Capítulo 08

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Aideen

Minha irmã partiu com meus pais logo após o entardecer. Era para ter sido pela manhã, mas Brice, me vendo chorosa, insistiu para que eles ficassem um pouco mais. Para não levantar suspeita, mas muito a contra gosto, Alistair concordou. Mal sabia Brice que as lágrimas eram por causa de Annabel.

Chorei durante toda a madrugada nos braços de Annabel. Ela tentava me acalmar dizendo que eu ficaria bem. Odiava a cada dia mais a minha vida. Odiava minha mãe mais do que tudo no mundo. Agora, odiava Alistair também. A cada instante que a noite se estendia anunciando o amanhecer, eu praguejava contra minha mãe.

— Bom dia! – Rose me cumprimentou com seu sorriso sarcástico.

Respirei fundo ao ouvir a voz enfadonha de Rose, que resolveu ficar me provocando desde a partida de meus pais no dia anterior. A última coisa que eu queria naquele momento era ter de lidar com aquela garota.

— Bom dia! – respondi sem entusiasmo.

Estava vestida com a camisola que Annabel me dera de presente. Não a tirava desde a noite anterior. Alistair passara o restante da noite de núpcias fira e a noite de ontem também. Sempre me virava sozinha na hora de me vestir. Não precisava de uma criada; não queria uma criada e, definitivamente, não queria Rose perto de mim.

Rose colocou as coisas que trazia nas mãos, em cima de um aparador próximo à janela.

— Meu senhor pediu, que eu a ajudasse a se aprontar para o café da manhã. – ela disse caminhando em minha direção. – Aqui não servimos nada nos quartos, a não ser que esteja doente ou morrendo.

Ela piscou para mim de forma irônica.

— Não está morrendo, está?

Aquele tom sarcástico me irritou.

— Pensei ter deixado claro que não se dirigisse a mim em momento algum. – respondi entre os dentes. – Quero que fique claro que não tolerarei esses risos ou palavras sarcásticas. Devo adverti-la mais uma vez que fique em silêncio ou se retire.

Rose arregalou os olhos me encarando de forma incrédula. Era nítido que ela não gostava de mim e eu pouco me importava.

— Estamos entendidas?

— Sim, senhora! – ela respondeu com a voz baixa e contrariada.

— Ótimo! – disse me encaminhando até onde ela deixara as coisas. – Agora, se me der licença, prefiro me arrumar sozinha. Diga a seu senhor que não estou com fome e que ficarei aqui o restante do dia.

— Mas...

— Fui clara ou precisa que eu repita?

Rose me fuzilou com o olhar e então se virou para sair.

— Não, senhora! – ela sussurrou antes de bater a porta com força.

Respirando fundo, mirei meu reflexo no espelho. Meus olhos estavam vermelhos e inchados, assim como meus lábios que estavam mais carmim do que de costume. Os cabelos estavam desgrenhados e havia muita tristeza em meu olhar. Eu não sabia quando conseguiria me livrar daquele sentimento e preferi não pensar muito naquele momento. Indo até o baú que fora deixado em meu quarto, duas noites antes, peguei um vestido azul-claro e estendi sobre a cama. Voltando para frente do espelho prendi o cabelo no alto da cabeça e comecei a desatar o corpete da camisola. Fechei meus olhos quando a primeira cicatriz na altura dos ombros tornou-se visível. Fui deslizando o tecido lentamente até prendê-lo em volta da cintura. Como de costume, tapei os seios com os braços e virei de costas para o espelho. Abri meus olhos para olhar por cima do ombro na esperança de tudo não ter passado de um sonho e que aquelas cicatrizes horrendas não estivessem ali, porém, mais uma vez eu as vi cobrindo toda a extensão até minha cintura. Lágrimas vieram em meus olhos ao me lembrar da ocasião em que eu as ganhei. Não haveria magia suficiente para retirar aquelas marcas. Nem mesmo as bruxas antigas conseguiriam fazer com que aquilo desaparecesse.

Trilogia Irmãs MacBride - Livro 01 - A rainha (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora