1994 - Detroit - Michigan

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"Mais um assassino em série foi encontrado essa madrugada em sua casa. Em sua residência foram encontrados refrigeradores com corpos de garotas de idades entre quinze e vinte dois anos. A polícia ainda não tem pistas de quem anda fazendo denuncias anônimas, mas... " Havia exatamente 18 parafusos e 8 porcas no seu ventilador de teto que girava tediosamente sobre sua cabeça enquanto o som de seu rádio despertador ainda cuspia as notícias matinais. Mais uma noite insone. E haveria mais noites como essas ate que seus corpos, aquelas quatro garotas, fossem dignamente sepultadas e enterradas. Enquanto isso não acontecesse seu ventilador de teto de quatro pás com seus dezoito parafusos e oito porcas seriam seu consolo e distração.
Se ela fechasse os olhos com força ainda conseguia ouvir, ainda conseguiria sentir aquele som vibrando em sua pele. E ainda havia o cheiro. Por Deus, o cheiro acre e perturbador que vinha de uma das garotas assassinadas. O mesmo odor que vinha do ar ao redor dele, o mesmo odor que o acompanharia no resto de sua vida. Sua marca de assassino

Chega!

Ela não podia mais suportar viver essa agonia que era lembrar dele (afinal a polícia já tinha feito seu trabalho e ele estava preso) e ainda ter que esperar os corpos serem enterrados para ter seu momento de paz. Alice não entendia, assim como muitas outras coisas, o porque de seu estado de espírito entrar em colapso até que os corpos que ela encontrava não terem o devido cortejo. Mas simplesmente era assim, era desse jeito a mais de dezenove anos.
                                               
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As ruas apinhadas de gente fazia o caminhar em linha reta um exercício dificil de se cumprir. Detroit vivia o inicio de uma era de ouro com a chegada do MGM Grand Detroit e dos grandes casinos. A cidade pulsava com rostos novos que entravam em saiam da cafeteria onde Alice trabalhava como garçonete.

- Kate, pode atender à mesa cinco, por favor?

- Claro.

A mesa cinco era composta por quatro policiais. Sim, os caras bons também eram assassinos e consequentemente tinham suas marcas. Ela sentiu assim que eles passaram pela porta. Alice estava evitando marcas, pelo menos evitando dar rosto a elas.
Era por volta do meio dia quando ela sentiu aquele cheiro acre e pungente, aquele som arrastado de novo. Não, não pode ser! Ele esta preso... Não está?!
O homem alto e corpulento toma assento em um canto afastado. O pânico gela o sangue de Alice e por impulso ela sai pelos fundos do café e corre em direção ao seu apartamento. Chegando lá as pressas ela faz as malas. Era hora de passar um tempo fora e ir para o único lugar onde se sentia segura. A Carolina do Norte.

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O bosque surpreendentemente ainda era o mesmo, e até  cheirava como mesmo e isso era reconfortante em meio ao turbilhão de incertezas que a cercavam. Alice andava a esmo entrando e saindo da trilha enquanto as imagens do primeiro corpo que achara dançavam em sua mente. O choque que seu pai havia sofrido ao ver o corpo e pior ainda foi o medo e o pavor em ver que a filha parecia em transe olhando para garota morta de quase a mesma idade que a filha.

Um CRAC alto a tira de seus devaneios.

-Pai?

-Você achou mesmo que não te vi na cafeteria?

Agua gelada parecia correr nas veias de Alice. Ela gira ao redor procurando pelo dono da voz, até que ela o vê encima de uma árvore distante o suficiente para que ela não sentisse sua presença. Ele salta da árvore e com um baque surdo ele cai no chão. Enquanto ele se ergue  ela o reconhece, era o mesmo homem que ela havia rastreado.

Alice vê a oportunidade de correr, mas não consegue ir muito longe, em poucas passadas ele a alcança e a agarra pelos cabelos. Por mais que estivesse tentando não gritar um som esganiçado sai de sua garganta. A última coisa que ela queria era atrair seu velho pai ate ali.
Ele a empurra no chão com força o suficiente para arrancar o ar de seus pulmões. Alice rola o corpo tentando se proteger da violência que estava prestes a sofrer. As botas com biqueira de aço cravaram no seu flanco com força.  Alice sentia o sangue subir a sua garganta.

Então ele começou a falar. Ela não poderia morrer sem saber o porquê, poderia? Seria crueldade demais.

-Eu vi você, sua putinha... acha que não vi você rondando a casa? Não vi você enquanto eu atraia a garota para aquela fábrica vazia? Enquanto meu irmão a matava?

Ela não pode deixar de rir de si mesma. Um comparsa. Um irmão. E desta vez um irmão gemeo. Alice estúpida. Era por isso que eles tinham o mesmo cheiro nojento, eles agiram juntos. Ele atraia a presa enquanto o irmão era o assassino.

-Como você sabia? Como você sabia onde nos encontrar? Como você sabia que meu irmão e eu iríamos sair para caçar?

Ela simplesmente não se importou como iria parecer loucura, mas ja que estava prestes a morrer qual era o ponto?

- Ela cuspiu sangue antes de falar - Você fede a gente morta!                                                                                        
Isso pareceu despertar algo nele, sua mão puxa uma navalha do bolso e aperta sobre a garganta dela.

- Então vou unir o cheiro da sua morte em mim. - ele sussurrou em seu ouvido.

Um fio de sangue corria sobre o seu pescoço e ela ergue os olhos para copa das árvores absorvendo a visão do seu bosque amado.

O estampido de um tiro seguido por um grito quebra a tranquilidade que havia se apoderado de Alice. Seu agressor tropeça para trás soltando-a. Ele se escora numa árvore segurando o braço ferido.

- Alice! - seu pai corre ao seu auxílio enquanto ela tomba para frente perdendo a força em suas pernas.

- Pai - um sussurro franco sai dos seus labios enxagues. Antes de que seu pai a ajude a ficar de pé é empurrado de lado e sua arma cai nos pes de Alice. O assassino volta sua força para ela mas não antes que a mesma pegue a arma. Em um ato tão antigo e quase universal de autopreservação ela atira. Dois tiros bastam. Ele cai aos seus pés com um olhar de pavor. Na medida que a vida deixa o assassino ela sente. Alice sente como se um fina camada de névoa a encobrisse dos pes a cabeça e um gosto doce e enjoativo toca sua lingua.

Alice agora estava marcada. Marcada como uma assassina.

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Putz deveria ter postado no domingo, me desculpem!
Espero que gostem! Tem muuuuita coisa pra acontecer! Domingo to de volta.
Comenta? Dá uma estrelinha? Vou adorar!
Besosss

Alice e os Sinais da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora