Blood In The Dance Floor

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PRÓLOGO.

- Você veio, Michael! - Suzy exclamou sorrindo e abrindo os braços.
- Não tenho mais como escapar - sorri nervoso e a abracei. Fechei os olhos ao sentir o cheiro de seus cabelos.
- O destino é sábio, Michael. Ele te trouxe aqui - falou ao se soltar de meus braços.
- Então, ele é cruel - comentei baixo, esperando que ela não ouvisse. Mas estamos falando de Suzy e ela escuta tudo o que quisesse escutar.
- Vamos, se sente - sentei ao seu lado no sofá aveludado. Haviam vários copos cheios de bebida espalhados pela mesa. Peguei um e experimentei do líquido.
Doce e perigoso. Como Suzy.
- Como vai seu filho? - Ela perguntou sorrindo sugestivamente. Me segurei para não matá-la ali mesmo.
- Vai bem - tentei sustentar minha pose de indiferença, porém minha voz vacilou. Sua falsidade me deixava ainda mais irritado.
- Por quê está mentindo? - Seus lábios vermelho-sangue ajeitaram-se num sorriso quase diabólico.
Olhei direto em seus olhos, e no momento seguinte me arrependi de tal ato.
- Vejo que não quer estender a noite, não é mesmo? - Ela perguntou levantando uma sobrancelha. Meu coração acelerou de imediato. - Ou você prefere curtir a música um pouco?
Seu corpo balançou no ritmo da canção que soava alta por todo o ambiente. Abaixei a cabeça e sequei minhas mãos suadas em minha calça.
- Ei, Michael. Você vai ficar bem - seus braços envolveram meu pescoço.
- Já aceitei meu fim - admito.
- Ah, mas assim não é divertido - zombou, me lançando um doce sorriso.
Respirei fundo e tomei mais um copo cheio daquela bebida doce e vermelha.
- Vamos acabar com isso - puxei-a pela mão e subimos as escadas do estabelecimento.
Passamos por vários corredores e portas.
Aquele caminho, eu já conhecia há muito tempo, tantas as vezes que visitei o lugar para logo depois fugir com uma desculpa qualquer.
Paramos em frente à uma porta branca, a qual Suzy mais gostava.
Com um sorriso no rosto, ela retirou uma chave de dentro do busto de seu vestido.
Revirei os olhos. Não poderia ser mais previsível.
Ao a porta ser aberta, respirei fundo. Um frio subia pela espinha.
- Pare com essa bobeira, Mike. Você já veio aqui e não ficou tão assustado dessa maneira - ela ainda sorria quando acendeu as luzes, as quais refletiram fortemente nas lâminas das armas e facas organizadas palas paredes.
- Não tem como me acostumar com isso - engoli em seco olhando para os objetos.
- Eu me acostumei - fechou a porta.
- Porque é fria - justifiquei.
- Tanto faz. Escolha uma - ela andava pelo quarto me pressionando a escolher uma das facas que pendiam na maior parede. - Essas são minhas preferidas. Lhe dou as honras.
Respirei fundo.
- Não tem como eu escolher algo como isso. Faça você.
- Tudo bem. Vejamos - suspirou. - Bem, você foi muito irresponsável no passado. Dormiu com a filha de um rico empresário e a engravidou, fugiu sem ao menos oferecer algum tipo de ajuda. Depois, quando ela o encontrou de novo, seis anos depois, continuou com o mesmo comportamento. Ah, quase ia me esquecendo. Você teve a artimanha de roubar o pai da mãe do seu filho.
- Chega! - Gritei. - Não precisa relembrar esses fatos. Ainda mais em voz alta.
- Michael, Michael. Essa é sua história, queira você ou não - Suzy ergueu um canivete em frente de meus olhos. Me assustei e dei um passo para trás.
- Eu sei.
- Então, não devia falar comigo assim - ela se aproximou como uma felina.
- Sua ligações já me torturaram o bastante. Acabe logo com isso - levantei minha cabeça para que ela passasse de uma vez a lâmina afiada do pequeno objeto pelo meu pescoço.
O metal encostou em minha pele. Senti o suor escorrer de minha testa.
Suzy riu. Melhor, gargalhou.
- Não seja bobinho, Michael - retirou o canivete de perto de mim. - Você é especial - sussurrou em meu ouvido.
Ela abriu a porta novamente e me puxou pelos corredores até alcançarmos a pista de dança.
- O quê fazemos aqui? - Perguntei confuso, tentando desviar dos corpos dançantes e quentes.
- Já disse. Você é especial.
Suzy dançava à minha volta e sorria quando meus olhos apavorados se encontravam com os seus, felinos.
Eu esperava pelo pior. Estava me preparando, silenciosamente, para o meu trágico fim.
- Você sabia que ela iria se vingar. Você foi ingênuo, Michael - Suzy segurou em meus ombros enquanto ainda movia seu corpo.
- Eu sei - minha voz tremelicou. E não tentei esconder isso. Estava com medo, apavorado.
- Relaxa - abriu meu blazer e passou suas mãos pela minha camisa de botões. - Vai ser rapidinho. Isso é o certo.
Fechei meus olhos fortemente quando o canivete encostou em meu peito. Fez um pequeno corte.
- Meu Deus! - Uma lágrima escorreu pelo canto dos olhos.
- Adeus, Mike - Suzy disse. Abri meus olhos, mas nada vi.
Minha visão escureceu e a dor em meu peito me fez gritar.
O canivete havia sido encravado em minha carne.
Escorria sangue do local ferido. Olhei para minhas mãos e estavam embebidas do líquido espesso.
Suzy já não mais sorria, mas dançava. Ela dançava à minha volta enquanto eu era visitado pela morte.
O canivete em sua mão continha meu sangue fresco.
As pessoas não se importavam com minha situação.
Me vi sozinho em meio àquela multidão.
Só eu e o sangue na pista de dança.

*conto inspirado na música Blood in the Dance Floor de Michael Jackson.

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