Cap.1- Um mar de tristezas

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Eu estava ensopada e sentindo a fúria crescendo dentro de mim enquanto dois assistentes corriam com panos para tentar, em vão, me secar. As câmeras foram desligadas e eu continuava imóvel e muda, sentia que se eu desse um passo seria para voar na senhora em que jogou um balde cheio de água em mim.

Richard, meu câmera me olhava chocado e tentando segurar o riso e eu já podia sentir meu rosto ficando vermelho de ódio. Respirei fundo e caminhei até o carro de imprensa e sentei-me, tremendo.

— Tome um copo de água Rachel, você precisa se acalmar — Marcela, minha editora chefe se mantinha calma mas sabia a gafe que seria se vazasse na mídia uma repórter sendo impedida de fazer seu trabalho por causa de uma mãe que achava injusto seu filho criminoso aparecer em TV aberta, eu viraria piada nacional. Bufei

— Isso é um absurdo! — Senti as lágrimas querendo se manifestar e então calei-me, eu não iria chorar.

— Pegue um táxi e vá para casa e amanhã não precisa trabalhar, descanse querida, imagino como deve estar se sentindo mal mas não se preocupe, a filmagem já foi apagada. Só ficará em nossas lembranças e quem sabe, um dia poderemos rir disso, não é mesmo? — Piscou para mim e me deu um sorriso acolhedor e foi em direção a esquipe de filmagem que não sabia o que fazer.

Apertei o botão do elevador para ir até o quinto andar, onde eu morava há cerca de três anos com meu marido. Me encolhi no fundo daquela grande caixa de metal enquanto outras duas pessoas também entravam. Eu me sentia sem dignidade alguma, o que pensariam de uma mulher completamente encharcada em um dia em que não está chovendo? Conferi meu andar e pulei para fora, enquanto sentia os olhares em minhas costas. Demorou uma eternidade até que eu conseguisse achar a chave do apartamento, eu queria simplesmente que aquele mar de coisas ruins em minha vida acabasse logo.

Pedro, assim como todos os dias estava largado no sofá, jogando em seu vídeo-game. Mal notou minha presença, o jogo parecia mil vezes mais interessante que sua mulher.

— Oi — Disse desanimada

Sem desgrudar da tela da TV ele respondeu um oi seco e continuou sua partida.

Bufei e segui até o banheiro, tirei minhas roupas molhadas e enrolei meu cabelo em uma toalha e depois voltei a cozinha, além de frustada com minha carreira e casamento eu ainda estava com fome e se eu não preparasse algo, eu e meu querido companheiro não jantaríamos.

Coloquei um pouco de macarrão para cozinhar e preparei o molho.

— Pedro, você pode desligar o fogo quando o nosso jantar estiver pronto? — Perguntei do outro lado da copa, olhando séria para ele, que me respondeu com um aceno de cabeça.

Entrei no banheiro e abri a torneira da banheira e enquanto esperava ela encher eu me permiti chorar. Em outros tempos eu riria da situação de estar levando um banho em horário de trabalho e faria questão de colocar na mídia, ainda que eu virasse meme mas naquele momento da minha vida, aquilo foi somente a vírgula que bastava para destruir um texto inteiro.

Meu casamento era o maior motivo de eu não conseguir dormir bem e de não estar mais contente com todo o resto. Eu e Pedro estávamos juntos a cinco anos, dois de namoro e três de casamento. Um casamento que sempre fora maravilhoso e que aparentemente era perfeito. Eu não podia querer nada mais da vida do que um esposo como ele; além de lindo, era inteligente e carismático, formávamos o casal mais bonito da nossa turma de amigos.

E do dia para a noite tudo mudou, as flores cessaram, os cafés da manhã na cama não existiam mais e a frequência de beijos e "eu te amo" caiu para quase zero. No começo pensei que era apenas uma fase, uma fase que passaria com o tempo, mas que não passou e este, o tempo só serviu para afastar ainda mais nós dois.

Era como se estivéssemos nos aturando, de um ano para cá tudo mudou, Pedro agora era um marido ausente, não me ajudava mais em nada, passava a maior parte do tempo em seu escritório de advocacia e quando chegava do trabalho mal conversávamos e íamos dormir, cada um para o seu lado. Doía muito ver o nosso casamento desmoronando e eu já estava cansada demais para lutar por isso e cansada demais de levar tudo nas costas, como se eu aguentasse todo o peso de um casamento frustrado sobre mim.

Sai do banho e vesti um baby doll rosa de seda e prendi meus cabelos molhados em um rabo de cavalo desajeitado, depois eu os secaria. Nos servi e o chamei para jantar.

— E então? Como foi no trabalho? — Era a primeira vez no dia em que olhava para mim. Suspirei

— Não muito bom, uma senhora me deu um banho hoje , literalmente, durante uma reportagem.

Ele abriu a boca e gargalhou e eu o olhei desacreditada

— Desculpa amor mas isso é bem engraçado

Senti meus olhos marejarem e limpei uma lágrima que insistia em cair. Tá, aquela risada tinha sido coisa boba mas me machucou profundamente e então tentei mudar de assunto.

— E como estão as coisas no escritório?

— Ah, normal, muitas papeladas, muitos processos para resolver mas finalmente consegui uma nova secretaria depois que Meire foi embora.

— Que bom — Forcei um sorriso. Eu gostava de Meire mas ela decidiu se demitir repentinamente e Pedro nunca me contará o porquê, talvez ele também não soubesse.

Depois de jantar recolhi nossa louça e as lavei e em seguida fomos nos deitar. O abracei e ele permaneceu imóvel, como se não tivesse sentido meu toque sobre si.

— Eu sinto saudades de você— Disse já com a voz embargada

— Não precisa, eu estou bem aqui, do seu lado. Agora apague o abajur querida, eu preciso dormir.

Eu queria saber para onde teria ido o amor da minha vida, o homem que minhas amigas invejavam e que eu tinha orgulho de chamar de marido. O homem que eu tinha a honra de dividir a vida, a casa, a mesa e o banho. Meu coração se afundava em tristeza e eu sentia um imenso medo de que, este homem, que agora estava deitado ao meu lado, não fosse mais o mesmo pelo qual me apaixonei.

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⏰ Última atualização: Feb 01, 2019 ⏰

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