You really don't care

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E mais uma vez eu deixava a lamina deslizar por minha pele. Aquela sensação de alivio invadiu meu corpo, fazendo-me suspirar.

Ouvi a porta do banheiro bater, a voz fina e aguda entrou em meus ouvidos.

- Caroline, está tudo bem? - Mamãe perguntou, e pelo seu tom de voz percebi que estava nervosa.

- Si-sim... - gaguejei. Respira fundo, e não se corta novamente! Não agora.

- CAROL? - dessa vez ela gritou.

- O que foi? - minha voz saiu um pouco abafada por conta do choro e da dor.

Eu não aguentava mais sofrer Bullying, hoje o pessoal me trancou no armário, eu achei que iria morrer naquele lugar apertado, mas por conta do meu desespero e dos meus gritos eu fui salva pelo faxineira.

Levantei-me já zonza e abri a torneira da pia deixando a água levar todo sangue embora.

Sequei com a toalha e puxei a manga do casaco, cobrindo os cortes. Girei a maçaneta da porta e minha mãe estava sentada na beira da cama me encarando com os olhos esbugalhados.

- O que foi? - perguntei com a voz mais fria do mundo.

Sabe o que mais me irrita? O fato dela só se importar comigo nas piores horas, parece que para ela eu não existo! Minha mãe e meu pai não ficam em casa nem cinco dias seguidos, é sempre "trabalho, trabalho, trabalho", sinceramente acho que nunca irei ter pais presentes em minha vida, e isso machuca, muito.

- Você estava fazendo o que no banheiro? - suas mãos mexiam-se freneticamente.

- Usando o vaso sanitário, talvez? - respondi, sendo um tanto irônica.

- CAROLINE, SERÁ QUE DA PARA VOCÊ ME TRATAR COM RESPEITO PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA? EU TE DOU CARINHO, E VOCÊ SÓ ME VEM COM PATADA! - meu queixo foi ao chão.

- OLHA AQUI, EU ATÉ PODERIA TE DAR RESPEITO, ACONTECE QUE VOCÊ NÃO MERECE! NUNCA ESTÁ PRESENTE NA MINHA VIDA, E PROVAVELMENTE NUNCA VAI ESTAR. E SE VOCÊ CHAMA O JEITO QUE VOCÊ ME TRATA DE CARINHO, NOSSOS CONCEITOS SOBRE ESSA PALAVRA SÃO BEM DIFERENTES.

Saí batendo a porta do quarto. Desci as escadas de casa correndo e fui para rua. Todos me encaravam como se eu fosse uma alienígena, as lágrimas não paravam de escorrer por minha pele, eu sentia meus pulsos dilatando como se estivessem pedindo "Me cortem! Por favor!", mas eu não conseguiria fazer isso nesse momento.

Na esquina do quarteirão que eu estava, havia um Starbucks. Entrei agitada com lágrimas nos olhos e fui caminhando para uma mesa longe de pessoas. Sentei-me em uma que dava vista para a janela, ao meu lado havia apenas um garoto que aparentava ter uns 17 ou 18 anos.

Enterrei minha cabeça nas mãos e chorei mais ainda, ninguém parecia ligar. Afinal, eu sou um nada. Sou feia, gorda, não tenho amigos, meus pais me odeiam, nunca tive um namorado, sou virgem com 16 anos, e ainda por cima me corto e sofro de bulimia. Quem gostaria de uma pessoas assim? Pois é... Acho que nenhum ser humano. Talvez um alienígena estranho.

- Olá? Está tudo bem? Precisa de ajuda? - me deparei de frente para o garoto que a dois segundos atrás estava sentado a mesa ao lado.

Seus cabelos eram cacheados e castanhos, seus olhos eram do verde mais profundo que eu já havia visto em toda minha vida. Porém, não tive a oportunidade de ver seu sorriso, pois sua expressão estava assustada.

- Me conte, o que aconteceu com você? - retornou a perguntar.

- Você não iria gostar de saber - falei, olhando no fundo de seus olhos, sentindo lágrimas quentes deslizarem por minha pele. - NINGUÉM IA!

You really don't careOnde histórias criam vida. Descubra agora