1976

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Era só início da manhã, mas a sensação de liberdade era forte demais para se permitir mais horas na cama. Sua vitalidade e sua força estavam de volta junto com a ainda tímida luz do sol que banhava sua janela.
Alice estava parada no alto do primeiro degrau da escada de sua varanda. Eram apenas cinco degraus, mas ao colocar seus pes no segundo degrau, não era mais um simples movimento, eles seguiam um ritmo, um tilintar de sinos que vinha a sua mente e só ela podia ouvir. Suas galochas feitas de borracha cor de rosa batiam na escada de madeira. Tump, tump, tump, tump. Segundo, terceiro, quarto,  quinto degrau. O som ritmado dos seus pés cessam. Mas os sinos na sua cabeça não. 

-- Alice, não va muito longe - a voz arrastada de sono de seu pai não demonstrava verdadeira preocupação enquanto Alice dava seus primeiros passos em direção a sua liberdade. A terra e a grama sobre os pes de Alice ainda guardavam memórias do final daquele outono chuvoso. Ela nunca gostara da chuva, a impedia de explorar. A primavera era sua estação mais amada e mais amado ainda era o lugar atrás de sua casa, seu bosque, seu lugar secreto. 

-- Tudo bem pai. - ela respondeu distraída. Algo requeria demais sua atenção. Os sinos. Isso a chamava.
Passando pelas primeiras árvores e adentrando mais no bosque o som começava a ressoar junto com as batidas do seu coração de criança, acelerando-o a ponto de suas mãos começaram a ficar úmidas e gotículas de suor frio se formarem sobre seus lábios. Sua sensação de liberdade agora havia se transformado em um sentimento de caça. Em seus breves 11 anos de vida ela nunca havia sido afligida por essa ânsia. 
Seus pés a levaram para cima e para baixo de  troncos de árvores caídas e para fora da trilha que ela e seu pai percorriam tantas e tantas vezes. 

-- Alice?! 

A chamada de seu pai quase a fez perder o frenesi e seus passos vacilaram por alguns momentos. Agora um pouco confusa de onde deveria ir por instinto ela fecha seus olhos. Um rastro de sons e cores aparece sobre suas pálpebras. Quando abre seus olhos ela está certa de onde deve ir, que árvore contornar, que tronco de árvore deveria pular. Suas galochas antes cor de rosa agora estavam com uma cor argenta de lama e musgo.  Uma vez que o tilintar de sinos era suave, agora ressoava em sua cabeça como uma sinfonia completa, e isso era tudo que ela podia ouvir. Os sinos, o zumbido em seus ouvidos e o bum, bum, bum frenético do seu coração. 

Ela cai de joelhos. 

Seus dedos imediatamente se enterram na terra úmida e escura. 
Ela nunca pensou que agradeceria pela chuva do outono, senão ela nunca conseguiria puxar tanta terra, vegetação rasteira e raízes para fora. Com o coração na garganta finalmente suas mãos encontram algo macio demais para ser um pedra, porem frio demais para ser um animal.

De súbito ela se põe de pé e encara.

Enquanto ela encara de volta  com seus esqualidos olhos vítreos

Alice havia achado seu primeiro corpo.

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Um novo Cap. No próximo domingo.
Dá estrelinha? Comenta? Vou adorar!
Bjsss



Alice e os Sinais da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora