheceria em qualquer lugar do mundo. Sim, ela estava mais velha os anos foram generosos com ela, trouxe calma as suas feições, mesmo eu reconhecendo a ira nas suas sobrancelhas cerradas, a boca carnuda formando um fino traço de quem está perdendo a paciência me vendo parada e calada a sua frente. Eu estava congelada, hipnotizada. Não conseguia entender depois de tanto tempo Ela ali na minha frente, toda ela, tão poderosa como sempre. 

Três Corações [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora